O presidente da Associação dos Delegados de Polícia do Estado de São Paulo (ADPESP) Gustavo Mesquita Galvão Bueno lamentou a morte do colega Marcos Roberto Alves da Costa, mas destacou que se trata de uma tragédia anunciada.
“Temos hoje um déficit de 15 mil profissionais na Polícia Civil paulista, temos policiais trabalhando por dois ou três. Esse acúmulo é ainda mais grave no interior do estado, na medida em que os colegas delegados precisam se deslocar entre os municípios com frequência, e, muitas vezes, o fazem sozinhos por não ter qualquer equipe de apoio – como nesse caso”, detalha.
Costa atuava na Central de Polícia Judiciária (CPJ) de Araçatuba e também era responsável pela delegacia de Gastão Vidigal. O delegado e ex-vereador foi encontrado morto dentro de uma viatura descaracterizada em um córrego no distrito de Vicentinópolis. Ele teria saído de casa por volta da meia-noite de hoje para atender uma ocorrência em Gastão Vidigal.
O presidente do Sindicato dos Delegados alerta, ainda, que o sobreaviso tem sido outro problema crítico enfrentado pelos policiais civis paulistas. Nesse regime, o policial permanece à disposição do trabalho 24h/dia, sete dias por semana, sem direito a período de descanso ou lazer.
“No início do ano estivemos no interior do estado, inclusive na região de Araçatuba, e ouvimos muitos relatos de delegados que fazem 30 dias de sobreaviso ininterruptos. Isso é um absurdo, é desumano. Não à toa temos um índice altíssimo evasão e de suicídio na Polícia Civil. Os policiais bandeirantes estão adoecendo”, destaca o presidente da Associação.
Abandono da Polícia Civil
Em novembro último, a ADPESP divulgou o resultado de um levantamento apontando que dois policiais civis abandonaram a carreira por dia, em média, no estado de São Paulo no período 2018-2021. “Sem um planejamento estruturado e factível para recomposição do déficit e valorização dos policiais, SP está enxugando gelo. Permanecemos formando bons profissionais e perdendo-os para os outros Estados, que remuneram melhor”, esclarece Mesquita.
Outro levantamento realizado pela Associação apontou que o suicídio entre policiais civis de SP registra índice epidêmico, sendo quase três vezes maior do que as mortes em serviço. Entre 2015-2021, 61 policiais civis tiraram a própria vida. No mesmo período, foram 21 policiais civis mortos enquanto trabalhavam.
“Diariamente, os policiais civis convivem com as mazelas e angústias do ser humano e encaram a morte, em defesa de todos os cidadãos. É sempre motivo de tristeza quando perdemos um irmão policial em serviço. Todavia, pouco se fala daqueles que tiram a própria vida. O número de suicídios na Polícia Civil paulista é assustador”, lamenta o presidente da ADPESP.