A manicure Kate Bilintani, 41 anos, que havia perdido a guarda da filha, de 12 anos, após denúncia do Conselho Tutelar de Araçatuba, sobre possíveis maus tratos e abuso sexual em um ritual de Candomblé, conseguiu reaver a guarda da menina na última sexta-feira (14) à noite. Ela disse que após o nascimento da menina, essa foi a maior alegria de sua vida, após um distanciamento que durou 17 dias.
Assim que recebeu o comunicado do oficial de Justiça, ela foi à casa da mãe buscar a filha e voltou com a menina para comemorar a decisão judicial, junto a um restrito grupo de amigos do Candomblé. “Cheguei com ela na sexta-feira e jantamos um churrasco juntas, matando a saudade. Nossa rotina ainda não está normal, estamos até agora apenas matando a saudade gerada nesses 17 dias de incertezas”, disse Kate à reportagem do Regional Press.
Agora ela aguarda o desfecho definitivo do caso e espera que tudo seja esclarecido e que as pessoas responsáveis pelas falsas denúncias e acusações sejam responsabilizadas. Dois fatores que pesaram na decisão de devolver a guarda à mãe da menina foi o laudo do IML, que não constatou lesões, e o depoimento dela, a qual afirmou que estava no terreiro por vontade própria e quer seguir a mesma religião da mãe.
No período em que ficou com a avó materna, que havia conseguido a guarda após entrar com uma ação devido à denúncia do Conselho Tutelar, sobre maus tratos, a menina continuou com a rotina das aulas virtuais e também seguiu os preceitos do candomblé. “Ela foi bem cuidada, estava com a avó. Mas morrendo de saudades e também não via a hora do nosso reencontro”, disse a manicure.
A mãe da menina explica que vai fazer a vontade dela, que é seguir o candomblé. “Vamos deixar ela concluir a etapa de iniciação e seguir conforme a vontade dela. Nunca forçamos a nada e ela sempre quis participar”, explicou a mãe. Kate espera que o caso sirva de exemplo para todo o país e que as pessoas passem a atender que o candomblé é uma religião como qualquer outra e que tem Deus acima de tudo.
O Caso
O caso veio à tona no dia 23 de julho, depois que a Polícia Militar foi acionada para comparecer em um terreiro de candomblé, no bairro Água Branca, onde uma menina estaria sendo vítima de maus tratos e suposto abuso sexual. Na ocasião, foi explicado que a jovem estava em um ritual de iniciação ao candomblé, por isso precisava ficar alguns dias em confinamento e havia passado por processo de raspagem dos cabelos.
Kate explicou que a iniciação é como um retiro, onde a criança fica alguns dias no terreiro, quem tem estrutura de uma residência, e não tem nada a ver com cárcere e também não há qualquer tipo de sofrimento. O ato de raspar a cabeça faz parte do ritual e a menina, envolvida no caso, estava ciente e concordou, segundo a mãe e também conforme depoimento dela própria à Justiça.
A manicure disse que sua mãe foi influenciada por suas irmãs para entrar com o pedido da guarda da menina, após exposição do caso na mídia. Ela disse que sempre manteve um bom relacionamento com a mãe, mas agora não se relaciona mais e nunca acreditou que a mãe pudesse pedir a guarda de sua filha. Uma prima da menina, sobrinha de Kate, foi a advogada que moveu a ação.
Kate diz que como seus familiares são católicos, não aceitam os atos de sua religião, e entende que isso é intolerância religiosa. Sobre o relacionamento com os familiares, ela disse que ainda não chegou a conversar com eles sobre o assunto. “Eu entendo que não sou eu quem precisa pedir desculpas sobre o que aconteceu”, finalizou.
Nota
Conforme reportagem da TV Tem, que foi ao ar no sábado (15), a avó materna recebeu com serenidade a decisão que revogou a guarda, da neta, e vai aguardar os trâmites da Justiça. A nota também diz que o pedido da guarda não se deu por preconceito à religião, e sim por preocupação à integridade física, moral e emocional da criança por conta das denúncias que chegaram ao Conselho Tutelar.