“Não quero partir deste mundo sem receber o perdão da minha filha”. A frase é da ex-boia-fria Maria de Fátima de Souza, 61 anos, que no ano de 1980 entregou a pequena Jaqueline, sua filha que na época tinha seis meses de idade, a uma desconhecida, ao fugir do marido opressor, na pacata Auriflama, município de 15.253 habitantes, localizado a 68 quilômetros de Araçatuba.
A saga de Fátima, que hoje mora em Campo Mourão (PR), poderia ser contada em um filme de drama ou mesmo uma novela. Em janeiro de 1980, a mulher, então com 19 anos de idade e três filhos pequenos, decidiu se separar do marido e voltar para perto de sua família, no Paraná.
Ela saiu de Auriflama, onde pegou um ônibus com os filhos Adriana, de três anos, Aracildo, de dois, e a pequena Jaqueline, de seis meses de vida. O destino era Araçatuba, onde tomariam outro ônibus para seguir a viagem até a cidade paranaense.
Durante o trajeto, o bebê, que já estava com problemas de saúde, passou a apresentar diarreia, febre e vômito. Com medo de que a filha não resistisse aos quase 600 quilômetros do trajeto até o Paraná, a mãe decidiu entregá-la a uma mulher que estava no ônibus e que pediu para ficar com a menina.
“Foi um momento de desespero. Para não ver minha filha morrer nos meus braços, preferi dar para salvar da vida dela”, afirma Fátima. “Eu não tinha onde ficar, não tinha com quem contar e o dinheiro que eu tinha só dava para chegar até o Paraná”, completa.
A menina, que foi registrada como Jaqueline, nasceu no dia 25 de julho de 1979. A certidão de nascimento ficou com a mãe biológica, que acredita que a mulher que a adotou tenha dado outro nome à filha.
A única informação que Fátima tem da mulher é que seu primeiro nome é Maria e que ela desembarcou em uma área rural, localizada entre Auriflama e Araçatuba, mas não sabe precisar onde. Ela também conta que a mulher que ficou com o bebê estava acompanhada de uma menina de aproximadamente 12 anos de idade.
“Ela disse que iria cuidar bem da minha filha. Eu passei o endereço dos meus pais, em Campo Mourão, mas ela nunca me procurou. Se a minha filha não estivesse doente, jamais teria dado. Eu me arrependo muito, se pudesse voltar atrás, teria resgatado a minha filha”, afirma, aos prantos.
Fátima conta que, todos os anos, lembra do aniversário da filha, de quem não tem uma foto sequer. Seu ex-marido, João Bilardo, não sabe que ela deu a menina ainda bebê. “Desde que a gente se separou, ele nunca procurou pelos filhos”, contou. Em Auriflama, Bilardo trabalhava por dia na colheita de laranja ou fazia bicos de capinagem de terrenos. Segundo informações, ele não mora mais na cidade.
Busca
A procura pela filha começou há mais de dez anos. A mãe se justifica dizendo que teve uma vida muito difícil, trabalhando como boia-fria em lavouras de cana-de-açúcar, soja e algodão, no Paraná, e que por isso não teve condições de buscar pela filha antes.
No Paraná, Fátima se casou novamente e teve mais cinco filhos, mas não se esquece daquela que entregou ainda bebê.
“Procurei algumas rádios e contei a minha história, mas nunca tive notícias da minha filha”, disse. Pelo Facebook, Fátima chegou a localizar uma moça que mora em Belo Horizonte (MG) e que tinha uma história parecida com a de sua filha. Elas fizeram exame de DNA, mas o teste deu negativo.
A história é conhecida em Auriflama, onde tudo começou. Moradores ouvidos pela reportagem disseram que a menina deixada para trás na fuga da mãe teria sido adotada por uma família circense e que hoje seria médica, mas não sabem onde ela estaria.
“Eu quero encontrar ela antes de eu morrer (chora). Quero explicar por que aconteceu isso. Por mais que agi errado, tenho o direito de pedir perdão”, desabafa.
Serviço
Quem puder ajudar Fátima a encontrar a filha pode entrar em contato pelo telefone (44) 99843-2315.