Prefeitos podem endurecer medidas de isolamento social, mas não podem afrouxar e devem seguir a orientação do Estado, entende o secretário de Desenvolvimento Regional do Estado, Marco Vinholi. Em entrevista exclusiva à Folha da Região, se referindo ao combate ao coronavírus, ele afirma que os municípios paulistas têm entendido que essa é uma postura importante para o “resguardo” da saúde de todos.
Essa união é a única forma de enfrentar a pandemia, que justamente agora tem seu epicentro do Interior paulista. “Uma ação que um município faça pode impactar outros, e a rede de saúde de alta complexidade é uma rede regional, portanto essa organização se dá de forma conjunta”, diz Vinholi, que também falou sobre política e eleições, mesmo com ressalvas de que “o momento” é de se pensar em deter o avanço da doença.
Sobre o governo de Jair Bolsonaro, desafeto do governador João Doria, Vinholi resumiu afirmando que, ao contrário de São Paulo, o Palácio do Planalto não segue “a medicina e a ciência”. Ao ser questionado pela reportagem, Vinholi também chamou de “incoerentes” e de “políticas” atitudes como a do prefeito de Mirandópolis, Everton Sodario (PSL), conhecido como “Bolsonaro Caipira”, que tem atacado o Estrado e defendido o uso da cloroquina.
Como tem sido o relacionamento do governo com os prefeitos do Interior, especificamente da região de Araçatuba?
Temos tido um excelente relacionamento em um momento importante de articulação entre governo e prefeitura, algo que têm se traduzido em resultados relevantes que possibilitaram o resgate da saúde de mais de 60 mil pessoas no estado e têm produzido o resguardo da população de Araçatuba como um todo.
Como o senhor avalia as reiteradas tentativas dos prefeitos em flexibilizar, por conta própria, a abertura do comércio?
A imensa maioria dos prefeitos do estado tem realizado uma boa gestão no combate ao coronavírus. Evidentemente, uma parcela seguiu o modelo de flexibilização e optou pela reabertura do comércio, avaliando-a como necessária. Nós apresentamos os dados da saúde para resguardo da vida e também para a economia, que deverá reagir de forma mais intensa com a melhoria da saúde, na sequência do Plano São Paulo.
Até onde vai a autonomia dos prefeitos para modificar um decreto do Estado?
O prefeito pode endurecer mais que o Estado e também legislar sobre o que não está colocado na legislação federal, nem na legislação estadual. Mas é fundamental que ele possa resguardar a legislação estadual, uma vez que uma ação que um município faça pode impactar outros, e a rede de saúde de alta complexidade é uma rede regional, portanto essa organização se dá de forma conjunta.
Como o governo do Estado avalia o cenário na região e em especial Araçatuba na conduta em relação à pandemia?
Os prefeitos têm feito uma boa gestão acompanhando o estado na imensa maioria das ações, apresentando resultados no que tange à capacidade hospitalar da região que foi abastecida e fortalecida com novos respiradores, demonstrando o resultado do trabalho conjunto entre prefeitos e Governo do estado para a região de Araçatuba até o momento.
Para o governo, quando ocorrerá o pico?
Nós estamos acompanhando uma desaceleração dos casos na capital e na Grande São Paulo, enquanto que estes números aceleram no interior. Portanto, o pico ainda deve chegar no próximo mês no interior.
O prefeito de Mirandópolis, Everton Sodário (PSL), conhecido como Bolsonaro Caipira, tem feito ataques ao Estado em vídeos e comprou, recentemente, cloroquina para a rede pública. Qual a posição do senhor em relação a isso?
Não quero comentar pessoalmente sobre o prefeito, mas avalio as ações como incoerentes, entendo que por motivação mais política. Mas é responsabilidade de todos nós, vamos sempre fazer o possível para ajudar a população e resguardar a saúde pública da cidade.
Como o senhor avalia o governo de Jair Bolsonaro?
Não quero fazer avaliação do governo, mas especificamente uma avaliação sobre o momento de pandemia. Evidentemente que o trato sobre a questão do isolamento social se mostrou como ação contrária a nossa avaliação e também da Organização Mundial de Saúde (OMS), e igualmente da medicina e da ciência, havendo portanto uma divergência clara sobre este tema, que é o principal em nossa atuação hoje no Governo do Estado.
Como uma possível mudança na data das eleições municipais pode influenciar no combate à Covid? O sr é a favor da mudança?
Sou a favor da mudança e entendo que devemos neste momento dar todo o foco ao combate do coronavírus. Já tivemos avanços importantes no estado de São Paulo, mas ainda temos um caminho a ser percorrido.
O senhor teme que as medidas restritivas de combate à Covid influenciem no desempenho de candidatos apoiados pelo governo nas próximas eleições?
Nós não estamos pensando em eleições neste momento e nem nas próximas eleições, mas sim nas próximas gerações, fazendo aquilo que é correto, calcado na ciência, para que possamos superar esta pandemia que afetou o mundo todo e também o nosso estado. Portanto, nós vamos seguir fazendo o que é o correto e apresentando para a população essas ações, como temos feito diariamente. O Governador João Doria tem liderado este processo e nós compreendemos que este é um momento de muita luta, muita construção pelo estado de São Paulo, algo que acredito será reconhecido futuramente na história do nosso Estado. O Governo não pensa em eleições neste momento. O Governo trabalha no combate ao coronavírus.
Como a equipe do governador está trabalhando a hipótese de João Dória disputar a sucessão de Bolsonaro? O senhor, particularmente, diz que Doria termina o mandato ou vai pra disputa nacional e passa o Estado para o vice Rodrigo Garcia?
Eu entendo que o Governador João Doria é o homem público mais preparado neste momento para unir a sociedade e liderar um processo de retomada para o Brasil, mas não é o momento de pensar e nem falar sobre eleições, e isso só o tempo dirá.