Câmeras, atores e todo o aparato de um set de filmagem chamaram a atenção dos moradores de Birigui nesta semana. O município é palco de uma produção de curta-metragem que aborda, dentre outros temas, as retaliações e preconceitos contra asiáticos. A produção, da Europa Filmes, começou a ser filmada no dia 1º de julho e vem movimentado a cidade de pouco mais de 120 mil habitantes. O filme é de ação e terá 15 minutos de duração.
A ideia de filmar na Capital do Calçado Infantil na América Latina partiu da biriguiense Maira Ferreira Tashiro Sanches, diretora-geral do curta. “Decidimos sair da loucura de São Paulo, onde haveria uma maior exposição do elenco e dos produtores, e também optamos por realizar testes na região para o próximo filme, que deve contar a história de Tião Carreiro”, justificou Maira.
O curta aborda as dificuldades enfrentadas pelos asiáticos que, no pós-pandemia, vêm sofrendo, principalmente nos grandes centros, com episódios de agressões, xingamentos e até apedrejamentos em seus estabelecimentos comerciais. A temática inclui o racismo e a fobia.
“Quando se fala em racismo, logo se pensa nos negros, mas ele acontece também contra japoneses, chineses, coreanos, espanhóis, italianos. E a fobia existe porque os asiáticos são pressionados o tempo todo e acabam se sentindo diminuídos. Se um brasileiro descendente de japonês vai para o Japão, não é considerado japonês; se fica no Brasil, não é considerado brasileiro. Então, não temos Pátria?”, questiona a diretora-geral do filme, que tem ascendência japonesa.
Enredo
O enredo conta a história da jovem Koyuki, vivida pela atriz biriguiense Samira Hayashi. A personagem é uma brasileira de ascendência japonesa que não consegue superar a morte violenta de seu companheiro, interpretado pelo ator chinês Juy Huang.
Consumida pela tristeza, Koyuki passa a treinar intensamente e a se preparar para buscar a justiça com as próprias mãos. A garota, aparentemente inofensiva, se transforma em uma máquina de combate e vai ao encontro dos criminosos que espancaram o seu amor até a morte.
O antagonista é o ator Miguel Nader, que viveu um pistoleiro na novela global “A Favorita”; o mordomo Cardoso em “Cobras & Lagartos” e o detetive Carvalho no seriado “Guerra e Paz”, da mesma emissora. Na Record, viveu Duplex na trama “Amor sem Igual” e Celsão em “As Aventuras de Poliana”, do SBT. Também participou de vários filmes, como “Atração de Risco”, “Antes que eu me Esqueça” e “Trair e Coçar, é só Começar”, dentre outros.
Nader está encantado com a produção que, segundo ele, aborda de forma sutil os temas propostos. “É um filme de ação, que exigiu muita preparação dos atores, mas está sendo muito especial filmar aqui. Os moradores são muito hospitaleiros e estão curtindo muito este clima de cinema na cidade”, afirmou ele, que é judoca e não teve dificuldade para encarnar o personagem, que é o vilão da história.
Além dos três atores principais, o curta contará com a participação da miss Mato Grosso do Sul, Dandara Queiroz, que viverá uma garota de programa na trama.
O elenco tem, ainda, 35 figurantes da região e 15 profissionais que atuam na figuração externa e dublê. Ao todo, são mais de 80 pessoas envolvidas no trabalho, entre cinegrafistas, produtores e atores, e dez câmeras que, segundo a diretora-geral, são as mesmas utilizadas no filme sobre Silvio Santos, com filmagem do cinegrafista Ceará.
Em Birigui, as locações foram feitas na Rua Bahia com a Vitória Régia, na residência do médico Milton Hayashi, Bar Barão e na Rua João Antônio Sanches. A produção também filmou em um rancho e no Náutico Clube de Buritama.
Por ser um filme de ação, a preparação dos atores começou cerca de dois meses antes do início das filmagens, que devem ser concluídas no próximo sábado. Depois, o curta passará pelo processo de montagem, com o ajuste de cada detalhe e encaixe do som e imagem, até ganhar os festivais internacionais e, na sequência, os distribuidores, como Netflix e Amazon.
Diretora é de Birigui e atuou em filmes nacionais e internacionais
A produtora executiva biriguiense Maira Ferreira Tashiro Sanches, que assina a direção geral do curta, estudou gastronomia e nutrição no Japão, trabalhou na TV Cultura, e em emissoras de Andradina e Três Lagoas (MS). Foi produtora musical da cantora Paulo Mattos, das duplas Munhoz e Mariano e Thiago e Graciano. Fez trabalhos com Wesley Safadão e produção de shows na Europa antes de ingressar no mundo do cinema.
Atualmente, é produtora da Europa Filmes, onde participou da série do humorista, youtuber e cantor Whindersson Nunes. Também produziu curtas-metragens japoneses, gravou na Europa e hoje dirige o curta que é rodado em Birigui, da produtora Europa Filmes, que recentemente vendeu todos os filmes dos Trapalhões para o SBT.
A produção tem, ainda, o diretor de cinema, roteirista e quadrinista Chris Tex, que tem em seu currículo um amplo conteúdo de gênero fantástico e de comédia para diversas plataformas. Em 2014, criou e dirigiu a websérie “Nerd of the Dead”, alcançando mais de um milhão de espectadores.
Dentre os seus trabalhos, está a direção geral, em 2015, de 26 episódios da série infantojuvenil “Buuu – Um Chamado para Aventura”, uma das maiores audiências do canal Gloob, e o filme “A Placa de Rubi”, com Whindersson Nunes, alcançando mais de 13 milhões de views.
O curta tem, também, o roteirista e produtor executivo Reinaldo Guedes, do longa-metragem “Os Encrenqueiros”, com Dedé Santana, Miguel Nader e Giovani Venturunni. Guedes escreveu e produziu o curta “Corona Circus”, também com Dedé Santana (Produção Animal Filmes), e o longa “Soviética”, da Pinoia Filmes, dentre outros trabalhos. É autor do livro “Uma Alemã Chamada Ana”, pela editora Ágape.
Para Guedes, a experiência de filmar em Birigui está sendo muito boa, mas custosa, pois foi preciso deslocar todo o maquinário e a equipe para o interior. “Gastamos R$ 50 mil a mais para trazer o filme para cá, o que é um peso muito grande para a produção, mas o resultado tem sido muito positivo”, disse.