Na madrugada de 30 de agosto deste ano (2021) Araçatubenses viveram momentos de terror em razão do mega-assalto em agências bancárias, que resultou em cinco mortes (dois cidadãos e três criminosos) e inúmeras pessoas feridas. A ousadia dos assaltantes e a violência empregada na execução do crime chamou a atenção do mundo, tanto que a imprensa dos principais países noticiou o fato. Os assaltantes usaram reféns como “escudo” e amarraram vítimas em veículos.
Os criminosos atacaram o Batalhão da Polícia Militar com tiros de fuzil, usaram drones para monitorar a chegada da polícia e espalharam explosivos pela região central da cidade – cerca de 98 artefatos. Veículos foram queimados em vários pontos do município e da região, para retardar a chegada da polícia.
Enfim, duas agências bancárias foram assaltadas e o caso está sob a responsabilidade da Polícia Federal, do Ministério Público Federal e da Justiça Federal. Depois do mega-assalto, segundo fontes da polícia, oito criminosos foram presos. Talvez esse assalto tenha sido o mais violento já ocorrido no Brasil.
A principal forma de o Estado enfrentar o crime organizado é eliminar suas fontes de renda, já que existem várias quadrilhas com esse perfil no Brasil. O crime já aconteceu e não há como mudar isso, mas, a reflexão que nos chama é se podemos extrair algo de positivo num contexto como esse.
Como escreveu Willian Shakespeare, na obra ´O Menestrel´: “Com o tempo se aprende que toda história ou situação sempre tem dois lados”. O “lado” que não pode ser esquecido, é que a segurança pública nos Estados e na União também se aparelha, possuindo armamento adequado, setores de inteligência e logística para enfrentar o crime organizado.
Não resolve armar o cidadão para o enfrentamento do crime, principalmente o organizado; para isso existe a segurança pública. Essa “briga” é do Estado e não do cidadão. Numa análise contextual desse fato ruim e triste, pouco se enfatizou sobre a ação da Polícia Militar, em especial, dos policiais militares do BAEP (Batalhão de Ações Especiais da Polícia Militar) em Araçatuba.
Esses agentes saíram do Batalhão ou de suas residências (quem estava de folga) naquela noite para cumprirem a missão de enfrentar criminosos de alta periculosidade, que utilizavam equipamentos, armas e técnicas de guerrilha. Esses valorosos policiais sabiam que precisavam reprimir o crime e proteger os cidadãos de bem (bens de instituições bancárias nesse contexto possuem importância secundária), mesmo sob iminente risco para suas vidas.
Deve ser ressaltado também que, com a pronta ação da Polícia Militar, houve intenso tiroteio por longo tempo e os criminosos empreenderam fuga, foram perseguidos e três deles foram mortos. A eficácia da reação imediata da PM fez com que vestígios do crime ficassem no local, como impressões digitais e material genético, contribuindo ainda mais para a investigação do caso, principalmente para esclarecer a autoria do crime. De tudo isso, fica a reflexão de que, se esse dia fatídico foi de terror, também o foi de profissionalismo e de heroísmo da Polícia Militar. Este “lado” merece ser mais destacado.
Adelmo Pinho é promotor de justiça em Araçatuba (SP)