Mirandópolis (SP), cidade à cerca de 60 km de Araçatuba, passa por um drama provocado pela Covid-19: o munícipio registrou um salto de 170,8% nas mortes pela doença. No período de 30 dias, 19 de março a 19 de abril, o total de mortes contabilizadas pela prefeitura desde o início da pandemia passou de 24 para 65.
Já o número de casos confirmados subiu 52,5% no período, chegando a 1.853. A título de comparação, o aumento de mortes no estado de São Paulo nesse mesmo intervalo foi de 32,5%, e o de casos, 20,6%.
Os números são somente de moradores da cidade e podem ser confirmados no site da Prefeitura: https://www.mirandopolis.sp.gov.br/coronavirus. Mas o portal não mostra informações de ocupação dos leitos destinados ao tratamento da Covid.
Desde o início da pandemia, Everton Sodario (PSL) minimizou a doença, pregou contra o distanciamento social e as restrições ao comércio, atacou a vacina do Butantan e promoveu o chamado “tratamento precoce”, sem eficácia comprovada.
Em maio de 2020, A Prefeitura de Mirandópolis abriu uma licitação para a compra de comprimidos de cloroquina para o combate à covid-19 (coronavírus). Em seu governo, a prefeitura gastou R$ 22 mil, desde o início do ano, na compra de 26 mil comprimidos destes remédios para o serviço municipal de saúde
Por diversas vezes, o prefeito fez publicações em sua página no Facebook, vistoriando posto de Saúde para ver se havia estoque de “medicamentos para o tratamento do Vírus Chinês”.
Tomei Cloroquina, Ivermectina e estou tomando Zinco para me previnir do Coronavírus e até agora NÃO MORRI!👍🏼
— Everton Sodario (@EvertonSodario) July 4, 2020
Desde o início foi contra o Plano São Paulo e manteve o comércio aberto, o que lhe valeu uma multa de R$ 40 mil e o bloqueio dos bens pelo Ministério Público.
Em ação que pedia cumprimento de sentença, a Promotoria de Justiça de Mirandópolis obteve decisão bloqueando depósitos ou aplicação financeira do prefeito do município, Everton Luiz Fernandes Sodario Raimundo, no valor de R$ 10 mil por dia de descumprimento, devida a partir de 18 de março.
O montante refere-se à multa imposta em decorrência de condenação de Raimundo em processo do MPSP que alegou ilegalidade das posturas adotadas pelo prefeito para o combate à pandemia.
No pedido, os promotores Willian Guimarães e Renata dos Santos afirmam que o prefeito vem conduzindo o enfrentamento à disseminação da covid-19 “de forma errática e periclitante”, se manifestando publicamente contra as diretrizes adotadas pelo Estado de São Paulo, como também incentivando o descumprimento por parte dos moradores, prometendo a eles a ausência de fiscalização municipal.
140 reais
Em vídeo postado em suas redes sociais, o prefeito disse que tomou conhecimento da multa ao tentar comprar um energético em uma padaria. “Eu tinha R$ 273,00 na conta e foram bloqueados. Não tenho bens, tenho um carro financiado e dependo do meu salário para viver”, disse, afirmando que só tem, agora, R$ 140,00, que sacou recentemente, para passar o restante do mês.
Ele disse, ainda, na gravação, que sua liberdade de cidadão está sendo cerceada. “Eu tenho o direito de ser contra o isolamento social e o direito de querer que as pessoas possam trabalhar”. “Esta decisão vai contra a liberdade das pessoas trabalharem, de se manifestarem. Não vou me intimidar com uma decisão ilegal”, afirmou.
Sodario também afirmou que, sem dinheiro, nos próximos dias, vai sentir na pele as dificuldades que o povo brasileiro está passando. “Irei defender a vida em todos os sentidos, inclusive o direito das pessoas de trabalharem. A população não ganha R$ 40 mil igual a juiz e promotor. Eles precisam trabalhar para sobreviver. Nem todo mundo pode ficar um ano em casa fazendo home office. Se eles não saírem de casa para trabalhar, não vão conseguir sobreviver”.