O Hospital de Reabilitação de Anomalias Craniofaciais (HRAC/Centrinho) da USP realizou 74 procedimentos durante a Semana de Cirurgia de Enxerto Ósseo de Bauru, realizada entre 6 a 10 de maio, em parceria com a ONG Smile Train, que apoia centros de tratamento de fissura labiopalatina no Brasil e em diversos países.
O enxerto ósseo alveolar é uma cirurgia que reconstitui o osso do arco dentário em pacientes com fissura labiopalatina. É uma etapa avançada do tratamento, sendo indicada por volta dos dez anos de idade, podendo variar conforme as condições odontológicas de cada paciente.
O procedimento visa preencher e criar estrutura na região do arco dentário onde há defeito ósseo. Para tanto, é utilizado osso do próprio paciente, retirado da crista ilíaca (na região do quadril) ou do mento (queixo). Todo o procedimento cirúrgico dura em torno de duas horas, envolvendo equipe médica, odontológica e de enfermagem.
“Finalmente, vou poder ter um sorriso mais bonito e ter uma vida melhor. O rosto é um cartão de visita. Um sorriso bonito ajuda muito, percebo que o mercado de trabalho exige. Para mim, [essa cirurgia] terá um efeito muito positivo sobre como as pessoas olham, pois, muitas vezes, elas já excluem pela aparência”, afirma o estudante Gabriel Costa Carneiro Pereira, de 16 anos. Gabriel é de Goiânia (GO) e faz tratamento no hospital bauruense desde os 3 meses de vida.
Avaliação
De acordo com a cirurgiã-dentista Roberta Martinelli Carvalho, chefe técnica da Seção de Cirurgia Bucomaxilofacial do Centrinho-USP, o resultado da força-tarefa foi positivo. “Na rotina normal, são realizadas cerca de dez cirurgias de enxerto ósseo por mês, nessa ação foram 74 em uma semana”, afirma.
A cirurgiã explica que essa etapa é fundamental no tratamento de pacientes com fissura labiopalatina. “A cirurgia de enxerto ósseo reconstitui o rebordo alveolar, permitindo o progresso do tratamento ortodôntico para o restabelecimento da estética do sorriso e da função mastigatória, com implicação satisfatória para a autoestima e a qualidade de vida do paciente”, complementa.
Assistência e ensino
Segundo o professor Cristiano Tonello, chefe técnico da Seção de Cirurgia Craniofacial do Centrinho-USP, docente do Curso de Medicina da FOB-USP e um dos organizadores da Semana, um dos objetivos das forças-tarefas é otimizar a logística do centro cirúrgico e das equipes para procedimentos conforme as necessidades.
“O tratamento das fissuras tem diversas fases. Temos uma situação mais controlada nas etapas iniciais, que são as cirurgias reparadoras do lábio e palato. No momento, há demanda maior para etapas sequenciais, como o enxerto ósseo, e iniciativas assim nos permitem gerenciar melhor essas demandas”, explica o médico.
Superintendente do Centrinho-USP e coordenador do Curso de Medicina da FOB-USP, o professor José Sebastião dos Santos salienta que essas ações são válidas para minimizar o efeito da espera. “Houve uma cooperação muito grande entre os profissionais das diversas especialidades”, afirma.
A Semana de Cirurgia de Enxerto Ósseo de Bauru contou com a participação dos estudantes dos cursos de Medicina e Odontologia da FOB-USP e dos programas de Residência Médica e Multiprofissional e de Prática Profissionalizante do HRAC-USP, que acompanharam as cirurgias sob supervisão.
“Além do caráter assistencial, de viabilizar resolutividade no processo de reabilitação dos pacientes, a iniciativa teve importante viés acadêmico, foi uma experiência diferenciada na formação dos futuros médicos, cirurgiões-dentistas e especialistas”, afirma Tonello.