Durante o isolamento social provocado pela pandemia do novo coronavírus (covid-19), a permanência das famílias em casa tem causado o aumento do consumo em diversos segmentos. Com a injeção de recursos no mercado, como os do Auxílio Emergencial de R$ 600 e mais recentemente o saque do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS), as reformas e obras em geral ajudaram a movimentar o setor da construção civil. Na região de Araçatuba, por exemplo, houve um crescimento de até 50% nas vendas de materiais para construção.
Em um levantamento feito pela Folha da Região entre segunda (20) e terça-feira (21), foi possível apurar que a venda de materiais de construção teve um aumento de até 50% assim que a quarentena foi determinada.
Segundo o gerente do Depósito União, em Araçatuba, o local viu a demanda aumentar logo nos primeiros dias do isolamento. “Notamos uma procura significativa pelo material de construção. A verba do governo influencia sim, pois algumas pessoas passaram a ter acesso a esse valor. Outro fato é que as pessoas estão em casa, alguns de férias, e essa quantia, que seria destinada a um passeio, está sendo investida em construção”, pontua.
Outra loja da cidade que também percebeu um aumento significativo nas vendas foi a Construpérola. “Aumentou em cerca de 20%. Muitas obras estão em andamento, com condomínios novos na cidade e muitas pessoas também estão aproveitando para fazer reforma”, informou um funcionário à reportagem.
Já na loja Margil – Materiais para Construção, também em Araçatuba, de acordo com as informações colhidas, muitas pessoas que estão sem trabalhar aproveitaram o momento para realizar uma reforma inacabada ou necessária, que ainda não teve tempo de ser feita. “As vendas aumentaram em 20%”, comentou um atendente. No Depósito Real, as vendas aumentaram de 30 a 40% no último mês. “O auxílio com certeza está influenciando, além do fato de outras lojas do comércio estarem fechadas. Saem muitos materiais de acabamento, tinta e reboco”, relatou um dos vendedores.
Em algumas lojas do ramo, em Birigui, também foi constatado um aumento no número das vendas. De acordo com um funcionário da Polizel, o aumento pela procura dos materiais começou a ser percebido entre o mês de junho e julho. “As vendas aumentaram em 20%, principalmente em materiais de acabamento”, relatou.
O QUE DIZ O SINDUSCON OESP
Para o presidente do Sinduscon OESP (Sindicato da Indústria da Construção Civil da Região Oeste do Estado de São Paulo), Aurélio Luiz de Oliveira Júnior, como o isolamento social tem feito muita gente ficar mais tempo em casa, algumas pessoas têm aproveitado o momento para fazer reformas.
“É fato que, na correria diária, a gente vai deixando a manutenção da residência um pouco de lado e nem nota pequenos problemas. Além disso, a gente lembra que faz muito tempo que a residência está do mesmo jeito, sem uma nova pintura ou alteração nos ambientes. Acontece que hoje essas questões são mais percebidas e passam a incomodar, ou mesmo e aí, vem a reforma”, diz Oliveira Júnior.
Engenheiro de formação, ele lembra que, por mais simples que seja uma obra, é importante contar com um profissional que seja responsável por realizar estudos em relação à infraestrutura e aos cronogramas.
A reforma tem como principal característica a preservação da planta e da atual estrutura do imóvel, ou seja, os projetos que somente alterem de forma externa o local. Configura como reforma, por exemplo, a pintura dos ambientes, a troca de azulejos e de revestimentos, a troca de luminárias e a fixação de prateleiras.
“Recomendo que não se abra mão de um engenheiro de obras, que é responsável por avaliar os procedimentos. Ele faz o planejamento, gere os recursos, coordena os demais profissionais. Além disso, realiza testes e estuda o terreno e a construção, visando garantir a segurança e o prosseguimento da reforma”, ressalta.
Pesquisa divulgada pela Associação Brasileira da Indústria de Materiais de Construção (Abramat) mostra que em maio o setor faturou 10,6% mais do que em abril. Já a venda de produtos usados em acabamentos foi a que mais cresceu nesse período – aumento de 17,5%.
O presidente do Sinduscon OESP faz questão de destacar também que há otimismo no setor em relação a novas construções. Ele reforçar essa percepção, ele cita uma fala do ministro da Economia, Paulo Guedes, que em evento recente em São Paulo disse acreditar um “boom” de uma década na construção civil a partir do momento atual de juros baixos.
Segundo Guedes, o setor contratou 5 mil pessoas, o que já seria indicativo do processo de retomada após o momento mais crítico da pandemia. Ele estimou ainda que de 1 milhão a 2 milhões de consumidores poderão entrar nesse mercado.
“O fato é que a indústria da construção civil é um dos principais setores produtivos do Brasil e do mundo, e vai certamente capitanear a retomada econômica pós-pandemia. No que diz respeito ao cenário atual, devemos levar em conta o seu potencial de geração de empregos, que tem afligido a todos, tanto quanto a questão sanitária, seja em atividades formais ou em prestação de serviços autônomos. De toda forma, é fundamental a ampliação dos investimentos públicos e o estímulo a investimentos privados nos setores da construção. Temos condições de estimular a economia e, em paralelo, resolver problemas que temos há muito tempo”, conclui Oliveira Júnior.