Desde a metade de abril, a Agência Nacional de Energia Elétrica (ANEEL) anunciou bandeira verde para os consumidores de energia elétrica, o que representa menor tarifa e uma redução média de 20% no valor da conta de luz. Mas, recentemente, ela aprovou reajustes em 11 Estados brasileiros em valores entre 8% e 24% e a Câmara dos Deputados aprovou urgência do projeto de decreto legislativo que suspende reajustes das distribuidoras de energia elétrica para este ano.
Pedro Luiz Côrtes, professor da Escola de Comunicações e Artes (ECA) e do Instituto de Energia e Ambiente (IEE) da USP, fala sobre a tendência das tarifas de energia elétrica para 2023 em entrevista ao Jornal da USP no Ar 1ª Edição. “Nós temos condições de manutenção da bandeira verde porque os reservatórios [de água] passaram por uma boa recuperação durante o verão e várias hidrelétricas conseguiram recuperar volume e passaram a operar normalmente”, reconhece o professor. Ele completa: “[Mas] há uma tendência de redução do volume dos reservatórios na região Sul, devido a um período de estiagem que já vem se estendendo”.
Côrtes afirma que a ideia de manter a bandeira verde até o fim de 2022, por parte do governo, é prematura, pois, para cobrir os prejuízos que as distribuidoras de energia elétrica tiveram ao cobrar menos que conseguiam pagar, o governo aprovou um empréstimo de mais de R$ 10 bilhões para elas, o que vai refletir nas contas de luz no ano que vem. “Na prática, o que os políticos estão fazendo é tentar retardar o máximo possível aumentos que já estavam previstos. Após as eleições, a tendência é que a gente tenha uma conta [de luz] menos agressiva, mais suave, mas tudo será repassado para 2023”, revela.
Outros agravantes
O professor também alerta para a situação da guerra na Ucrânia, a qual pode interferir nas tarifas de energia. Ele contextualiza: “A bandeira verde continua sendo aplicada mesmo que as condições nas usinas hidrelétricas não permitam. Então, nós teremos um acionamento maior das termoelétricas. Muitas delas são movidas a óleo combustível e a gás natural, que são commodities cujo preço está muito alto internacionalmente. E não há indicação de que a guerra termine rapidamente, o que vai continuar pressionando o valor das cotações dos combustíveis”, complementa.
Segundo Côrtes, caso esse custo não seja repassado, as distribuidoras devem iniciar um programa de “desinvestimento” em infraestrutura e manutenção. Isso irá reduzir também a qualidade do suprimento e irá aumentar o número de falhas e cortes de energia, resultando em outros problemas. O professor se diz favorável a uma auditoria para verificar se os aumentos entre 8% e 24% são realmente pertinentes.