O filósofo e cientista Fernando Schuler chama à reflexão e aponta para um novo ator no cenário político: “O homem comum”. O avanço tecnológico trouxe para a política o homem comum, enquanto instituições como entidades de classe, sindicatos, partidos e academias terão que dividir espaço com o cidadão, como nunca se viu antes. A democracia, por consequência, também será mais diversificada.
Para Schuler, a democracia será mais instável, polarizada e de difícil consenso, como já se nota no Brasil e em outros países considerados democráticos. Antes, as instituições promoviam um filtro ideológico nas eleições, mas agora tudo mudou e isso não mais será possível. Não se pode negar que quando milhões de pessoas na internet, nas redes sociais ou na rua buscam seus interesses – comuns ou não, apresentando suas ideias e temas, isso é uma nova forma de manifestação democrática.
Pouco importa se há discordância da maioria sobre determinado assunto ou se há pouca informação nesses movimentos, com mais barulho do que discernimento ou conteúdo. A guerra social-cultural está instalada e temas de toda a natureza estão em discussão. O pluralismo domina.
O que antes o Estado ou instituições constituídas podiam controlar, agora se tornou difícil ou impossível. Importa, assim, que a democracia mudou de cara e o novo ator nesse cenário real – o homem comum – não está mais sujeito aos filtros institucionais tradicionais e as ideologias de plantão. Schuler se refere também num de seus artigos à “Vetocracia”, conceito formulado pelo filósofo e economista americano, Francis Fukuyama.
Sobre esse fenômeno, afirma Schuler que: “De um lado há uma sociedade mais exigente de direitos e mais crítica, enquanto o sistema político está polarizado e com pouca capacidade de resposta”. Mesmo assim, não se trata de um declínio democrático.
O Poder é que foi fragmentado ou dividido e não a democracia propriamente. Pelo contrário, o homem comum agindo assim, expande a democracia, como um ser que acaba de chegar ao mundo pela gestação para mostrar sua “cara”. Nesse novo contexto, só o tempo dirá como será o formato da futura sociedade, das suas instituições e a relação daquela com o Estado.