A família do advogado e músico Ronaldo César Capelari, 53 anos, morto e esquartejado em janeiro deste ano em uma edícula no bairro Água Branca, em Araçatuba, espera a pena máxima para os réus. A Justiça marcou para a próxima quinta-feira (8) a audiência de instrução do caso, por videoconferência, para ouvir oito testemunhas, sendo cinco de acusação e três de defesa, além dos dois envolvidos no crime, que causou forte comoção na cidade.
“Meu irmão não vai ter uma segunda chance na vida, mas os dois assassinos, sim. E pela crueldade que cometeram, merecem passar cada minuto na cadeia”, afirma uma das irmãs da vítima, a funcionária pública Eliane Capelari Anselmo.
Ela conta que a vida da família não tem sido fácil nos últimos dez meses, período em que os pais, esposa, filhos e irmãos da vítima estão tentando superar a dor, o trauma e as crises de ansiedade com atendimento psicológico e muita oração.
“Não mataram só o meu irmão, nós, da família, nunca mais seremos as mesmas pessoas. Isso deixou sequelas em todos. Uma coisa é a morte natural, a outra é alguém acabar com a vida de alguém”, desabafou Eliane.
A irmã de Ronaldo lembra que por pouco não teriam a oportunidade de velar o corpo do advogado, pois o cadáver foi destruído, cortado em pedaços e depositados em sacos de lixo para ser desovado na sequência. Tanto que, até hoje, uma das mãos da vítima não foi encontrada. As Polícias Militar e Civil, no entanto, foram muito rápidas no desvendar do crime bárbaro.
“Foi algo descomunal, é falta de amor e de Deus. Entendo que eles (os réus) são vítimas da sociedade, pois a cada violência é uma necessidade que não foi atingida. Mas eles têm que pagar, não pode haver impunidade”, afirma Eliane.
Para ela, a sentença dos criminosos será não apenas pedagógica, mas servirá também para a reflexão e a sua evolução espiritual. “Eles terão muito tempo para pensar nisso”.
A família diz esperar uma pena compatível à gravidade e crueldade com que o crime fora cometido. “Acreditamos que a pena pela compatibilidade do crime seja apenas a prisão perpétua, só que no nosso ordenamento jurídico isso não existe. Mesmo assim, estamos confiantes na Justiça”, destacou.
Calopsita
O que mais chocou a família, segundo ela, foi o sofrimento a que seu irmão foi exposto. “Meu irmão não imaginava sequer o que iria acontecer com ele. A gente vem de uma família que não tem coragem nem de matar uma barata. Ele foi torturado, não tiveram a menor compaixão”.
Eliane diz que, ao ler o relatório do inquérito, não tinha conhecimento de que seu irmão havia morrido somente no dia seguinte ao seu desaparecimento. “Ao saber disso, foi como viver tudo aquilo novamente, toda aquela dor”, conta.
Conforme a irmã da vítima, um mês após a morte de Ronaldo, uma calopsita apareceu na casa de sua mãe, que acredita que a ave tenha sido enviada pelo filho morto para amenizar seu sofrimento. “Essa calopsita tem sido a vida dela”, conta Eliane.
Réus
O crime começou a ser investigado após a família registrar um boletim de ocorrência do desaparecimento de Ronaldo, no dia 14 de janeiro deste ano. Ele havia desaparecido na noite anterior, após dizer à esposa que iria para a academia.
Após as investigações, a Polícia Civil indiciou Laís Lorena Crepaldi, 20 anos, e o namorado dela, Jonathan Andrade Nascimento, 21, pelos crimes de latrocínio (roubo seguido de morte) e ocultação de cadáver.
Laís também foi indiciada pelo crime de denunciação caluniosa, por ter apontado três homens como autores do crime. Eles chegaram a ser presos, mas foram liberados depois que ela voltou atrás em seu depoimento e admitiu que havia mentido para defender seu namorado.
No caso de Jonathan, a pena máxima pode chegar aos 33 anos e, no de Laís, 41 anos.
O crime
Duas horas depois a família de Ronaldo registrar um boletim de ocorrência por seu desaparecimento, a caminhonete dele foi encontrada com marcas de sangue em uma estrada de terra, em Birigui, na manhã do dia 14 de janeiro.
Na noite do mesmo dia, uma denúncia anônima levou os policiais militares até o imóvel onde o corpo de Ronaldo foi encontrado, no bairro Água Branca.
Laís, sabendo que a polícia estava à procura da dona do imóvel, compareceu à DIG (Delegacia de Investigações Gerais) no dia seguinte. Ela disse à polícia que tinha deixado a casa aberta e que não sabia o que havia acontecido. Depois, no entanto, confessou que tinha atraído Ronaldo para o local, para um programa sexual. Os dois já teriam saído anteriormente.
Na sequência, a polícia descobriu a participação o namorado dela, que acabou preso no dia 16 de janeiro. Ele confessou o assassinato e disse que tinha combinado com Laís de roubar a caminhonete e pertences do advogado.
Ronaldo, no entanto, foi atingido por golpes na cabeça assim que entrou no imóvel. O casal, então, decidiu matá-lo e esquartejá-lo, porque Jonathan não conseguiu colocar o corpo do advogado na caminhonete para desová-lo.