(Folha da Região) O aumento de escorpiões e consequentemente do índice de acidentes com esses insetos peçonhentos está relacionado a uma série de fatores, desde as características físicas do aracnídeo, falta de predadores e até condições favoráveis na área urbana para a sua proliferação.
O médico Carlos Roberto de Medeiros, diretor do Hospital Vitral Brasil, do Instituto Butantã, esteve em Araçatuba esta semana participando de um evento promovido pelo GVE (Grupo de Vigilância Epidemiológica) da região 11, com o intuito de estimular a prevenção, e realizou palestra com relação ao assunto para profissionais da área da saúde de 40 municípios da região, incluindo médicos e enfermeiros.
Ele falou principalmente sobre a importância da prevenção e manejo clínico para pacientes acometidos por animais e insetos peçonhetos, em especial pelo escorpião. Ele abordou assuntos relevantes para o público entender o que são esses acidentes no ponto de vista de um agravo importante em saúde pública.
“Os acidentes com escorpiões estão se tornando um problema de saúde pública”, disse o médico. Em suas palestras ele também deu explicações com relação à como deve se abordar o caso no ponto de vista clínica, como exemplo quando deve se usar o soro e qual a quantidade ideal. Segundo ele, nem sempre há necessidade do tomar o soro, porque os acidentes são classificados como leves, graves e moderados.
“A maioria são acidentes leves, 15% são moderados e graves, situações clínicas que podem elevar os riscos, até a morte”, explicou. No Brasil prevalece três tipos de escorpiões, o amarelo, o marron e o amarelo do nordeste. A maioria dos acidentes ocorre com os escorpiões amarelos.
Medeiros disse que o aumento da população de escorpiões acontece por alguns motivos como a forma de reprodução, que é por partenogênese, quando não há necessidade de acasalamento, ou seja, a fêmea consegue reproduzir sem a necessidade do macho. Cada vez que se reproduz podem nascer até 25 filhotes, e isso acontece duas vezes ao ano.
Os escorpiões encontraram nos meios urbanos as condições essenciais e facilidade de reprodução e sobrevivência. São insetos com hábitos noturnos, gostam de locais escuros e úmidos e encontram alimentos à vontade, que são as baratas. Eles surgem em porões, galerias de água, locais com materiais abandonados e não tem predadores naturais.
PREVENÇÃO
O médico alerta que a população pode ajudar a combater o inseto e prevenir acidentes cuidando adequadamente do lixo, não deixando acumular. Dentro de casa, é importante ter telinhas nos ralos e pias. Não deixar frestas no assoalho, nas paredes, nunca deixar cama e berço encostados na parede e não deixar roupas no chão.
Importante também que as roupa de cama não encostem no chão. O lixo deve ser bem acondicionado. Outra dica é não deixar a louça para lavar depois, porque louça suja atrai baratas e consequentemente os escorpiões.
SOCORRO
Medeiros lembra que em caso de acidente não adianta fazer nada em casa, é preciso lembrar que o quadro de escorpionismo na criança é de estabelecimento muito rápido e principalmente nestes casos não se pode perder tempo. Em caso de acidente, a vítima deve ser conduzida o mais rápido possível para uma unidade de atendimento de saúde.
Em Araçatuba a Santa Casa é a referência e tem disponibilidade do soro, que em 85% dos pacientes não há necessidade de se aplicar. “Mas, de inicio, não se sabe quem tem de tomar ou não o soro”, explicou.
INSETICIDA
O especialista ainda explicou que inseticidas não resolver no caso do escorpião, porque este inseto tem uma estruturas na parte ventral chamada de pente, que possibilita ao inseto identificação de moléculas no ambiente. Se ele percebe que tem algo nocivo, sai rapidamente do local. “O uso indiscriminado de inseticida não resolve o problema. O que resolve é manter o ambiente controlado”, afirmou.
GAMBÁ
Os melhores resultados, segundo o médico, se dão através da coleta manual. “Isso é melhor do que se pensar em controle por meio de produtos químicos”. Na natureza o escorpião tem seus predadores. “As pessoas costumam matar os gambás, mas ele é um predador natural do escorpião e imune ao veneno do aracnídeo. A galinha até come escorpiões, mas é uma ave de hábito diurno, enquanto que os escorpiões têm hábito noturno”.