Chegou ao fim uma espera de mais de 40 anos que poderia ser enredo de um drama nas telas do cinema. A ajudante geral Angélica Prata Belorte, 42 anos, de Brejo Alegre (SP), é o bebê que foi entregue pela ex-boa-fria Maria de Fátima de Souza, em janeiro de 1980, a uma desconhecida, durante uma viagem de ônibus de Auriflama a Araçatuba.
A maternidade foi confirmada por um exame de DNA, cujo resultado, que ficou pronto na terça-feira (13), apontou a probabilidade de 99,9999990% de Fátima ser a mãe biológica de Angélica. As amostras foram analisadas por duas equipes diferentes, em prova e contra-prova, que confirmaram os resultados obtidos.
“Estou muito emocionada, até deixei o trabalho, porque não tinha condições nem de pensar. Estou muito feliz, agora tenho a resposta de tudo o que aconteceu em minha vida e a oportunidade de resgatar a minha história”, afirmou Angélica, minutos depois de pegar o exame e entrar em contato com a reportagem.
Para a mãe, Fátima, o desfecho não poderia ser mais feliz. “Eu queria muito o perdão da minha filha e ela me perdoou. Não tenho palavras para descrever o que estou sentindo, é muita emoção”, disse, aos prantos.
As duas ainda não se conhecem pessoalmente, mas se falam todos os dias pelo whatsapp. Angélica não vê a hora de abraçar a mãe, que também está ansiosa pelo encontro. Como são de família humilde, as duas não têm recursos para custear a viagem de quase 450 quilômetros de Campo Mourão (PR) até Brejo Alegre (SP) ou vice-versa. Mas pretendem se abraçar e resgatar o passado assim que possível.
A reportagem
A história do bebê entregue a uma desconhecida foi publicada pelo Regional Press no dia 14 de junho. Angélica soube que a mãe estava à procura da filha por meio de sua irmã, a caixa e segurança Adriana Cristina Trindade Prata, que leu a matéria e comentou, em uma postagem no Facebook, que sabia quem era o bebê procurado.
Ao ler o comentário, a reportagem entrou em contato com Adriana e passou o telefone da mãe que procurava pela filha. Na mesma noite, a ajudante geral conversou com Fátima pelo aplicativo Whatsapp e as duas combinaram de fazer o exame de DNA, pois a história das duas era muito parecida.
“Minha mãe adotiva contava que havia me pegado dentro de um ônibus, porque eu estava muito doente e minha mãe biológica ficou com medo que eu morresse no trajeto”, contou Angélica, confirmando o que Fátima havia dito à reportagem. As amostras do sangue das duas foram coletadas no dia 22 de junho.
Janeiro de 1980
A saga de Fátima, que hoje mora em Campo Mourão (PR) e tem 61 anos de idade, começou em janeiro de 1980, quando, aos 19 anos, decidiu se separar do marido e voltar para perto de sua família, no Paraná.
Ela saiu de Auriflama, onde morava, e pegou um ônibus com os filhos Adriana, de três anos, Aracildo, de dois, e a pequena Jaqueline, de seis meses de vida. O destino era Araçatuba, onde tomariam outro ônibus para seguir a viagem até a cidade paranaense.
Durante o trajeto, o bebê, que já estava com problemas de saúde, passou a apresentar diarreia, febre e vômito. Com medo de que a filha não resistisse aos quase 600 quilômetros do trajeto de Auriflama até o Paraná, a mãe decidiu entregá-la a uma mulher que estava no ônibus e que pediu para ficar com a menina.
“Foi um momento de desespero. Para não ver minha filha morrer nos meus braços, preferi dar para salvar da vida dela”, afirma Fátima. “Eu não tinha onde ficar, não tinha com quem contar e o dinheiro que eu tinha só dava para chegar até o Paraná”, completa.
A menina, que foi registrada inicialmente como Jaqueline, nasceu no dia 25 de julho de 1979. “Minha mãe adotiva me contava que meu nome era Jaqueline, mas ao me registrar aqui em Brejo Alegre, eu passei a me chamar Angélica”, conta a ajudante geral. No novo registro, sua data de nascimento passou a ser 9 de março de 1979.
A filha disse não ter mágoa da mãe, mas conta que, na adolescência, chegou a ficar muito revoltada. “Hoje eu penso diferente e perdoo a minha mãe por ter me doado”, afirmou ela, que é casada e mãe de dois homens, de 25 e 24 anos, de uma menina de 12 e de um bebê de um ano e sete meses.
Ela diz, ainda, que achava impossível encontrar sua mãe biológica. “Eu já tive muita vontade de conhecê-la, mas nunca procurei por ela, até porque minha mãe adotiva não tinha muitos detalhes. Sou muito grata a Deus por esta graça”, finaliza. A mãe que adotou Angélica se chamava Ilena Trindade Prata e, na época, trabalhava em um circo. Ela faleceu há seis anos.
De família humilde, filha pede ajuda para conhecer a mãe no Paraná
De famílias humildes, a ex-boia-fria Maria de Fátima de Souza e a ajudante geral Angélica Prata Belorte, que agora já sabem que são mãe e filha, têm planos de um encontro para aquele abraço apertado esperado há mais de 40 anos.
Apesar da vontade de estarem juntas, as duas tentam driblar a ansiedade, pois não possuem recursos financeiros para custear uma viagem de quase 450 quilômetros, para romper a distância que as separam, de Brejo Alegre (SP) a Campo Mourão (PR).
“Vou tirar dez dias de férias e quero muito ver a minha mãe, poder ouvir tudo o que ela tem a dizer, mas não tenho recursos para isso”, lamenta a filha. De outro lado, a mãe, que ainda não é aposentada e não consegue trabalhar porque tem vários problemas de saúde – dentre eles, enfisema pulmonar. “A gente vive de cesta básica doada pelo Cras e o que está salvando a gente é o auxílio emergencial do governo”, conta Fátima.
A ideia da filha é visitar a mãe e levá-la a Brejo Alegre para conhecer os netos e o genro. Mas a angústia é a de conseguir recursos para isso.
Quem puder ajudar a possibilitar o encontro das duas, pode entrar em contato pelo telefone (18) 99774-5888.