A guerra entre Rússia e Ucrânia jogou ainda mais incerteza no mercado de fertilizantes, compostos essenciais para a produção agrícola de Araçatuba e região. O produto, que registrou uma alta de 240% no preço, no ano passado, após a queda na fabricação de ureia pela China, sofreu nova alta após o conflito e ficou 30% mais caro após o início do conflito, em 24 de fevereiro.
Bielo Rússia suspende exportação
Não bastasse a quebra na produção da China, outro fator preocupante é que a Bielo Rússia suspendeu a exportação de cloreto de potássio para o Brasil, porque o escoamento foi proibido pela Lituânia, que fechou as fronteiras após o começo da guerra no Leste Europeu.
A Bielo Rússia é grande exportadora do produto para o Brasil, sendo responsável por mais de 20% do cloreto de potássio utilizado pelo agronegócio brasileiro. “Além desta incerteza que a guerra trouxe, tem problema no mercado físico. Empresas que compram commodities, como a Cargil e a Bunge, enfrentam problemas logísticos. A Cargil até fechou o seu escritório na Ucrânia”, ponderou.
Transportadoras suspendem atividades na Rússia
O governo da Rússia recomendou que fabricantes de fertilizantes do país paralisem temporariamente a exportação para o exterior.
Segundo o comunicado, a medida é motivada pela desagregação na logística de exportação decorrente das sanções severas sofridas pela Rússia após a ofensiva militar na Ucrânia. O governo russo afirma que transportadoras internacionais suspenderam as atividades no país, prejudicando o escoamento do insumo.
“Falhas no embarque de fertilizantes podem afetar diretamente a segurança nacional de vários países e causar graves consequências na forma de escassez de alimentos para centenas de milhões de pessoas já no médio prazo”, diz a nota do Ministério da Indústria e Comércio.
Navio é atingido no Mar Negro
Na semana passada, a multinacional norte-americana que é uma das maiores fornecedoras de alimentos do mundo, informou que um de seus navios foi atingido por um projétil na costa da Ucrânia, no Mar Negro. Ninguém se feriu.
“Tem um problema logístico aí. As embarcações saem de navio via Mar Negro para a Europa e precisam passar por uma zona de conflito. Esta é uma variável negativa”, afirmou o assessor de investimentos Wit Invest, Antonio Ricardo Carneiro Filho, de São José do Rio Preto.
Produtor deve focar no seu negócio
O presidente do Siran (Sindicato Rural da Alta Noroeste), Thomas Rocco, disse que os produtores da região de Araçatuba estão preocupados com o aumento que impacta os custos de produção e, consequentemente, vai chegar à mesa do consumidor. “A alta vai acontecer e essa escassez de fertilizantes pode afetar a partir do segundo semestre“, afirmou.
No entanto, o líder ruralista entende que o produtor tem que olhar para a sua propriedade e focar no seu negócio.
“As notícias são alarmantes e o medo paralisa. Neste momento, é hora do produtor olhar o seu custo de produção, ver o que tem de insumo, olhar o seu fluxo de caixa e procurar oportunidades de compra de adubo por um preço competitivo, que ainda existe no mercado”, ponderou.
Conforme ele, o custo de produção de um hectare de soja, que era de R$ 2,5 mil a R$ 3 mil no ano passado, hoje está estimado em R$ 4,5 mil a R$ 5 mil. Segundo ele, além do problema da escassez de fertilizantes, há também uma crise no mercado de defensivos agrícolas.
Safra de verão gera preocupação
Conforme afirmou a ministra da Agricultura, Tereza Cristina, em entrevista à imprensa nesta semana, o estoque de passagem brasileiro dá até para o mês de setembro deste ano.
A ministra lembrou que a safrinha de milho já está em produção. “Então, o que precisava de fertilizante já chegou, já está com o produtor rural. Neste momento não temos problema. A safra de verão é uma preocupação”, disse. Ela acrescentou, entretanto, que o setor privado confirmou a existência de estoque de passagem de fertilizantes suficiente até setembro.
Governo busca novos fornecedores
Em meio à crise, a ministra da Agricultura disse que vai ao Canadá tentar negociar a demanda de fertilizantes. Segundo ela, o impacto ao consumidor depende do tempo da guerra. Sem esses produtos, a tendência é que a oferta vai fazer disparar o preço dos alimentos.
Na tentativa de garantir a oferta para a safra de verão, que se inicia em outubro, a diplomacia brasileira vem trabalhando para buscar novos fornecedores no Irã e no Canadá
“O preço do trigo subiu lá nas alturas porque a Ucrânia é um grande produtor e isso influencia o mercado global. A gente acha que terá uma alta, sim. Quanto? A soja já subiu, já caiu um pouco. O milho já subiu, já caiu um pouco. A gente tem que acompanhar e diminuir os impactos”, afirmou.
Atualmente, o Brasil é o quarto consumidor global de fertilizantes, 80% de todo o produto usado na produção agrícola nacional vêm de fora do país.
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