Já virou parte do noticiário nos últimos meses: com a alta no preço do botijão de gás, famílias estão tentando improvisar na cozinha utilizando álcool, e os acidentes se tornam mais comuns a cada dia. A prática, no entanto, não é recomendada pelo Corpo de Bombeiros, e pode por a vida de todos que estão na residência – e também dos vizinhos – em risco.
“A gente tem dentro das residências médias brasileiras uma instalação direcionada para uso de GLP ou gás natural, que vem da rua, pela concessionária. Com isso, a gente já tem a cadeia produtiva desse sistema com instalações corretas, tubulações, fogões adaptados, forno, boca do fogão propriamente com local exclusivo para a panela, etc. Quando você faz uma alteração dessas, colocando um tipo de substância altamente inflamável com poder calorífico maior do que a gente tem costume, como o álcool, os acidentes acontecem”, explica o Major Palumbo, do Corpo de Bombeiros de São Paulo.
O major explica detalhadamente como o álcool pode ser perigoso no dia a dia – com a chama quase imperceptível e a evaporação acelerada, o efeito de “explosão” pode ser imediato, e muitas vezes, fatal.
“Via de regra, as pessoas não estão acostumadas com o poder calorífico do álcool. Quando você joga o álcool, antes de atear fogo, já teve uma mudança no estado físico de líquido para gasoso, e essa nuvem gasosa não é perceptível. Talvez a pessoa sinta o cheiro, mas ela está no seu entorno. A partir do momento que risca o fósforo, não vai riscar só na panela, a nuvem pode atingir o rosto, o corpo, partes da cozinha com uma cortina, um tapete, e começar um incêndio, e o pior, as pessoas se queimarem. A pessoa não percebe, ateia fogo e tem esse reflexo, como se fosse uma explosão que coloca a vida das pessoas em risco”, afirma.
O Major diz que a substituição não é recomendada, e não deve ser feita sob hipótese alguma, e orienta que, em caso de queimaduras, as pessoas devem utilizar apenas água corrente – nada de soluções caseiras, como creme dental. Se o ferimento for significativo, é preciso procurar um hospital.
“Não há possibilidade de substituição do gás. Ele não vai pegar fogo tão rápido, tem uma queima mais lenta, e a do álcool é mais poderosa, instantânea. A gente sempre atende casos de queimaduras quando as pessoas utilizam álcool de forma errada para acender churrasqueira. Pegam um vidro de álcool num percentual maior que 70, ou do posto de gasolina, e acabam colocando na churrasqueira”, exemplifica.
“Nesse momento acontece o mesmo fenômeno – ele tem uma rápida evaporação criando uma nuvem combustível. Quando vai atear fogo a nuvem está maior ainda, causando acidentes graves, queimaduras sérias. Tem queimadura, principalmente na região das vias aéreas, nariz e boca, muito graves, exigem assistência médica. Não é recomendado passar nenhum tipo de substância, só água corrente para cessar a sensação de queimadura. O fogo, o calor, vai ser amenizado com a água. Não passar parta de dente ou borra de café, e ir direto para o hospital. Muitas vezes você tem uma queimadura grande que pode provocar outros problemas, e precisa ser avaliado por um médico”, completa.
Álcool gel em casa
O Major Palumbo faz um alerta também para quem costuma utilizar o álcool 70% em casa. O álcool em gel, que virou item de primeira necessidade durante a pandemia, tem que ser usado com “cautela”, afirma.
“O álcool em gel ainda é uma substância que pega fogo. e tem possibilidade de fazer uma queima quase que completa, mas você não vê a chama. As pessoas acabam às vezes não percebendo, e usam uma abundante de álcool 70% em gel nas mãos, e entram em contato com a cozinha, ou acendem um cigarro. Enquanto isso, o álcool ainda está em evaporação. Uma superfície pode se tornar explosiva devido à evaporação do álcool 70%”, diz.
“No início da pandemia acidentes eram mais comuns, as pessoas utilizavam álcool em excesso nos braços, rosto, pernas, tentando fazer uma ‘pseudo-antissepsia’, para que não tivesse contato com o vírus, e registramos alguns acidentes. Importante deixar frisado que: em casa você usa o álcool líquido 70% para limpeza de superfícies. Guarde o álcool em gel para utilizar em pequenas quantidades nas mãos somente. Não é para passar no corpo inteiro. Se tiver que fazer alguma antissepsia a mais, no braço ou rosto, utilize água e sabão”, orienta. As informações são do portal iG.