O preço do etanol já sofre os efeitos da geada e da seca que atingiram os canaviais e provocaram uma quebra estimada em 20% na safra da cana-de-açúcar. Em Araçatuba, o biocombustível teve duas altas na bomba nas duas últimas semanas, passando dos R$ 3,999 para os R$ 4,199, aumento de 5%.
Nas usinas, o aumento é ainda maior, chegando aos 5,75%, segundo o indicador medido semanalmente pelo Cepea (Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada), da Esalq/USP. No dia 30 de julho, o produto era vendido a R$ 2,9675 às distribuidoras e, no dia 13 de agosto, data do último levantamento, era comercializado a R$ 3,1382.
A estimativa, segundo os especialistas, é de nova alta nos preços nos próximos dias, já que os estoques nas usinas seguem em baixa e a queda na produtividade da cana provocada pelos efeitos climáticos não permite uma produção maior.
Sem contar que os atraentes preços do açúcar no mercado futuro internacional fizeram com que as usinas firmassem grandes contratos com importadores e agora precisam direcionar a produção para o alimento, em detrimento do etanol.
Em um posto de combustível localizado na avenida Brasília, o litro do etanol era vendido na bomba, até o início de agosto, a R$ 3,999. Na semana passada, passou a ser comercializado a R$ 4,199, alta de 5%.
Em outro estabelecimento, na avenida Waldir Felizola de Moraes, em Araçatuba, o litro do etanol custava, no começo do mês, R$ 3,989, passando aos R$ 4,089 no dia 11, e agora, chegou aos R$ 4,149, para pagamento em dinheiro ou no débito. Quem opta pelo cartão de crédito, paga ainda mais caro – R$ 4,299 o litro.
O Regional Press fez um levantamento de preços e constantou que o preço do produto varia de R$ 4,099 a R$ 4,199. No entanto, segundo revendedores ouvidos pela reportagem, há previsão de novos aumentos para os próximos dias.
“A distribuidora já sinalizou que o preço do etanol vai subir R$ 0,11. E não tem como a gente segurar o valor na bomba, vamos ter de repassar”, afirmou um empresário que preferiu não se identificar.
Seca e geada
A estiagem prolongada é considerada a pior dos últimos 90 anos e a região de Araçatuba foi apontada em relatório da ANA (Agência Nacional de Águas) com risco de seca extrema.
Além da falta de chuva, a região também sofreu com duas geadas ocorridas entre os meses de junho e julho. O fenômeno climático destruiu lavouras de diversas culturas e a cana foi uma das atingidas
Gasolina acumula alta de 27,5% no ano
O preço da gasolina também subiu nos últimos dias, após a Petrobras anunciar um novo aumento nas refinarias, de R$ 0,09 (3,34%), passando aos R$ 2,78 o litro. Foi a nona alta no ano, que acumula 27,5% de aumento somente em 2021, segundo dados do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).
No caso da gasolina, os aumentos ocorrem devido à volatilidade (variação) no câmbio e no preço do barril do petróleo no mercado internacional. O preço final, na bomba, dedende ainda de outros fatores, como o ICMS (imposto estadual), custo de transporte e lucros dos postos.
Outro fator que interfere no preço da gasolina é o valor do etanol anidro, já que o derivado de petróleo tem 27% do biocombustível em sua composição. Segundo o Cepea, o preço do etanol anidro vem sofrendo altas consecutivas desde o dia 16 de julho, passando dos R$ 3,3848 para os atuais R$ 3,5733, alta de 5,56%.
Em Araçatuba, o litro da gasolina teve o último aumento na quinta-feira (12), quando sofreu um acréscimo de R$ 0,10. Hoje, o preço varia de R$ 5,799 a R$ 5,899.
Ajuste nos preços deteriora o poder aquisitivo das famílias
Para o economista, Marco Aurélio Barbosa de Souza, pesquisador na área de economia local e regional, o aumento do preço do etanol impacta no orçamento das famílias, trazendo desdobramento negativos em relação ao poder aquisitivo em um contexto de aceleração da inflação.
Souza explica que vários dos indicadores de inflação nacionais, em especial, o IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo), que é o índice oficial de inflação, calculado pelo IBGE, têm apresentando preocupante aceleração nos últimos meses, sendo que em 2021, o IPCA deve romper o teto da meta de inflação do Banco Central.
Este cenário, segundo ele, tem levando o Copom (Comitê de Política Monetária) do Banco Central a reajustar a taxa básica de juros (Taxa Selic) como instrumento de política monetária para tentar conter a escalada de preços.
“Resumindo, a inflação apresentada por bens e serviços, incluindo o ajuste no preço do etanol, deteriora o poder aquisitivo das famílias, aumentando o custo de vida e, consequentemente, gera a necessidade de adequações e ajustes do orçamento doméstico”, afirmou o economista.