A partir desta sexta-feira (25), véspera do fim de semana que emenda no carnaval, quem mora em Limeira (SP) e quiser comida de restaurante em casa, vai ter de dar um jeito de buscar. Os entregadores de app da cidade do interior paulista estão de braços cruzados em protesto por melhores condições de trabalho.
Em seguida, no sábado (26) e domingo (27), a greve acontece também em Vitória (ES). “A gente está enriquecendo o bolso deles”, avalia Rafael Souza, se referindo aos donos do iFood. “E eles ganhando nas costas dos entregadores, dos estabelecimentos e dos clientes”, aponta o entregador que faz parte da mobilização na cidade.
Já no dia 6 de março paralisações estão agendadas para começar em Cuiabá (MT), Florianópolis (SC) e Rio Branco (AC). Entregador do iFood na capital de Santa Catarina, Jonas classifica as condições de trabalho como “precárias”. Segundo ele, “as taxas são baixas e o reajuste não vem há mais de um ano”.
Mudanças recentes nas lutas e na plataforma
Esses breques se inserem em um caldo de aumento das mobilizações da categoria que, cada vez mais frequentes, desde setembro de 2021 têm a característica de paralisar por vários dias.
Se contarmos uma greve que aconteceu em pleno ano novo em Mauá (SP), desde que entrou o ano de 2022 até os primeiros dias de março serão 10 greves de entregadores de app pelo país.
Elas já aconteceram em Mauá (SP), Piracicaba (SP), Goiânia (GO), Aparecida de Goiânia (GO), Manaus (AM) e Campo Grande (MS). Nenhuma delas, no entanto, conseguiu arrancar uma vitória significativa do ponto de vista das reivindicações.
As demandas principais são o aumento das taxas – atualmente o iFood paga o valor mínimo de R$ 5,31 por corrida -; o fim das entregas de dois ou mais pedidos em uma viagem só (também chamado de “rota dupla”); e o fim dos desligamentos de conta sem justificativa.
Além dessas reivindicações, as greves atualmente são uma reação a duas mudanças recentes implementadas pelo iFood, empresa hegemônica do ramo de delivery no país e, portanto, alvo principal das mobilizações de entregadores.
Subpraça e agendamento
No iFood, há dois modelos de cadastro de entregadores. Um, chamado de “Nuvem”, é aquele em que a pessoa define seu próprio horário de trabalho. O outro é o Operador Logístico (OL). Sua relação com o iFood é intermediada por uma empresa, que controla a conta da sua frota de entregadores. Estes têm jornada fixa agendada previamente.
Mais recentemente foi criada uma subcategoria dentro do OL. Chamados de “subpraça” ou “subárea”, esses entregadores fazem corridas apenas em uma área delimitada da cidade. Em geral, em bairros onde há demanda, mas menos preferência por parte de trabalhadores.
Acontece que, de acordo com trabalhadores “Nuvem” de diversas cidades – e eles representam, de acordo com o iFood, 80% dos entregadores cadastrados – ultimamente a plataforma tem direcionado a maioria dos pedidos para os “OL subpraça”.
Os grevistas de Goiânia (GO), por exemplo, afirmam que quem trabalha como “Nuvem” na cidade viu seu rendimento cair pela metade desde o início do ano. O novo cenário se agravou, segundo eles, com a decisão da UberEats de encerrar seu serviço de delivery de restaurantes no Brasil.
Outra novidade mal recebida foi a implementação feita pelo iFood, como teste, do formato de agendamento dos turnos de trabalho – mesmo para quem é “Nuvem”. Esse modelo já está em vigor em 16 cidades brasileiras.
Dia da mentira
Ao Brasil de Fato o iFood informou que estão “melhorando o planejamento de entregas com o objetivo de trazer mais previsibilidade para a operação e para os entregadores parceiros”.
“A proposta do aplicativo era você ser um entregador independente, que ligasse e desligasse a hora que você quisesse, mas não é bem isso que acontece”, critica Rafael.
Assim, o fim da categoria “subpraça” ou a divisão leal de pedidos entre as modalidades de entregadores, bem como o término do agendamento são reivindicações presentes nas greves que se espalham nesse ano de 2022.
Em nota, o iFood afirmou que “respeita o direito de manifestação” e que “mantém o diálogo aberto com os entregadores para buscar melhorias para os profissionais e para todo o ecossistema”.
Com o mote do dia da mentira, entregadores ventilam a possibilidade de fazer uma paralisação simultânea nacional no dia 1 de abril.