Uma misteriosa doença sofrida por diplomatas americanos em Cuba, com sintomas como dores de ouvido, tontura e sensação de pressão na cabeça, provavelmente foi causada por radiação direta de micro-ondas, segundo um relatório entregue ao governo dos EUA e apresentado neste sábado (5/12).
A “síndrome de Havana” ganhou o noticiário entre 2016 e 17, quando funcionários da Embaixada dos EUA na capital cubana começaram a apresentar “um incomum conjunto de sintomas e sinais clínicos”.
Os problemas de saúde levaram ao fechamento quase total da embaixada, apenas dois anos depois de ela ter sido reaberta como parte da tentativa de reaproximação entre Cuba e EUA durante o governo de Barack Obama.
“Para alguns pacientes, o caso começava com o repentino início de um barulho alto (…) acompanhando de dor em um ou nos dois ouvidos, ao redor de uma área ampla da cabeça, e, em alguns casos, sensação de pressão ou vibração na cabeça, tontura, tinido, problemas visuais, vertigem e dificuldades cognitivas”, explica o relatório produzido pela Academia Americana de Ciências após investigação encomendada pelo Departamento de Estado dos EUA.
Após a revisão dos casos, a academia concluiu que “energia de radiofrequência direta e pulsada” (um tipo de radiação que inclui micro-ondas) é a explicação mais plausível para a doença, embora outras causas não possam ser completamente descartadas. O relatório não ponta culpados pela radiação, embora dê indicativos de que acha que ele pode ter sido intencional, por se tratar de exposição pulsada, e não contínua. A conclusão oficial, porém, é de que “nenhuma hipótese foi provada, e as circunstâncias permanecem não esclarecidas”.
Ao mesmo tempo, o relatório aponta que já existia “pesquisa significativa da Rússia/União Soviética sobre os efeitos da exposição pulsada, em vez de contínua (a esse tipo de radiação)”.
Segundo o relatório, muitos dos pacientes continuam a sofrer de problemas de saúde relacionados às ondas.
Os EUA acusaram Cuba de realizar “ataques sônicos”, o que Havana negou. O episódio ajudou a aumentar as tensões entre os dois países durante o governo de Donald Trump.
Em 2019, um estudo acadêmico americano identificou “anormalidade cerebrais” nos diplomatas adoecidos, mas Cuba questionou as descobertas.
O Canadá também reduziu sua equipe diplomática em Cuba depois que ao menos 14 funcionários reportaram sentir sintomas parecidos.
Agora, o estudo recente da Academia Americana de Ciências foi conduzido por médicos e cientistas que examinaram os sintomas de cerca de 40 funcionários americanos, muitos dos quais sofrendo efeitos debilitantes e de longo prazo.
A Embaixada em Cuba não foi o único posto diplomático americano a reportar tais sintomas. Em 2018, os EUA removeram diversos funcionários seus na China depois que americanos que trabalhavam no consulado americano em Guangzhou relataram “sensações de som e pressão sutis e vagas, mas anormais”. Um americano foi diagnosticado com trauma cerebral leve.