Já são 159 os municípios do Rio Grande do Sul sob emergência devido à estiagem. Somente na primeira semana de janeiro, mais 29 deles se somaram ao quadro da seca que afeta principalmente as regiões Norte, Planalto Médio, Oeste, Centro e Missões. Para a Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural (Emater)/RS, é a pior seca do estado nos últimos 17 anos. Mais de cinco mil famílias de agricultores estão sem acesso à água até para uso nas casas.
No campo, os prejuízos estão espalhados pela produção de grãos, frutas, hortigranjeiros e leite. Considerando-se somente as perdas verificadas até agora nas culturas de milho (com 100% de perdas em vários municípios) e soja e levando-se em conta a expectativa para as duas safras, calcula-se uma queda de R$ 20 bilhões na comercialização.
“A situação é muito grave e tende a piorar”
Na próxima segunda-feira (10), a Frente Parlamentar da Agropecuária Gaúcha quer se reunir com o governador Eduardo Leite (PSDB), agora em férias, para pedir-lhe providências imediatas. Para o deputado estadual Edegar Pretto (PT), o governo estadual poderia ter previsto a situação e se antecipado. “O governador tem que chamar para si a responsabilidade e operar”, reparou.
“A situação é muito grave e tende a piorar”, previu o presidente da Frente, deputado estadual Elton Weber (PSB). “Precisamos urgentemente de estratégias mais amplas de enfrentamento pelos governos”, resumiu.
Devido ao agravamento do quadro, a Frente realizou uma reunião híbrida, ontem (6), juntando a Central Única dos Trabalhadores (CUT)-RS, dirigentes sindicais, representantes de movimentos sociais do campo, secretários do governo estadual, deputados, prefeitos, vereadores e agricultores.
“Emendas secretas”
No encontro, o presidente da Emater/RS, Alencar Rugeri, informou que as pastagens já somam 58% de perdas. São mais de 138 mil propriedades atingidas e um total de 5.475 famílias com dificuldades de acesso à água.
O coordenador da Frente Parlamentar Mista da Agricultura Familiar no Congresso, deputado federal Heitor Schuch (PSB/RS), sugeriu ao estado tentar acessar parte dos R$ 16,5 bilhões das chamadas “emendas secretas” do governo Bolsonaro.
“Não há salvação de forma isolada”
“Já estamos há três anos com estiagens e essa é a mais grave e isso piora quando os órgãos de governo não ajudam”, protestou Douglas Cenci, coordenador-geral da Federação dos Trabalhadores na Agricultura Familiar/RS (Fetraf/RS). “Quem conhece a realidade do campo sabe o quanto temos sofrido”, disse.
Na sua visão, é urgente um diálogo do governador com os deputados e as entidades. “Estamos propondo a criação de um comitê da estiagem que possa reunir todos esses setores para avaliar as situações e as medidas que serão tomadas de forma conjunta. Não há salvação de forma isolada”, advertiu.
“Tem família que vai passar fome e sede na roça”
Adelar Pretto, do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), criticou a lentidão do governo estadual em atender os agricultores. Propôs que seja votado o projeto de lei, PL nº 115/2021, que prevê um crédito emergencial para os agricultores gaúchos. Recomendou também “a operacionalização imediata do recurso de R$ 23 milhões a fundo perdido do BNDES, referente ao Plano Camponês, cuja contrapartida já foi aplicada pelo governo do estado em 2014”.
“É inadmissível que o governo diga que não tem recurso e só anunciar poço e açude”, enfatizou. “Precisamos de recurso para subsistência, pois tem família que vai passar fome e sede na roça”, avisou.
“Estado deve decretar emergência como fez o Paraná”
Cenci acentuou que “os anúncios feitos até agora não contemplam as necessidades e nem de longe atendem a nossa pauta”. E fez uma proposta: “É urgente que o Rio Grande do Sul decrete situação de emergência, como já fez o Paraná, cuja situação é menos grave que a nossa, e Santa Catarina já anunciou R$ 100 milhões”, defendeu.