(Folha da Região) Um exemplo de dedicação e perseverança que vem mudando a vida do ex coletor de lixo e hoje enfermeiro padrão Édio Wilson da Silva, que aos 48 anos divide seu tempo entre dois empregos, distantes 720 quilômetros um do outro, e o primeiro ano da faculdade de medicina. Ele é enfático ao dizer: “eu vou ser médico”.
Silva, natural de Santópolis do Aguapeí, tem uma história sofrida de luta que iniciou ainda na infância, quando, aos cinco anos, acompanhou os tios na roça. Ele lembra até hoje que em seu primeiro dia de trabalho conseguiu colher meio saco de café.
Na pré-adolescência, aos 12 anos, conseguia colher em média duas arrobas de algodão por dia. Os pais eram separados, o pai caminhoneiro e a mãe morava em São Paulo, onde trabalhava como doméstica.
Após deixar o trabalho no campo ele foi para a capital morar com a mãe, e conseguiu um emprego de officeboy. Neste período Silva morava com uma tia, porque a mãe residia no emprego. Ele ficou seis meses e acabou retornando a Araçatuba, onde passou a morar novamente com os tios.
Aos 15 anos foi morar com o pai em Santo Anastácio, onde trabalhou no corte de cana e também em uma fábrica de artefatos de cimento. Ele nunca teve preguiça para um dia vencer na vida.
Já aos 18 anos teve a primeira grande decepção de sua vida, ao ser dispensado do serviço militar ao se alistar na Base Aérea de Campo Grande (MS). “Era o meu sonho servir a aeronáutica. Quando fui dispensado foi um dia muito triste para mim”, recorda.
Depois disso passou a se dedicar também aos esportes, como atletismo, basquete e judô. Aos 18 anos voltou a morar com a mãe e o padrasto. Nesta época decidiu fazer educação física e trabalhava como servente de pedreiro na construção do Araçatuba Shopping, na avenida Joaquim Pompeu de Toledo.
Depois de atuar como servente ele conseguiu o emprego de coletor de lixo (lixeiro) na Prefeitura de Araçatuba. Na época não se empolgou com o curso de educação física e também não tinha condições financeiras para dar continuidade, e partiu então para o curso de auxiliar de enfermagem.
O primeiro emprego como auxiliar de enfermagem no Hospital de Amparo ao Excepcional Ritinha Prates. Como nunca teve preguiça de trabalhar, ele continuou na profissão de lixeiro e dividia o tempo como auxiliar de enfermagem. “Nesta época as pessoas me viam como auxiliar de enfermagem e diziam que tinha um lixeiro muito parecido comigo. Eu respondia brincando que era um irmão gêmeo”, lembra o enfermeiro.
Silva trabalhou na prefeitura até 2003. Ele trabalhava de lixeiro e ainda tinha tempo e disposição para treinar atletismo. Chegou a participar da São Silvestre. Dez anos depois ele voltava a atuar na prefeitura de Araçatuba, em 2013, mas em outra função, já com o diploma de enfermeiro padrão, concursado no Samu.
Posteriormente Silva passou em outro concurso público, para atuar no setor de urgência e emergência em Santa Helena, no Paraná. De 1997 a 2020 ele contabiliza 92 concursos, sendo reprovado em apenas seis. Os demais, alguns desistiu e outros chegou até ser chamado mas não assumiu.
Silva disse que nunca teve a pretensão de ser médico. Mas os amigos sempre falaram que ele era muito inteligente e esforçado. Ao fazer o exame psicotécnico para tirar sua primeira carteira de habilitação, em 2008, disse que teve um desempenho acima do normal, segundo foi informado pela pessoa que aplicou a prova.
Foi a partir deste resultado que despertou a vontade de fazer medicina, um sonho muito distante da realidade que ele vivia, até mesmo por ser casado, ter filhos e pouca estrutura financeira. Ele foi tentando alguns vestibulares ao longo de 12 anos e não conseguiu, passando perto em muitos deles.
No ano passado ele passou no concurso em Santa Helena, no Paraná, e conseguiu conciliar com o trabalho do Samu em Araçatuba, apesar da distância de mais de 700 quilômetros entre as duas cidades. Silva passa a semana em plantões noturnos no Paraná e cumpre sua carga horária aos finais de semana no Samu de Araçatuba.
Este ano ele conseguiu ingressar na faculdade de medicina na Cidade do Leste, no Paraguai, distante 100 quilômetros de Santa Helena, e encarou mais este desafio aos 48 anos de idade. Neste fim de semana ele estava a caminho de Araçatuba para mais um plantão, mas o motor do seu carro, um Gol, modelo antigo, fundiu no meio do caminho. Silva não se desanima nem nos momentos mais difíceis.
Ele disse que em função da Pandemia do Covid-19, as aulas na faculdade de medicina estão sendo por teleconferência. Atualmente Silva tem residência fixa em Araçatuba, na casa de sua mãe, em Santa Helena (PR) e também um apartamento em Cidade do Leste, onde cursa medicina. Ele é separado, tem seis filhos (um falecido) e três netos, e diz que nunca desistiu de seus sonhos e com muito esforço vem conseguindo realizá-los, e está vencendo na vida apesar de todas as dificuldades.
DEDICAÇÃO
E neste domingo, do Dia das Mães, Édio Wilson, o filho que sempre deu muito orgulho à sua mãe, diz que dedica toda sua trajetória de luta e conquista à ela, mostrando que nada e nenhum esforço foram em vão.