O Brasil é o maior país do mundo sem qualquer forma de jogo de fortuna e possui um imenso mercado esperando a rentabilização de cassinos resort. Essa ideia vem sendo consolidada no pensamento do Congresso faz vários anos, sendo de acreditar que boa parte da população brasileira aceitaria uma liberação do jogo bem mais alargada do que é pretendido pelo governo. Mas do outro lado está a bancada evangélica que não quer nem ouvir falar nessa possibilidade, pouco importando os argumentos macroeconômicos avançados.
Esse é um dos debates mais animados da cena política atual, com a divisão a se fazer de maneira bem diferente dos restantes temas. Aqui não tem Lula vs Bolsonaro; pelo contrário, a divisão contra e a favor do jogo corre em outra linha – até mesmo dentro do governo.
Intenção do presidente, desde a campanha eleitoral
O presidente avança com cautela mas está decidido a permitir uma mudança histórica em relação à proibição dos cassinos que vem de 1946. Ele concorda com o ex-prefeito do Rio de Janeiro, Marcelo Crivella, que apesar de suas convicções religiosas defendeu a instalação de um grande cassino resort no Porto Maravilha, de acordo com a intenção de investimento do falecido Sheldon Adelson, o bilionário dos cassinos de Las Vegas. Apesar de seu falecimento, é quase certo que sua empresa, a Las Vegas Sands, não quererá deixar passar a oportunidade criada por uma possível legalização. Bolsonaro defendeu, durante sua campanha eleitoral e em uma palestra com empresários cariocas, que seria favorável a alguma forma de liberação.
O certo é que, atualmente, já é possível acessar jogos de cassino com prêmios em dinheiro real no Brasil. Basta que isso seja feito através da internet e usando plataformas estrangeiras, como o casino.netbet.com, que caem fora do poder da legislação nacional.
Ministros do Turismo escolhidos segundo esse critério
O ex-ministro do Turismo, Marcelo Álvaro Antônio, era um firme defensor da liberação dos cassinos resort. Suas declarações públicas apelando a uma mudança na lei foram constantes até sua demissão no final do último ano. Ele traduzia perfeitamente o pensamento econômico liberal do ministro da Economia, que por sua vez vem sendo uma aposta do presidente. E não se pense que sua substituição significou uma mudança nessa “aposta”. Pelo contrário, o homem escolhido por Bolsonaro para substituir Marcelo Álvaro Antônio veio diretamente da Embratur: seu dirigente Gilson Machado. O setor do turismo é o mais firme defensor da liberação dos cassinos e uma das primeiras declarações de Machado enquanto novo ministro foi precisamente para reforçar essa ideia.
Ciro Nogueira: o mais recente sinal político
A recente nomeação de Ciro Nogueira como ministro da Casa Civil veio comprovar que Bolsonaro não receia se rodear de personalidades favoráveis ao jogo. Ciro Nogueira foi o autor do PL 186/2014, que já foi vetado no Senado mas continua sendo debatido, e que é um projeto de lei bem mais ambicioso que a simples ideia de autorizar o funcionamento de cassinos resort. Nogueira pretende a liberação total dos jogos de azar, incluindo bingo e jogo do bicho. Certamente que a ministra Damares Alves, forte opositora até da liberação dos resorts, não verá a proximidade de Ciro com simpatia.