Estudante de geografia, Filipe Varea Leme, de 21 anos, foi encontrado morto no ano passado, em um prédio da Poli (Escola Politécnica da USP). Uma funcionária da USP (Universidade de São Paulo) assumiu a culpa pela morte do rapaz.
Filipe e outro colega davam expediente como monitores de informática na Poli quando foram orientados pela supervisora a deixarem suas funções para ajudar um professor a mudar um armário de sala, embora a instituição conte com uma equipe de manutenção.
Segundo o UOL, o corpo do estudante foi encontrado às 15h40 daquele dia, dentro de um elevador de deficientes, encurralado pelo armário de livros, que, ao se movimentar com o elevador, esmagou o pescoço dele.
A promotora do caso, Amaitê Iara Giriboni de Mello, analisou provas e confirmou que a “negligência” da supervisora resultou em homicídio culposo, sem a intenção de matar.
Amaitê propôs assinatura de um Acordo de Não Persecução Penal, em vigor desde o ano passado, após a aprovação do “pacote anticrime” (Lei n°13.964/2019). Nesta nova regra, o Ministério Público pode propor ao investigado que confesse o delito em troca de não ter seu caso levado à Justiça. A supervisora de Filipe aceitou a proposta e admitiu sua responsabilidade. No dia 2 de outubro, a juíza Aparecida Angélica Correia ratificou o acordo.
Em entrevista ao UOL, a mãe de Filipe alegou que não tem mais vida após a morte do estudante. “Minha vida? Não tenho mais vida. Tristeza é um veneno que tomo todos os dias ao acordar e lembrar que não vou ouvir, ver, sorrir e conversar com ele. Ele era toda minha alegria e riqueza, seu amor e cuidado me faziam ter orgulho de ter dado à luz uma pessoinha tão especial, meu anjo Filipe”, falou ela.
Ester Varea Leme, de 64 anos, ainda alegou que se sentiu muito decepcionada com a forma que a família foi tratada pela USP. “Faz um ano e meio desde o fato e, até hoje, ninguém da Poli ou da reitoria da USP sequer nos enviou uma carta de condolências”, disse.
Em nota, a universidade afirmou que publicou um texto de pesar em seu site e que ofereceu suporte psicológico para a família.
O advogado da família, Euro Bento Maciel Filho, comemorou a vitória em cima da USP no tribunal. “Por mais que a USP tenha tentado culpar o Filipe pelo acidente, conseguimos apontar um responsável e que houve de fato um crime. Esses foram os maiores desafios desde o início”, disse ele.
Após a confissão da funcionária, os advogados da família buscam uma indenização por danos morais. Rogério Licastro de Mello, que representa a família no processo cível, estima uma ação de R$ 1 milhão —R$ 500 mil para cada genitor.
“No processo civil, a USP alega que a morte decorreu de um risco assumido pelo Filipe. A funcionária teria apenas pedido, mas quem decidiu transportar um armário nos próprios braços e usar o elevador foi o menino, assim responsável pelo próprio óbito”, diz Rogério. “Com a confissão, essa tese da universidade vai para o ralo”, completou o advogado.