A contratação de homens como cuidadores de crianças nas creches municipais virou motivo de polêmica em Araçatuba. De um lado, há mães inconformadas com o fato de que agentes escolares do sexo masculino estejam trocando fralda e dando banho em seus bebês e crianças. De outro, há quem os defenda, dizendo que trata-se de preconceito.
Os homens foram contratados no último concurso realizado pela Prefeitura, no final do ano passado, com a abertura de cem vagas para o cargo de agente escolar, com salário de R$ 1.417,54.
A criação dos cargos de agente escolar foi aprovada pela Câmara Municipal de Araçatuba e está prevista na lei complementar nº 260, de outubro de 2017.
Dentre as suas atribuições estão dar banho em bebês e crianças, trocar fraldas e roupas, executar trabalho de digitação, separar e entregar materiais pedagógicos, dentre outras. As funções são designadas pela direção da escola, de acordo com a necessidade de cada unidade escolar.
A maioria dos pais com quem a reportagem do Regional Press conversou, no entanto, é contra que agentes escolares homens troquem fralda e deem banho em seus filhos.
É o caso de uma analista de pedidos que tem um filho de três anos na creche do Verde Parque. “Eu acho isso errado. Para começar, nós sequer fomos avisados desta novidade pela escola, ficamos sabendo por terceiros. E eu não concordo que um funcionário homem dê banho no meu filho”, afirmou. “Eu estou muito preocupada, porque a gente vê casos de abusos envolvendo crianças todos os dias, e a maioria é praticada por homens”, disse.
Outra mãe, uma balconista que tem uma filha de cinco anos na creche do Verde Parque, também está inconformada com a novidade. “Eu ensinei minha filha que homem não podia vê-la pelada e lá na escola estão ensinando diferente e o que é pior, um estranho que está cuidando dela”, reclamou.
A mãe contou que soube das novas contratações por meio da filha, que relatou que um tio havia dado banho nela e ajudado a trocar de roupa. Por causa disso, a mãe disse que não deixa mais a filha em período integral na escola e a busca todo dia na hora do almoço. “Minha filha não quer mais ficar à tarde na creche porque se sente incomodada”, relatou.
Outra mãe ouvida pelo Regional Press que pediu para não ser identificada tem uma filha de cinco anos na escola e está grávida de nove meses. “No ano que vem, meu bebê, que é uma menina, terá de ir pra creche pra eu trabalhar. E eu perco até o sono de pensar que um estranho vai tocar nela”, disse. “Não se trata de preconceito, mas a gente sempre ensinou que homem nenhum pode tocar nas meninas e agora vem essa novidade”, completou.
VEREADORES
O vereador professor Cláudio (PMN), que preside a Comissão de Educação da Câmara de Araçatuba, disse que vai solicitar uma reunião com a secretária municipal de Educação, Silvana Sousa e Souza, para averiguar o que está acontecendo.
Já o vereador Arlindo Araújo (Cidadania) disse que não concorda que homens troquem fraldas e deem banhos nos bebês e crianças das creches. “Acho um absurdo”, afirmou, dizendo que irá se inteirar do assunto.
A vereadora Beatriz (Rede), que já atuou como secretária de Educação, disse que ser homem ou ser mulher não qualifica ou desqualifica ninguém. “Mas é claro que eles têm um superior imediato que precisa supervisioná-los”, ponderou. “Esta é uma questão que precisa de debate, de discussão, até porque tem muitas mulheres abusadoras também”, completou.
Para a vereadora, o ponto principal na criação da lei que deveria ter sido visto na época é a obrigatoriedade de curso superior para o cargo de agente escolar (neste caso, é exigido apenas o Ensino Médio).
“Teria que ser exigido, no mínimo, pedagogia, mesmo que seja para dar um banho, porque um banho em ambiente escolar é diferente do de casa, é um banho pedagógico”, defendeu.
PREFEITURA DIZ QUE PROPORCIONA IGUALDADE
AOS PROFISSIONAIS E QUE CRIANÇAS NÃO FICAM SOZINHAS