“Bom dia, estou desempregado e não arrumo trabalho. Estou aqui somente para pedir uma ajuda, uma cesta básica. Será que alguém pode doar??? Sou de Araçatuba e peço uma doação de cesta básica”. Esta foi a mensagem deixada por um morador de Araçatuba por meio das redes sociais, nas últimas semanas, pedindo ajuda.
Ele (o nome foi preservado) faz parte de um grande número de pessoas que mergulharam no desemprego por causa da pandemia. A queda do poder de compra das famílias por causa do fechamento do comércio, aliado ao aumento dos produtos de alimentos, criou um cenário em que a vulnerabilidade social aumento significativamente.
De acordo com o Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada), nos oito primeiros meses do ano, a inflação registrada na cesta de consumo das famílias mais pobres foi duas vezes maior do que a de famílias mais ricas. Neste ano, o arroz, por exemplo, teve uma alta de 19,2%, o feijão, de 35,9%, e o leite, 23%. A situação tem afetado, sobretudo, moradores de baixa renda que tem a maior parte dos gastos justamente com alimentação.
Devido a tudo isso, a procura por cestas básica, na pandemia, aumentou assustadoramente em Araçatuba. A secretária de Assistência Social de Araçatuba, Suzeli Denys de Oliveira, em entrevista à Folha da Região, afirmou que para atender à demanda, foi necessário reforçar os estoques adquirindo mais cestas e com campanhas de arrecadação que envolveu entidades e empresas, como supermercados, como parceiros.
Segundo ela, foram arrecadadas e compradas, somente a partir do início da pandemia, em março, mais de 10 mil cestas básicas para que sejam doadas até o final do ano. São mais de 1,9 mil por mês. No ano passado todo, foram 7,3 mi cestas.
Cenário
Segundo o economista Juan Pereira, 26, a alta do preço dos alimentos vivida no Brasil está ligada ao cenário da economia mundial e ao aumento das vendas dos produtos brasileiros para o exterior.
“Ficou mais vantajoso exportar o produto e aproveitar o câmbio favorável. Alguns produtores privilegiaram a exportação do arroz do que disponibilizá-lo para o mercado interno”, diz. “Quem paga mais leva o arroz”.
Como alternativa, algumas pessoas tiveram de trocar o que consumiam para conseguir ter comida na mesa.
É o caso de Camila (nome alterado para preservar a identidade da fonte), 16, que vive com o marido no Jardim Ideal, no Grajaú, bairro da periferia na zona sul de São Paulo. O depoimento foi tomado pelos jornalistas Ana Beatriz Felício e Lucas Veloso, da Agência Folha Press, do qual a Folha da Região é parceira.
Alimentos antes comuns na rotina da casa de Camila agora estão sendo substituídos. A carne, por exemplo, deu lugar ao ovo. “Está difícil, meus pais também estão desempregados, ajudo no que posso porque minha mãe é doente”, afirma a estudante.
Antes da pandemia Camila trabalhava como babá, mas perdeu o emprego assim como o companheiro, que era atendente de telemarketing. Segundo ela, antes da covid-19, era possível fazer uma boa compra no mercado com R$ 200, mas agora está mais complicado.
“Subiu demais os preços de alimentos, o arroz, feijão, óleo, carnes. Tentamos o máximo economizar, mas é difícil porque as coisas estão bem caras”.
O básico
Situação semelhante vive a dona de casa Isabel Cristina Rosa, 62, em São Mateus, na Zona Leste de São Paulo. Sem renda e dependente do auxílio emergencial, ela conta que ‘só está dando para comprar o básico’.
“Com esses valores, agora só compro o que é necessário, como arroz, feijão e alguma mistura que está na promoção”, afirma. Há alguns meses, Isabel conseguia comprar outros alimentos, como frutas, além de fazer feira.
Sobre as últimas idas ao mercado, Isabel diz que tem sido cada vez mais comum a troca de alimentos por marcas mais baratas ou deixar de comprar alguns itens “luxuosos”, como biscoitos. “Troquei porque os preços estão fora do normal. Resumindo, o meu dinheiro está sendo só para mercado mesmo”. (Com Folhapress)