Opositores em plano nacional, o Partido dos Trabalhadores (PT) e o Partido Social Liberal (PSL) estão do mesmo lado em ao menos seis municípios nas eleições para prefeito em 2020:
- Belford Roxo (RJ)
- Francisco Morato (SP)
- Ilha Solteira (SP)
- Palmeira dos Índios (AL)
- São Cristóvão (SE)
- Trindade (PE)
Os dados constam das atas das convenções dos partidos disponibilizadas pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE). O número de alianças entre os dois partidos pode ser maior — não há um balanço nacional a respeito.
A rivalidade entre as legendas começou a partir das eleições presidenciais de 2018, com a eleição do presidente Jair Bolsonaro, então no PSL, o que fez a agremiação passar de nanica à segunda maior bancada da Câmara. Parte do PSL posteriormente rompeu com Bolsonaro, embora a bancada apoie nas votações os projetos do governo federal.
Até as eleições de 2016, a polarização se dava entre PSDB e PT, reflexo da disputa dos partidos nas eleições à Presidência da República, com Fernando Henrique Cardoso (1995-2002), Lula (2003-2010) e Dilma Rousseff (2011-2016).
A associação de dois rivais não fere normas dos partidos. Em maio, o PT estabeleceu que, em cidades com menos de 20 mil eleitores, o diretório municipal tem autonomia para escolher as coligações das quais participa. De 20 mil a 100 mil eleitores, a decisão precisa passar pelo diretório estadual. Acima de 100 mil eleitores, cabe ao diretório nacional a deliberação.
Já o PSL informa não haver “restrição explícita nem estímulo” a alianças com o PT. “É preferível”, segundo o partido, a aliança com “outras alternativas políticas”.
Os dois partidos não têm um mapeamento das coligações nas cidades de todo o país.
Dinâmica local
Coordenador do curso de graduação em administração pública da Fundação Getulio Vargas (FGV), Marco Antônio Carvalho Teixeira diz que, no interior do país, as questões locais suplantam as questões nacionais.
“A dinâmica local faz com que se feche os olhos para a dinâmica nacional.” Vale mais a proximidade entre os candidatos e as pessoas, diz.
Em relação a eleições anteriores, a polarização do PT passa a ser com o PSL, não mais com o PSDB. “PT e PSDB foram parceiros na redemocratização do Brasil. Com o bolsonarismo, como em Belford Roxo, a questão é inexplicável: só a relação local deve justificar a aliança.”
Ilha Solteira
Ilha Solteira, na região de Araçatuba, é a cidade com o menor número de eleitores entre as cinco: 21.796, segundo os dados mais recentes do TSE. Lá, a coligação “Avante Ilha” tem PDT, PT, PSL, PL e Cidadania. Todos apoiam o candidato à prefeitura Rodrigo Kokinho (PL).
Alessandro Rodrigues, conhecido como Tomate, presidente do PT em Ilha Solteira, negou inicialmente, em nota, haver coligação com o PSL. Rodrigues afirmou que integra uma frente apenas com PDT, PL e Cidadania para derrotar o PSDB na cidade. A ata do PT não menciona o PSL. No entanto, as atas de convenção de todos os demais partidos apontam a coligação com PT e PSL juntos em Ilha Solteira.
Pela legislação eleitoral, as atas de partidos precisam reproduzir as mesmas coligações. Isso significa que o PT terá que retificar a ata da sua convenção, sob pena de expor a coligação ao risco de indeferimento pela Justiça Eleitoral. Questionado a respeito, Tomate disse então ao G1 que o secretário-geral do partido em Ilha Solteira fará a retificação até 25 de setembro, dentro do prazo legal, para incluir a coligação completa — inclusive o PSL.