O agropecuarista Francisco Ferreira Batista morreu nesta segunda-feira (2), aos cem anos de idade, em Araçatuba, após enfrentar duas infecções hospitalares e mais de um mês de hospital. Ele completaria 101 anos no próximo dia 19.
Seu filho, Edson Batista, publicou uma homenagem ao pai em suas redes sociais. “Meu pai amava a vida e lutou bravamente por ela até o último instante”, escreveu.
Segundo ele, seu pai esteve duas vezes na UTI, conseguiu sair e ir para o quarto, mas a longa permanência hospitalar debilitou muito o seu estado de saúde. “Deixa como legado uma pessoa que não passou simplesmente pela vida, foi um lutador, um guerreiro”, afirmou o filho.
Francisco Ferreira Batista era filho dos imigrantes portugueses José Ferreira Batista (que dá nome a uma das principais avenidas de Araçatuba) e Joaquina de Jesus. Nasceu no bairro rural Córrego do Campo, em Coroados (SP), quando o município ainda era distrito de Birigui. Após uma geada dizimar a lavoura de café da propriedade, mudou-se para Araçatuba com a família quando ainda era criança, em 1925.
No ano passado, o Siran (Sindicato Rural da Alta Noroeste) prestou uma homenagem a um de seus associados mais longevos, com uma publicação sobre sua vida no informativo da entidade. A matéria mostrava um homem centenário cheio de vida, que frequentava a academia três vezes por semana, lúcido e com uma memória invejável para nomes, datas, valores e números em geral.
Trajetória
Batista começou a trabalhar cedo. Primeiramente, na máquina de beneficiamento de arroz e no moinho de fubá que o pai montou em Araçatuba. Depois de passar três anos por um curso introdutório de contador, foi auxiliar contábil de Braulino Quintilhano, office boy de Clóvis de Arruda Campos, auxiliar administrativo na padaria Menezes, e chegou a atuar de forma autônoma com clientes de escritas fiscais.
Em 1953, em sociedade com o cunhado Luiz Prando, abriu a Fábrica de Ladrilhos de Araçatuba (também era uma loja de materiais de construção), que ficava na rua Bandeirantes, 31. Fechou a empresa em 1980.
Paralelamente às atividades profissionais, ajudava o pai a administrar as suas duas fazendas de gado, uma em Araçatuba e outra em Braúna. Com o falecimento de José Ferreira Baptista, em 1978, a de Braúna foi vendida e a de Araçatuba, repartida entre os filhos. Nos poucos mais de 30 alqueires que herdou, criou gado e depois arrendou.
Antes disso, havia comprado um sítio em Coroados, onde produzia lenha e a fornecia para uma fábrica de óleo local chamada Biol. Vendeu a propriedade e adquiriu outra no mesmo município, na qual mantinha vacas de leite.
Memória
Em um século de vida, Francisco acompanhou importantes fatos da história do Brasil, como o Estado Novo, a 2ª Guerra Mundial, transferência da capital federal para Brasília, a Coluna Prestes, a Ditadura Militar, a redemocratização etc.
E impressionava a facilidade com que ele se lembrava de fatos longínquos, como a chegada da família a Araçatuba. “Em 1925, todas as ruas eram de terra. A primeira asfaltada, muito tempo depois, foi no entorno da praça Rui Barbosa. Comparado a Coroados, aqui tinha muitas casas e isso chamou muito a minha atenção”, contou ele, ao informativo do Siran, no ano passado.
Marcaram a sua memória o café queimado pelos produtores, entre as décadas de 1920 e 1930, para reduzir o estoque ocasionado por uma superprodução, e assim aumentar o preço do produto; o racionamento de combustível e açúcar durante a 2ª Grande Guerra; e a introdução do nelore na pecuária nacional.
Casou-se em 1955 com Maria Furlan Ferreira Batista, falecida em 1994, e com ela teve dois filhos: Edson e Deise. Contava com a atenção da cuidadora Maria Eraídes de Oliveira Trindade há 25 anos. Francisco deixa os filhos e netos.
Em suas redes sociais, o Siran publicou: “O Siran agradece Francisco Ferreira Batista pela contribuição ao agronegócio e se solidariza à família neste momento de profunda tristeza”. Ele era associado ao sindicato desde 1987.