O problema da violência sexual de crianças e adolescentes ainda é gravíssimo no Brasil. Dados do Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos (MMFDH) apontam que, em 2020, mais de 6 mil denúncias de violência sexual de crianças e adolescentes foram registradas no Disque 100. O fato de boa parte dos abusos se dar na própria casa da vítima (e por uma pessoa próxima a ela) torna o problema de resolução mais difícil ainda.
Tudo que informamos no parágrafo acima é referente ao mundo real. Porém, no que chamamos de “mundo das fake news”, a questão seria de resolução muito mais simples: bastaria “enxotar” a (de acordo com quem espalha desinformação) “esquerda pedófila” do poder.
Não é a primeira vez que o A Semana em Fakes aponta como temas sensíveis viram combustível para desinformação. No ano passado, lembramos como lorotas como as do “Kit Gay”, da “mamadeira de piroca” e das “bonecas trans” angariam eleitores mais conservadores (e, principalmente, ingênuos) e ajudaram no crescimento da direita do Brasil nas últimas eleições presidenciais.
Na ocasião, previmos que 2022 seria um ano recheado de fake news do tipo. Esta semana foi um bom exemplo disso. Duas notícias falsas relacionadas ao assunto dominaram as redes sociais nos últimos dias.
Na ocasião, previmos que 2022 seria um ano recheado de fake news do tipo. Esta semana foi um bom exemplo disso. Duas notícias falsas relacionadas ao assunto dominaram as redes sociais nos últimos dias.
Uma delas, suscitada por uma decisão judicial que em nenhum momento valeria como “prova” de que a tese apresentada era verdadeira, aponta que o deputado federal Túlio Gadêlha (também chamado de “namorado de Fátima Bernardes”) queria aprovar a legalização do incesto no Brasil.
Detalhes: apesar da notícia ser reverberada até por políticos influentes em redes sociais, a acusação é repleta de erros. 1) O projeto citado sequer é de Túlio Gadelha. 2) Em nenhum momento, o projeto prevê a “legalização de casamento entre pais e filhos”. 3) Mesmo tendo sido desmentida lá em 2019, a fake news voltou a circular.
A segunda fake news que circulou nos últimos dias é “quase nova”. Falamos quase porque ela é referente a um filme que está completando cinco anos em 2022. No último fim de semana, muitos “influenciadores conservadores” (alguns que, inclusive, também compartilharam a fake news sobre Túlio Gadêlha) começaram a atacar o ator Fábio Porchat por uma cena no filme “Como se tornar o Pior Aluno da Escola”.
De acordo com a acusação, a cena faria “apologia à pedofilia”. Só que, mesmo a cena (e a piada contida nela) ser de gosto muito duvidoso, não há apologia à pedofilia nela. Muito menos, ela significa que o ator que a fez (um crítico ao governo Bolsonaro) seja “pedófilo”.
Como falamos no início do texto, o abuso sexual de crianças e adolescentes é um problema gravíssimo. Sua solução perpassa por ferramentas que possibilite que denúncias sejam feitas com segurança, garantias de segurança para vítimas e, principalmente, educação. Não só para que crianças tenham consciência dos abusos como também para que elas cresçam com a consciência de que esse é um problema.
Calar sobre o assunto ou, pior, atribuir a culpa, de forma falsa, apenas a um grupo político não ajuda em nada (só ajuda a eleger falsos moralistas). Se fazer com que um grupo específico chegasse ao poder fosse a solução do problema, seria uma questão resolvida, tá OK?
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Desde o início de 2021, o Boatos.org promove a seção “A Semana em Fakes”, com análises sobre assuntos relacionados a fake news. O conteúdo é aberto para republicação em veículos de mídia. No momento, publicamos o conteúdo no Jorn., Portal Metrópoles, Portal T5, Conexão Marília, O Anhanguera e RP10 (caso tenha interesse, entre em contato com o Boatos.org para saber as condições). Para ver todos os textos da seção, clique aqui.