Em um mês dedicado totalmente à prevenção ao suicídio por meio da campanha Setembro Amarelo, a Polícia Civil abordou o tema durante uma live realizada na manhã desta quinta-feira (24), intitulada “saúde mental para os profissionais de Segurança Pública”.
O encontro, transmitido ao vivo pelos canais oficiais da Instituição nas redes sociais, foi apresentado pela delegada Jaqueline Makowski de Oliveira Bariani, responsável pela Divisão de Prevenção e Apoio Assistencial (DPAA), e teve como palestrante o tenente-coronel José Edir Paixão de Sousa, do Corpo de Bombeiros do Estado do Ceará.
Também participaram do debate outros dois policiais civis que integram o DPAA: Karina de Palma Alvares, escrivã de polícia e psicóloga, e Edilson Delgado Rodrigues, investigador de polícia e psicólogo.
Logo no início da conversa, foram abordadas as questões que destacam o profissional de Segurança Pública dentro do contexto do suicídio. De acordo com Sousa, a atividade policial requer muita dedicação e expõe o agente à violência, que é o seu principal foco de combate. Isso ocasiona, algumas vezes, uma imagem deturbada do policial perante à sociedade, o que pode prejudicar a saúde mental deste agente.
Sobre os perfis de profissionais deste meio mais suscetíveis a cometer o suicídio, o coronel ressaltou aqueles que não praticam atividades físicas, que possuem uma atividade profissional extra (trabalho privado) ou até mesmo quem já possuí algum problema mental que não foi tratado. Os policiais aposentados que não desenvolvem outra atividade também são um ponto de atenção, segundo o palestrante.
Como abordar o suicídio e identificar pessoas suscetíveis
A maneira de colocar o tema suicídio em debate foi uma das dúvidas que surgiram ao longo do encontro. Sousa explicou que o termo deve ser tratado normalmente, desde que sempre venha atrelado à prevenção e promoção da saúde mental. Além disto, enfatizou a necessidade de orientar as pessoas a buscarem ajuda com um profissional capacitado.
Como parte dos alertas para identificar uma pessoa que esteja passando por problemas, podendo resultar no suicídio, o coronel pediu um atenção especial para aqueles que começam a chegar atrasado no trabalho repetidamente, apresentam desleixo e, principalmente, se isolam.
Como prevenir?
Para todos os participantes da live a melhor forma de prevenir o suicídio é manter boas relações sociais e se preocupar com o próximo.
O palestrante explicou que saber encaminhar quem precisa ao profissional certo, treinar as próprias pessoas da equipe para que saibam identificar aqueles que estão passando por problemas, além de focar no que se pode fazer no lugar de culpar quem passa por isso, são os primeiros passos para a prevenção. “Somente conhecendo podemos prevenir”, destacou.
Karina, por sua vez, explanou sobre o trabalho da Polícia Civil acerca do tema, de como a Instituição é atuante e se preocupa com a saúde física e mental dos seus policiais. Para isso, citou um projeto piloto, em execução na DPAA, que tem como foco explicar o que é e como funciona o suicídio, bem como ocorre o adoecimento para que todos os policias se monitorem e saibam o momento certo de buscar ajuda de um profissional.
A escrivã e psicóloga também destacou as relações sociais neste processo. “Todos nós temos responsabilidade com o outro e precisamos dele. Quando há abertura para o outro falar da sua dor, ele se sente querido e percebe que se matar não é a solução”, disse a policial.
Segundo Karina, as pessoas que cometem suicídio não têm a intenção inicial de tirar a própria vida e sim de acabar com seu sofrimento. Por isso, ela ressaltou ser essencial a humanização para com o outro e a promoção de um ambiente de trabalho saudável. “Quando um colega é empático com o outro mudamos a cultura institucional, criando uma instituição de ajuda e acolhimento, e a Polícia Civil está envolvida nesta causa. É toda uma estrutura para fazer frente à promoção de saúde”, afirmou.
A policial também levantou outra questão durante o encontro. De acordo com ela, não se pode focar apenas na pessoa com o problema ou achar que ele é causado apenas por um setor da vida. Para ela é preciso levar em consideração todo um contexto onde esta pessoa está inserida, como família, trabalho, qualidade de vida e relações interpessoais. Todos esse pontos podem influenciar no psicológico.
Quarentena x suicídio
Uma das últimas perguntas levantadas na conversa foi a influência do isolamento social, imposto pela pandemia do novo coronavírus, nos casos de suicídio. Para Sousa é preciso entender que o momento pede um distanciamento físico, o que não significa deixar de se socializar – parte importante no combate ao suicídio. Como exemplo, ele citou a própria live: “A nossa distância, de quilômetros, não impediu que tivéssemos engajados socialmente”.
Nathalia Pagliarini