Ligações telefônicas interceptadas pela Polícia Civil de São Paulo e publicadas pelo jornal O Estado de São Paulo nesta terça-feira (15), mostram o presidente da Assembleia Legislativa do Estado (Alesp), Carlão Pignatari (PSDB), intermediando a entrega da administração de dois hospitais para organizações sociais do grupo médico Cleudson Garcia Montali, de Birigui, condenado a 200 anos de prisão por liderar uma organização criminosa envolvida no desvio de R$ 500 milhões da Saúde.
Segundo informações apuradas pelo do jornal, nas conversas, o médico, que hoje está preso, presta contas ao deputado de suas ações. Na época, ele já era investigado pela polícia e pelo Ministério Público Estadual.
De acordo com a reportagem do Estadão, Cleudson foi alvo da Operação Raio X, que apurou fraudes na gestão de hospitais de 27 cidades em quatro Estados – Pará, São Paulo, Paraíba e Paraná. A investigação durou dois anos antes de sua primeira fase ser deflagrada, em 2020, quando houve buscas no gabinete do governador do Pará, Helder Barbalho (MDB).
No começo do ano, a polícia concluiu nova fase da operação, cumprindo mandados de busca na casa do ex-governador Márcio França – pré-candidato do PSB ao Palácio dos Bandeirantes – e de outros alvos. O Estadão apurou que Pignatari não estava, até agora, entre os políticos investigados na operação.
O deputado participou da CPI das Organizações Sociais da Saúde, que investigou o setor e se encerrou em 17 de setembro de 2018. Era suplente, mas participava das sessões ativamente. Cleudson foi convocado e, em agosto de 2018, prestou depoimento aos parlamentares sobre investigações envolvendo a OSS Santa Casa de Birigui e sua atuação na contratação de organizações sociais por municípios paulistas. O médico negou irregularidades.
Passados oito meses do término da comissão, Pignatari foi flagrado fazendo pedidos para o homem apontado como líder do grupo criminoso que atuava no setor.
No dia 22 de maio de 2019, Cleudson telefonou para o deputado e ouviu uma solicitação. “Deixa eu te fazer um pedido, o prefeito de Santa Fé ‘tá’ com um problema sério na Santa Casa dele lá. ‘Cê’ não quer pedir pra alguém ‘dá’ uma olhada lá e vê se põe uma OS tua pra gerenciar aquilo?” O médico, que estava com o telefone interceptado com autorização da Justiça, respondeu: “Claro, claro. Só que eu.. O senhor pode me passar o telefone?”
A conversa durou 1 minuto e 45 segundos e foi incluída no inquérito da Operação Raio X, da Delegacia Seccional de Araçatuba, que tem 6 mil páginas. Ele foi desmembrado em diversas investigações que estão em Sorocaba, Santos, Carapicuíba e São Paulo após a Justiça de Birigui recusar ter competência universal sobre os casos.
O presidente da Assembleia Legislativa de São Paulo, deputado Carlão Pignatari (PSDB), afirmou ao Estadão, por meio de nota de sua assessoria, que “as supostas conversas questionadas pela reportagem são datadas de 2019, antes de qualquer denúncia ou suspeita pública contra o médico Cleudson Garcia Montali”. Destacou ainda que, à época das conversas, não era o presidente da Assembleia.
Ele disse que “não é investigado na Operação Raio X e que em nenhum momento foi alvo de diligências determinadas pela Justiça”. “O inquérito principal da operação inclusive já foi encerrado, resultando em mais de 160 novos inquéritos, sendo que o parlamentar não é investigado em nenhum deles. Não possui, portanto, qualquer relação com o caso.”
Por fim, a assessoria do tucano afirmou ser “importante destacar que o deputado Carlão Pignatari apoia a irrestrita investigação da Operação Raio X e reitera sua correta conduta em sua trajetória parlamentar”.
A reportagem do Estadão também procurou Ademir Maschio, ex-prefeito de Santa Fé do Sul, mas não conseguiu localizá-lo para tratar de seus contatos com o médico anestesiologista Cleudson Garcia Montali. Procurada, a defesa do médico também não foi localizada. Cleudson está preso, cumprindo duas condenações que, somadas, chegam a 200 anos de prisão.