O autônomo Guilherme Augusto Ramires Dias, 24 anos, foi feito refém dos bandidos que atacaram agências bancárias com explosivos e pesado armamento, na madrugada desta segunda-feira (30), em Araçatuba (SP), e relatou momentos de terror durante as mais de duas horas em que esteve sob a mira dos criminosos.
“Achei que fosse morrer por tiro ou capotamento. Ficamos horas sentados sob a mira de fuzis e depois nos colocaram no capô dos carros, em alta velocidade. Foram momentos de horror”, relatou à reportagem do Regional Press.
Dias voltava do trabalho, em um bar da avenida da Saudade, junto com o seu patrão, por volta da meia-noite, quando foram abordados por quatro bandidos, na rua General Osório, próximo ao calçadão da Princesa Isabel, centro da cidade.
Os criminosos ordenaram que deixassem a caminhonete em que estavam, tomaram os seus aparelhos celulares, mandaram que tirassem as camisetas e os mantiveram reféns por duas horas, no local, sob a mira de fuzis e explosivos. Segundo ele, havia cerca de 20 reféns em poder dos assaltantes.
Reféns ficaram em meio a tiroteios e bombas por duas horas
Conforme o autônomo, as vítimas ficaram em meio a tiroteios por duas horas. Ele conta que os bandidos estavam encapuzados, de bota e calça camuflada, se comunicavam por rádio e falavam em códigos, usando letras e números. Eles apresentavam muita habilidade no manuseio das armas e das bombas.
“Eles se referiam aos criminosos como R1, R2, R7, R3…Em determinado momento, um perguntou, pelo rádio: ‘Já recolheu o Banco do Brasil? Faltam sete minutos para recolher o Banco do Brasil'”, relata o refém, explicando que toda a ação era cronometrada. “Não eram amadores”, frisou.
Ainda conforme a vítima, os assaltantes acompanhavam toda a comunicação da Polícia Militar. “O rádio da Polícia foi interceptado por eles, que ouviam todas as ligações e tudo o que os policiais falavam”, contou.
O autônomo contou que viu várias bolsas de dinheiro e pôde ver o momento em que um morador de rua catou notas que se espalharam pela rua. “Os ladrões deixaram ele passar e ainda o alertaram para que desviasse de uma bomba para não se machucar.
Ele relata também que os criminosos se movimentavam pelo centro junto com os reféns e viu o momento em que os assaltantes instalaram uma bomba em cada esquina, com sensor verde. “Os bandidos estavam mais nervosos que os reféns e se comunicavam a todo momento entre eles, pelo rádio”, disse.
Vítimas foram usadas como escudos humanos
Após mais de duas horas em meio a tiroteios e explosivos, os reféns foram ordenados a se posicionarem nos capôs dos carros, sendo usados como escudos humanos. “Em cada carro tinha dois reféns. Uma pessoa foi amarrada no teto de um carro e outra na frente do capô, outras várias pessoas foram colocadas atrás de uma caminhonete”, relatou.
Dias contou que não chegou a ser amarrado, mas foi ordenado a subir no capô de um dos carros, importados e com alta potência. “Eles corriam muito, faziam curvas, eu tinha que me segurar para não cair, achei que fosse morrer em vários momentos, eu me segurava no capô para não cair e me machucar”.
Ele andou sobre o capô do centro de Araçatuba até o bairro rural Engenheiro Taveira, onde os reféns foram libertados, por volta das 2h30, e receberam os celulares de volta.
Em Taveira, os reféns conseguiram uma carona de um motorista de ônibus de uma usina de açúcar e álcool. Eles foram deixados próximos à Rodovia Eliezer Montenegro Magalhães, onde pediram ajuda em um motel e conseguiram falar com familiares para que os buscassem do local.
“Estou com muito medo. Jamais imaginei viver uma situação destas”, afirmou.
Ação criminosa teve início por volta da meia-noite
A maior ação criminosa já registrada em Araçatuba região e uma dos maiores do Estado teve início por volta da meia-noite e durou pouco mais de duas horas, entre tiroteios, explosões e fugas.
Os bandidos atacaram três agências bancárias e espalharam explosivos em pelo menos 20 pontos da cidade, principalmente na região central. Por causa disso, o comércio permaneceu fechado. As aulas nas escolas municipais e estaduais também foram suspensas.
Três mortes, três detidos e um gravemente ferido por explosivo
A ação criminosa provocou três mortes, de dois moradores e um criminoso. Três pessoas foram detidas. Uma delas, um homem de 38 anos, foi baleado nas pernas, braços e cabeça (raspão). Após passar por cirurgia, na Santa Casa de Araçatuba, foi extubado e segue em recuperação em quadro clínico estável e permanece com escolta policial.
Após os ataques, o secretário de Estado de Segurança Pública, general João Camilo Pires de Campos, esteve em Araçatuba acompanhado do comandante-geral da Polícia Militar, coronel Fernando Alencar Medeiros. Eles se reuniram com o prefeito Dilador Borges (PSDB), se solidarizaram com os familiares das vítimas e elogiaram a atuação da Polícia Militar local, que recebeu reforço de policiais de São José do Rio Preto, Ribeirão Preto, Presidente Prudente e Bauru.
Ao todo, 380 agentes da segurança pública atuam na identificação e captura dos criminososos.
Outras três pessoas foram baleadas e receberam atendimento na Santa Casa. São elas:
- Homem com 28 anos: baleado no abdome, o projétil transfixou e não houve necessidade cirúrgica; e um tiro em uma das mãos. O ferimento no membro superior foi grave e ele está passando por cirurgia neste momento. Foi ouvido antes pela Polícia, posto que o documento apresentado e a versão que ele contou sobre os ferimentos despertaram suspeitas nos policiais. Permanecerá com escolta policial até que os esclarecimentos sejam concluídos.
- Homem com 31 anos: Baleado na face e braços. Segue intubado e em avaliação pela especialidade. Quadro clinico grave, porém estável.
- Homem com 38 anos: baleado nas pernas, braços e cabeça (raspão). Quadro clínico: após passar pela cirurgia foi extubado e segue em Recuperação Pós-Cirúrgica em quadro clinico estável. Permanecerá com escolta policial.
Outra vítima é um homem com 25 anos, ferido por explosivo. Ele passou por cirurgia para correção das áreas atingidas pela amputação traumática (os dois pés, e cortes profundos nas pontas de todos os dedos das mãos. Com a recuperação da cirurgia não houve necessidade de amputação dos dedos), e retirada de estilhaços pelo corpo, principalmente nas pernas.
O homem já está consciente e relatou que pensou que o artefato era um celular (daí o porquê dos ferimentos nas mãos). Seguirá internado.