Pela segunda vez em poucos meses, um fenômeno acontece no “mundo da desinformação”. Primeiro, um país da América do Sul passa por uma eleição importante e, assim como cá, cheia de fake news. Curiosamente, essas fake news não “rompem fronteiras” e não chegam por aqui.
Depois disso, as eleições acabam e o “candidato de esquerda” vence (o que tem sido uma tendência, com raras exceções, na região). A partir daí, muitas fake news que circularam nas eleições somadas a novas balelas começam a circular por aqui.
Isso ocorreu no caso da eleição no Chile (que teve a vitória de Gabriel Boric) e está se repetindo nos últimos dias depois da vitória de Gustavo Petro na Colômbia (poderíamos citar outros exemplos como de Alberto Fernández na Argentina, mas vamos ficar nestes dois). Na última semana, tivemos que desmentir três fake news sobre ele no Boatos.org.
Uma das notícias falsas apontava para uma suposta foto de Gustavo Petro com Pablo Escobar. A imagem, que circulou durante o pleito na Colômbia, não passava de uma montagem das mais grotescas. Outra história falsa que viralizou nas eleições e veio para cá “com delay” é a que aponta que Gustavo Petro teria “prometido” desapropriar e compartilhar casas com mais de 65m² no país.
Por fim, uma história nova “lá e cá”: ela apontava que Gustavo Petro havia prometido soltar “todos os presos do país”. A fake news se baseou em um discurso no qual ele pedia a libertação de pessoas presas nos protestos contra o governo do país (e não criminosos do país).
Esse movimento aqui no Brasil diz muito mais sobre as eleições de outubro por aqui do que sobre eleições em outros países. É possível chegar a essa conclusão usando um pouco de lógica: se houvesse uma campanha para que Gustavo Petro “perdesse” as eleições, as fake news circulariam (assim como ocorreu no caso das eleições norte-americanas) durante o pleito e não depois.
Na realidade, a intuito das últimas desinformações é tentar pintar um “quadro caótico” com a eleição de um presidente de esquerda para que as pessoas “rumem” para a direita (ou seja, para Bolsonaro) nas eleições presidenciais do Brasil.
Há algum tempo, falamos sobre o processo e demos o nome de “venezualização”. A ideia por trás disso é simples: apontar que se um líder de esquerda vencer (seja no Brasil ou em outro país), a nação em questão se transformará em uma “Venezuela” (país que dispensa comentários).
A retórica só teria validade se fosse baseada em dados reais, o que não ocorre. Porém, a verdade, de momento, é uma só: com Gabriel Boric o Chile continua sendo o Chile (mais à esquerda, apenas), com Gustavo Petro a Colômbia continua sendo a Colômbia (mais à esquerda) e, no caso da vitória de Lula, o Brasil continuará sendo o Brasil (mais à esquerda). Ninguém vai “virar a Venezuela”.
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Desde o início de 2021, o Boatos.org promove a seção “A Semana em Fakes”, com análises sobre assuntos relacionados a fake news. O conteúdo é aberto para republicação em veículos de mídia. No momento, publicamos o conteúdo no Jorn., Portal Metrópoles, Portal T5, Conexão Marília, O Anhanguera e RP10 (caso tenha interesse, entre em contato com o Boatos.org para saber as condições). Para ver todos os textos da seção, clique aqui.