Médicos inexperientes para realizar intubação, falta de medicamentos, equipamentos e até de alimentação podem ter levado à morte de pacientes submetidos ao tratamento da Covid-19 no pronto-socorro municipal de Birigui, após a Prefeitura assumir a gestão dos serviços de urgência e emergência do município, em janeiro deste ano.
A denúncia foi feita durante a oitiva do médico Lucas Rodrigo Oliveira Viana, que era plantonista no local. Ele foi ouvido pela Comissão Processante da Câmara que investiga possível crime de responsabilidade do prefeito Leandro Maffeis (PSL), no gerenciamento do PS. A Prefeitura reassumiu a gestão dos serviços em 26 de janeiro, após romper o contrato com a Santa Casa de Birigui.
Segundo o médico, que é especialista em medicina intensiva, a empresa Isma (Instituto São Miguel Arcanjo), de Araraquara, contratada pela Prefeitura para gerenciar o pronto-socorro, trouxe médicos com falta de experiência em meio à pandemia. Conforme ele, estes profissionais não sabiam fazer intubação nos pacientes graves de Covid. E afirmou que quem se apresentou como representante da Isma foi o médico Marco Botteon, de Birigui.
“Os livros de anestesia mostram que. para ter experiência, é preciso ter de 70 a 100 intubações catalogadas”, afirmou. Ele disse, ainda, ter ouvido muitos testemunhos de colegas relatando as “catástrofes” que aconteceram no pronto-socorro.
Viana também relatou que faltaram remédios, como sedativos, e até os básicos, como dipirona e profenide, usados para dor, assim como equipamentos para o tratamento de pacientes com Covid, como bombas de infusão, utilizadas para controlar o volume de medicamentos aplicados nos pacientes.
Conforme o profissional, houve uma mudança brusca com a mudança de gestão no PS. “O serviço estava funcionando bem. Quando teve a ruptura com a Santa Casa, eles (Isma) quiseram impor uma nova forma de trabalho, com pessoal sem capacidade técnica e poder de gestão”. Por este motivo, ele pediu demissão no dia 24 de março.
O médico também contou que faltou alimentação nasoenteral para os pacientes intubados, o que prejudicou a condição deles. Ele também relatou que pacientes com fratura ficaram no corredor do PS por horas, porque não tinha gesso. “A lista é grande. Todos os insumos faltaram lá dentro”, contou.
A técnica em enfermagem Lígia Freitas e Rosana Stábile Costa, que também foi ouvida nessa quarta-feira, confirmou os relatos do médico em relação à falta de medicamentos, equipamentos e insumos, assim como alimentação, para o atendimentos dos pacientes.
Além dela, foram ouvidas também a chefe de Divisão de Assistência Farmacêutica, Natalia Forcassim Jorge Coelho; a farmacêntica Caroline Mendes Delgado; e a enfermeira-chefe Márcia Galhardo Garcia.
Não compareceram
Não compareceram para prestar seus depoimentos os convocados Vanessa Chioderoli Atale e os médicos Thiago de Camilo Figueiredo Mattos e Jossef Said Boutros – somente este último encaminhou justificativa formal à Casa, alegando estar em serviço de emergência como plantonista.
O médico Thiago de Camilo foi quem denunciou os problemas no pronto-socorro em áudios que vazaram nas redes sociais. Em abril, ele chegou a depor na Comissão de Saúde da Câmara, confirmando todas as informações.
Nesta quinta-feira (17), segundo dia de oitivas, os trabalhos foram suspensos pelo presidente da CP, vereador André Fermino Grosso (PSDB), porque outras testemunhas faltaram. A Comissão deve providenciar, nos próximos dias, solicitação ao Poder Judiciário para a condução coercitiva das testemunhas faltantes.
CP
A Comissão Processante foi instaurada após ser aceita em plenário uma denúncia de munícipes que questionam a qualidade do serviço prestado pelas equipes profissionais do pronto-socorro e a contratação do Instituto São Miguel Arcanjo para gerenciar a unidade.
A apuração deve ser realizada no prazo de 90 dias, contados a partir de 16 de abril, data em que o acusado foi notificado sobre a investigação.