O secretário estadual da Saúde de São Paulo, Jean Gorinchteyn, disse ser favorável à suspensão das aulas presenciais nas escolas diante do agravamento da pandemia de covid-19 no Estado. O tema, segundo ele, será discutido nos próximos dias, mas a posição pessoal do secretário é de que manter escolas abertas implica em uma série de deslocamentos fora dos colégios que contribuem com a propagação do vírus.
“Isso é um tema que estamos discutindo. Se estamos entendendo que as pessoas estão ameaçadas frente ao vírus, frente a um colapso, temos de avaliar a circulação das pessoas em situações que poderiam ser evitadas e uma delas é a escola”, disse Gorinchteyn na manhã desta terça-feira, 2, em entrevista à Rádio CBN.
Para o secretário, o problema não está dentro da escola. “É a circulação das pessoas no entorno, professores, alunos, pais, o transporte público, a exposição que acabamos colocando as pessoas”, afirmou. Gorinchteyn disse ainda que um lockdown, com fechamento de todo o comércio e restrição à circulação nas ruas, não é factível no Brasil. “Não temos capacidade no nosso País de fazer lockdown, as pessoas vão morrer de fome, vamos ter um problema civil, social.”
No Estado de São Paulo, as escolas foram consideradas serviços essenciais, como supermercados e farmácias. Isso significa que podem ficar abertas mesmo nas fases mais restritivas da quarentena. O posicionamento de Gorinchteyn é contrário ao que tem defendido o secretário estadual da Educação, Rossieli Soares. Para Rossieli, as escolas devem ser as últimas a fechar e as primeiras a abrir, uma vez que o longo tempo de fechamento vem causando prejuízos às crianças e adolescentes.
A declaração de Gorinchteyn desagradou entidades que reúnem escolas particulares e grupos que defendem a reabertura das escolas. Para Arthur Fonseca Filho, diretor da Associação Brasileira de Escolas Particulares, o governo deve dar um tratamento isonômico às escolas em relação aos demais serviços considerados essenciais. “Não pode novamente a escola ser a primeira a fechar e a última a abrir.”
Fonseca Filho diz que os colégios entendem a gravidade do momento e que, se a decisão das autoridades sanitárias for por um lockdown, ocom fechamento de todos os setores, isso será respeitado. Mas ele pondera que, no ano passado, de março até outubro, os colégios foram um dos poucos setores que permanceram fechados. A Abepar reúne escolas de elite do Estado de São Paulo.
Nesta terça-feira, 2, o Conselho Nacional de Secretários de Educação criticou por meio de nota o que chamou de “defesa da suspensão das atividades presenciais de todos os níveis da educação do país”. A manifestação do Consed ocorre um dia após o Conselho Nacional de Secretários de Saúde (Conass) pedir a suspensão do funcionamento das escolas, entre outras medidas, para conter o avanço da pandemia no Brasil.
Como o Estadão mostrou, o agravamento da pandemia no País tem levado municípios e Estados a suspenderem ou adiarem o retorno presencial às escolas. No Estado de São Paulo, 114 municípios barraram o retorno dos colégios estaduais. Estados como Pernambuco, Paraíba, Piauí e Paraná também decidiram suspender a volta às aulas neste momento diante da crise sanitária.