O Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco) do Ministério Público de São Paulo, com apoio da Polícia Militar e do 1º Batalhão de Polícia Militar de Choque (Rota), deflagrou, na manhã desta segunda-feira (14/9), a Operação Sharks para cumprimento de mandados de prisão e de busca e apreensão contra lideranças da maior facção criminosa que age nos presídios e nas ruas do país.
Participam da operação promotores de justiça, agentes do MPSP e mais de 250 policiais militares, utilizando 65 viaturas. Foram expedidos pelo juiz Ulisses Augusto Pascolati Junior, da 1ª Vara de Crimes Tributários, Organização Criminosa e Lavagem de Bens e Valores da Capital, 40 mandados de busca e 12 mandados de prisão para cumprimento na em São Paulo, cidades da região metropolitana, da Baixada Santista e do interior. Nove investigados estão foragidos.
Foram presas quatro pessoas em flagrante por tráfico de drogas. Um investigado entrou em confronto com a polícia e morreu após tiroteio. Havia explosivos escondidos no local, levando à atuação do GATE. Durante as buscas foi apreendida quantia superior a R$ 100 mil em dinheiro vivo.
Diversos veículos de luxo e porções de drogas também foram recolhidos, bem como uma pistola calibre 9mm, munição e oito cartuchos de emulsão explosiva (TNT). Os agentes encontraram também diversos equipamentos eletrônicos e documentos, parte dos quais relacionados à propriedade de bens.
Os valores em dinheiro serão depositados judicialmente, enquanto os veículos poderão ser alienados, evitando a depreciação. Esses recursos poderão ser revertidos para utilização no combate ao tráfico e às organizações criminosas. As drogas e explosivos apreendidos deverão ser destruídos.
As investigações, conduzidas por uma força-tarefa do MPSP composta por oito promotores de Justiça e agentes de investigação com apoio da Polícia Militar, foram iniciadas no primeiro semestre de 2019, a partir do cruzamento de múltiplos dados, mirando integrantes dos principais escalões da facção criminosa Primeiro Comando da Capital (PCC).
As provas colhidas revelaram que a cúpula da facção movimenta mais de R$ 100 milhões anualmente. Esse dinheiro é proveniente, basicamente, do tráfico de drogas e da arrecadação de valores de seus integrantes, tudo com rigoroso controle em planilhas.
As investigações revelaram a cadeia logística do tráfico de drogas da facção, bem como a sucessão entre suas principais lideranças à frente da fonte de maior renda da organização criminosa, apontando a participação de 21 criminosos, alguns presos durante a apuração dos fatos.
Para ocultar centenas de milhares de reais semanalmente, os investigados compravam veículos e se valiam de imóveis com fundos falsos, onde guardavam dinheiro vivo antes de realizar transferências, muitas vezes por intermédio de doleiros.
Entre os investigados, estão as principais lideranças do PCC em liberdade e algumas já presas. Alguns integrantes da facção se radicaram no exterior, comandando atividades logísticas a partir de outros países e reduzindo o risco de serem presas.
Entre eles, destaca-se M.R.A., principal líder de rua atualmente do PCC, à frente da “SINTONIA FINAL DA RUA”, responsável por comandar os integrantes soltos da organização criminosa, mantendo contato direto com a cúpula presa da facção.
É suspeito de ser responsável pelos planos de fuga das lideranças da facção reclusas em presídios federais desde 2019, quando o Gaeco obteve ordem para suas transferências. Também é suspeito de liderar os planos de assassinar agentes e autoridades públicas em represália às transferências e às ações contra a cúpula da facção. M.R.A. ostenta cargo de adido da Embaixada de Moçambique.
As investigações revelaram que M.R.A. herdou as funções da “SINTONIA FINAL DA RUA” dos antecessores, também investigados, E.A.A., M.M.P. e D.L.G. Logo abaixo de M.R.A, atua C.J.P.F., à frente do “SETOR DO RAIO-X”, órgão de consulta da “SINTONIA FINAL”, responsável pela comunicação entre a cúpula solta e todas as demais funções da facção, cumpridoras das suas determinações.
Integrante destacado do “SETOR DO RAIO-X”, G.F.L.P. era responsável pela chamada “CÉLULA TERRITORIAL”, incumbido do contato entre a cúpula e as lideranças atuantes em outros estados do Brasil e países da América Latina, a chamada “SINTONIA GERAL DOS ESTADOS E PAÍSES”.
Dois outros integrantes do “SETOR DO RAIO-X” tiveram suas prisões decretadas, G.S.L., responsável pela logística de distribuição da maconha na facção criminosa (“SETOR DO BOB”) e W.R.C., responsável último por fazer cumprir as normas e a disciplina da facção criminosa (“RESUMO DISCIPLINAR”).
Além das funções de comando da organização criminosa, são alvos da investigação integrantes responsáveis pela logística do tráfico de drogas.
V.A.S. e S.L.F.F. comandam a cadeia de suprimento de drogas da facção, sobretudo aquela vinda de outros países. Permanecem foragidos. Suspeita-se que estejam fora do Brasil, de onde atuam para a facção. Ambos constam do rol de pessoas mais procuradas do Ministério da Justiça – como constava o também investigado, já preso, L.A.F.
Para a distribuição das drogas, a facção tinha como seu último responsável o investigado O.L.B.J., à frente da “SINTONIA FINAL DO PROGRESSO” e da “PADARIA” (refino de drogas), responsável direto pelo preparo, guarda e divisão da droga entre os integrantes.
Ele contava com S.L.F. como seu apoio direto nessa função. Este quadro da facção ainda contava com o J.P.T.S. e E.M., bem como com um setor financeiro, tendo como destaque C.L.R.L. Parte dessas funções foram antes exercidas por D.M.G.C. (“FINAL DO PROGRESSO”) e R.S.L. (“SINTONIA FINANCEIRA”), também investigados no caso.
Em comum entre as lideranças que são alvo da operação, além do elevado poder decisório e a proximidade com a cúpula presa, está o fato de que todas ostentam vida de luxo, com múltiplos imóveis, carros de luxo, quando não residem fora do país e com seus gastos pagos pela própria facção, em completa distinção da base da facção, formada por população em vulnerabilidade social, moradora, no mais das vezes, de regiões periféricas.
O MPSP tem 30 dias para encerrar as investigações, ouvindo os presos e examinando os materiais apreendidos (documentos e equipamentos eletrônicos), para apresentar as denúncias perante a Justiça.
Os valores em dinheiro serão depositados judicialmente e poderão ser revertidos para utilização no combate ao tráfico e às organizações criminosas. As drogas apreendidas deverão ser destruídas.
Os investigados podem responder por crimes de organização criminosa armada (até 12 anos de pena), tráfico de drogas (até 15 anos), associação ao tráfico (até 10 anos) e lavagem de dinheiro (até 10 anos).