O comerciante Eduardo Fernandes, proprietário da Casa Fernandes, loja mais antiga e tradicional de Araçatuba, faleceu na noite desta segunda-feira (8), aos 87 anos. Ele estava internado havia 13 dias na UTI (Unidade de Terapia Intensiva) do Hospital da Unimed para tratar de uma pneumonia, mas não resistiu.
Português de nascimento, Fernandes veio aos 15 anos de idade para Araçatuba, de onde nunca mais saiu. Inicialmente, trabalhou em um atacadista. Depois, já na década de 1950, montou o seu próprio negócio, a Casa Fernandes, um armazém de secos e molhados, na Rua XV de Novembro, esquina com a General Glicério.
A esposa, dona Eva, companheira de uma vida toda, era casada com o comerciante português, araçatubense de coração, há 57 anos, e conta que a Casa Fernandes era a vida dele.
“Ele abria e fechava a loja, não permitia que ninguém fizesse isso. “Era uma pessoa maravilhosa, um homem íntegro, deixa como legado a bondade e o trabalho”, diz, emocionada, a esposa.
O comerciante, que fundou a Casa Fernandes em 1956, acompanhou as mudanças da cidade, como quando a antiga rodoviária, na XV de Novembro, ficou pequena para a quantidade de ônibus que chegava e partia, e teve de ser transferida para a Vila Bandeirantes.
Mesmo acompanhando as mudanças, Fernandes fez questão de manter a tradição. “Ele nunca quis mudar a Casa Fernandes, sempre manteve no mesmo lugar e do mesmo jeito, desde a sua inauguração”, diz a viúva, dona Eva.
SECOS E MOLHADOS
A loja funciona até hoje como um armazém de secos e molhados, onde se comercializa de tudo. De tudo mesmo. Tanto que no apagão de 2001, quando os brasileiros foram obrigados a economizar energia elétrica sob pena de multa, até o antigo chuveiro Tiradentes (uma espécie de balde que se pendura para tomar banho e vira a água sobre o corpo por meio de uma cordinha) podia ser encontrado na Casa Fernandes.
O comerciante André Luís de Oliveira trabalhou dois anos na Casa Fernandes e conta que aprendeu muito lá. Ele se recorda de que a loja sempre vendeu artigos que não se encontravam em outros lugares, como tripa de carneiro para fazer linguiça, pimenta do reino em grão, fogão industrial, cordas, botinas, tacho, queijo especial, cereais, óleo, bacalhau do porto, peixe em calda, soda cáustica para fazer sabão, dentre outros produtos.
“Ele era um ótimo patrão, aprendi com ele a cativar os clientes, a atender bem. Ele sabia comprar, sabia vender e sabia exatamente onde estavam todos os produtos da loja”, conta.
Oliveira se lembra ainda de que o comerciante o ajudou a renovar seus documentos quando sua moto foi apreendida e, sempre que ia ao exterior, voltava com presentes para os funcionários.
DESPEDIDA
Seu Eduardo Fernandes sofreu um AVC há cinco anos, mas mesmo assim, ainda ia à empresa. Nos últimos três anos, ficou mais recluso, em função da idade.
Ele deixa a esposa, Eva, três filhos e seis netos. O corpo do comerciante está sendo velado na capela da Funerária Cardassi da Avenida Saudade. O sepultamento está marcado para as 17h desta terça-feira (9), no Cemitério da Saudade.