Ao menos três proprietários de veículos foram vítimas do golpe do catalisador em Araçatuba neste mês. O crime, que se caracteriza como estelionato, consiste em convencer o dono do carro a fazer uma limpeza no escapamento, oferecendo dinheiro em troca da “sujeira”. No entanto, o golpista retira o catalisador, peça que tem como função diminuir a emissão de gases poluentes, para vender.
Uma peça nova custa entre R$ 900,00 e R$ 6 mil, dependendo do modelo do carro. O componente virou alvo dos marginais porque tem, em sua composição, metais nobres e caros, como platina, paládio e ródio. Este último, por exemplo, chega a custar R$ 6 mil o grama.
Uma das vítimas foi o comerciante Nilton Peçanha Palhano, 67 anos, que mora no Jardim América, em Araçatuba. Ele contou que recebeu uma ligação de sua filha dizendo que um rapaz que se identificou como Jones propôs “descarburizar” o escapamento, fazendo uma limpeza, sem custos. Ao contrário, a proposta foi pagar até R$ 200,00, se a quantidade de resíduos retirada chegasse a um quilo.
Palhano, embora não estivesse no local, concordou com a “limpeza”, mas só depois se deu conta que o catalisador de seu carro, um Ford Currier ano 2001, havia sido retirado. “Quando eu vi a tal sujeira, achei estranho, porque é algo que parece um favo de abelha, só que de ferro”.
Desconfiado, o comerciante passou a pesquisar e descobriu que se tratava do catalisador, que custa mais de R$ 1 mil. “Para completar, meu carro ficou com um barulho parecido com o de uma lata solta”, contou, dizendo que recebeu R$ 170,00 pela “sujeira” retirada do seu carro.
Sua filha,uma autônoma de 28 anos, foi quem teve contato com o golpista pela primeira vez, enquanto vendia churros na rua. O rapaz a abordou com a conversa de que iria limpar o escapamento do carro dela, uma Meriva ano 2005.
“Eu vi ele fazendo isso em outros carros, no Umuarama, quando ele se aproximou e me ofereceu o serviço”, contou.
Pela “sujeira” retirada, Thalita ganhou R$ 70,00. Para ela, o golpista disse que trabalhava para uma empresa denonimada de Toledo, localizada em São Paulo, que compraria estes resíduos para a confecção de próteses dentáriase pernas mecânicas.
“Ele fala que está ajudando os deficientes e ainda propões que a gente indicasse outras pessoas para fazer a limpeza. Por cada indicação, ele oferece R$ 20,00”, afirmou a autônoma, dizendo que o seu carro ficou com muito barulho após a ação do golpista.
Para captar “novos clientes”, o rapaz oferece os serviços pelas redes sociais, oferecendo até R$ 200,00 pelo quilo do “pó do escapamento”.
No caso da autônoma, a descoberta de que se tratava de um golpe ocorreu após conversar com um mecânico da família. Ela já identificou ao menos três pessoas que caíram no golpe, mas acredita que tenha muito mais vítimas, pois o homem percorre vários bairros da cidade abordando as pessoas. Thalita e seu pai devem procurar a polícia para registrar um boletim de ocorrência de estelionato.
Fraude
Um mecânico ouvido pela reportagem do RP10 explicou que o escapamento não precisa de limpeza. “Quando esta peça apresenta algum problema, o carro já apresentou uma avaria e é necessário trocar, não limpar”, afirmou. “Se aparecer alguém querendo limpar o escapamento do seu carro, caia fora porque é golpe”, emendou.
Conforme ele, o pó ou a “sujeira” sai do catalisador quando esta peça é quebrada. Os golpistas retiram estes resíduos para aproveitar os minérios existentes neste pó. “É uma fraude, eles retiram a peça para ter ganho”, alerta.
O catalisador, além de filtrar os poluentes, regula o consumo de combustível. Sem a peça, o carro passa a apresentar barulho, interfere na injeção eletrônica do veículo, que perde a potência e passa a consumir mais combustível.
Na Região
No ano passado, a policiais civis da Delegacia de Investigações Gerais (DIG) de Lins detiveram três homens de Santo André (SP) pela prática de estelionato e associação criminosa. Eles ludibriaram o proprietário de um veículo e retiraram o catalisador do automóvel. Na sequência, os policiais localizaram em uma casa, em Promissão, mais 15 sacos contendo catalisadores.