A comida que vai à mesa do araçatubense está bem mais salgada do que de costume. Itens básicos tiveram sucessivos aumentos de preços, como o arroz de cada dia, que teve uma alta superior a 50%. A inflação é motivada pela alta do dólar, que tornou mais competitivos os produtos brasileiros lá fora, estimulando as exportações, e também pelo aumento do consumo nas residências com o isolamento social por causa da pandemia de Covid-19.
Os itens que tiveram altas mais expressivas foram o óleo de soja, o arroz e as carnes suínas e bovinas, mas houve aumentos pontuais no preço do feijão e do leite, por causa da estiagem, que reduz a produção no campo. Os demais itens sofreram o impacto das vendas para o mercado externo – com o dólar acima dos R$ 5,00, os produtores optaram pela exportação, em detrimento do abastecimento interno.
Para se ter uma ideia, o custo de um pacote de cinco quilos de arroz para os supermercados era de R$ 12,00 em fevereiro e, hoje, é de R$ 23,00, alta de 91,66%. A projeção é de que chegue aos R$ 25,00 até o mês que vem. Para o consumidor final, o mesmo produto era vendido a R$ 17,90 no início do ano e, hoje, é comercializado a R$ 25,00, aumento de 39,66%.
Carnes
As carnes suína e bovina também tiveram alta nos preços, motivada pelos embarques ao exterior. Conforme relatório da Secex (Secretaria de Comércio Exterior), foram exportadas 87,7 mil toneladas de carne suína in natura em agosto, leve queda de 2,8% na comparação com o total de julho, mas 87,5% acima do volume embarcado em agosto de 2019.
Segundo o Cepea (Centro de Estudos de Avançados em Economia Aplicada), a expressiva demanda chinesa por carnes, especialmente bovina e suína, tem sido o principal motivo de elevação nos embarques brasileiros.
Com a forte demanda no exterior e a consequente queda nos estoques internos, o preço subiu para o consumidor brasileiro. A carne suína teve alta superior a 54%, levando-se em conta que o quilo da costela suína, antes vendido a R$ 11,00, hoje é comercializado a R$ 17,00.
O mesmo ocorreu com a carne bovina. O acém, que custava R$ 16,00 o quilo, agora é vendido a R$ 25,00, 56% a mais. Neste caso, além das exportações, há também a entressafra que impacta nos preços. O leite também teve o preço reajustado por causa da estiagem, com aumento médio de 15%.
Outro produto em alta é o óleo de soja. Antes, um litro do produto custava R$ 3,20 no atacado; agora, custa R$ 5,75, ou seja, 79,68% a mais. Nas gôndolas, o consumidor que pagava R$ 4,50, hoje chega a pagar R$ 6,00. Os que supermercados que conseguem preços menores têm estoques do produto e ainda não repassaram os aumentos.
Neste caso, no entanto, a tendência, agora, é de queda, segundo o Cepea (Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada) da Esalq/USP, porque, com a demanda por farelo de soja, há excedente de óleo – ao ser processada, a soja resulta, em geral, em 70% de farelo e entre 19% e 20% de óleo.
Impacto no orçamento
Para o supermercadista Carlos Fernando Felipe, dono do Rosa Felipe e presidente da Rede Pas, que reúne 24 supermercados entre Castilho e Cafelândia, a preocupação é de que a tendência ainda é de alta para alguns produtos. “É muito difícil porque impacta demais no orçamento da população”, afirmou.
Segundo ele, os supermercados que possuem estoques estão tentando segurar o aumento para não repassar aos consumidores. “As altas foram sucessivas e estamos tentando segurar ao máximo, mas uma hora os estoques vão acabar e o dólar não tem tendência de queda, o que significa que as exportações vão continuar”, observou.
Embalagens
Outro fator preocupante, conforme Felipe, é que, com a pandemia de Covid-19, as indústrias de embalagem deixaram de produzir e as empresas já enfrentam falta de matéria-prima para embalagens de plásticos. “A indústria já sinalizou 30% de alta neste mês e os preços devem subir mais 20% em outubro, o que também vai impactar no valor final dos produtos”, antevê.
Para ele, a situação atual é uma novidade para toda a sociedade e é difícil prever o que irá acontecer daqui para frente. No entanto, ele calcula que a volta à normalidade deve levar pelo menos seis meses.