Órgãos de um homem de 30 anos, de Birigui, que teve morte encefálica constatada na manhã de ontem (22/5) foram captados nesta segunda-feira por equipes do Incor e Hospital Albert Einstein, de São Paulo, e do Hospital de Base de São José do Rio Preto.
O paciente deu entrada na Santa Casa de Araçatuba no dia 12 de maio, em quadro clinico grave em decorrência de traumatismo cranioencefálico causado em um acidente de trabalho. Apesar dos tratamentos ministrados pela equipe médica o quadro clinico não foi revertido e o paciente entrou em protocolo para investigação de morte encefálica que constatou o óbito.
O protocolo consiste em vários exames realizados em etapas que variam de 24 a 48 e analisados por médicos de diversas especialidades.
Os pais do paciente foram informados por integrantes da Comissão Intra-Hospitalar de Doação de Órgãos e Tecidos para Transplantes (CIHDOTT) da Santa Casa, sobre a morte encefálica constatada pela investigação. Mesmo em momento de profunda dor, autorizaram a doação dos órgãos.
Pela compatibilidade constatada pela Central Nacional de órgãos foram coletados coração, pulmões, rins e córneas que beneficiarão seis pacientes que estão na fila à espera de transplantes. Foi a terceira captação de multiórgãos do ano real e a primeira de coleta de pulmões e coração.
Os rins foram captados pela equipe do Hospital de Base de São José do Rio Preto. As córneas foram coletadas pelo enfermeiro Mateus Tonon e encaminhadas também para o HB.
Aviões apreendidos de traficantes na corrida contra o tempo
A captação começou por volta das 14h. A primeira equipe a entrar no centro cirúrgico foi a de cirurgiões do Hospital Albert Eisten que retiraram os pulmões. Esse órgão tem que ser transplantados entre 4 a 6 horas após serem retirados.
O coração foi captado em seguida pela equipe do Incor de São Paulo coordenada pelo cirurgião Ronaldo Honorato. O cirurgião destacou a importância do trabalho realizado pela Santa Casa de Araçatuba junto a familiares de pacientes em morte cerebral.
“O momento é de dor para elas e o amor que demonstraram ao doar órgãos do ente querido é de importância imensurável, pois vai representar esperança de vida para pessoas que vivem a angustia de morrer a qualquer momento caso não consigam ser transplantadas a tempo de reverter uma doença grave”, afirmou Honorato.
Integrante da equipe de transplantes do Instituto do Coração de São Paulo, o cirurgião informou que de janeiro a maio, já realizaram um total 32 transplantes de coração, 28 dos quais em adultos e 4 pediátricos. De acordo com Honorato, a taxa média de sobrevida de um transplantado de coração é de 88%.
Após ser retirado, órgão precisa ser transplantado em no máximo 4 horas. Por isso, captação, traslado e chegada de um coração na sala cirúrgica para ser transplantado exige logística estruturada e sincronizada que pode envolver dezenas de pessoas em todos os elos.
Para realizar o 29º transplante, a equipe do Incor utilizou ontem (23/5) uma logística completamente diferente das demais. Normalmente, o traslado da equipe do Incor para as cidades com pacientes doares e o retorno à capital é realizada por avião da Força Área Brasileira (FAB).
Porém nesta segunda-feira, o avião estava em Canoas (RS) e as condições do tempo não eram favoráveis para decolagens.
“Fizemos um contato com a Policia Civil de São Paulo que disponibilizou uma aeronave que havia sido apreendida em uma ação de combate ao narcotráfico e está devidamente incorporada à frota que a Policia utiliza em suas operações”, informou Honorato.
De acordo com o cirurgião está foi a primeira vez que o avião foi utilizado em uma ação que vai representar vida nova para um paciente.
Por coincidência o coração que será transplantado no inicio da noite desta segunda-feira, chegará a tempo no Incor também pelo auxilio de outra aeronave confiscada de traficantes de drogas.
“Fomos informados que ao desembarcarmos em São Paulo seremos transportados até o heliporto do Incor, por um helicóptero que foi confiscado de traficantes e incorporado à frota da Policia Civil”, informou o cirurgião.