Um abraço simbólico em torno da antiga estação ferroviária de Araçatuba mobilizou cerca de 40 pessoas na manhã deste sábado (27). Elas são contrárias à demolição do prédio, inaugurado em 1963 e que serviu durante décadas de embarque e desembarque de passageiros do trem da ferrovia Noroeste do Brasil (NOB).
A destruição do espaço é cogitada pela Secretaria Municipal de Planejamento, com o argumento de “uma melhor urbanização da área e da interligação da Zona Norte com a Zona Sul”.
A intenção da Prefeitura foi divulgada em primeira mão pelo Regional Press no dia 25 de março deste ano. Desde então, um grupo vem se mobilizando na tentativa de impedir a demolição.
Até agora, já foram protocolados quatro pedidos de tombamento do prédio na Prefeitura. As análises e a decisão cabem à Câmara Técnica do Patrimônio Histórico e Cultural do Conselho Municipal de Políticas Culturais.
CUSTOS FINANCEIROS E AMBIENTAIS
Para a arquiteta e urbanista Manuela Boreggio, 33 anos, que participa do movimento pela preservação da antiga estação, fica mais barato para o município reparar o espaço do que demolir. “A demolição traz custos financeiros e ambientais”, argumenta.
Para ela, a antiga estação faz parte da história da cidade e esta memória deve ser passada para os jovens. Ela também acredita que a retirada do prédio não irá melhorar a interligação da Zona Sul com a Zona Norte da cidade, como argumenta o secretário municipal de Planejamento, Tadeu Consoni.
A arquiteta, que protocolou um pedido de tombamento do prédio nesta sexta-feira (26), com a assinatura de outras 20 pessoas, anexou ao documento entregue no Atende Fácil um laudo técnico preliminar assinado por um engenheiro, apontando que todas as patologias existentes na estação podem ser solucionadas.
Entre elas estão o piso desgastado, janelas quebradas, marcas de infiltração e descascamento de pintura, tudo devido à falta de manutenção.
SURPRESA
O analista de sistemas Adriano Coelho, um dos organizadores do Abraço simbólico na estação, disse que a notícia da possível demolição pegou todos de surpresa, porque não houve consulta à população. “A gente não sabia, assim como não sabemos se os vereadores são favoráveis ou contrários à medida”, disse.
Para ele, a voz corrente é que a demolição é um pedido de uma grande empresa que quer ter mais visibilidade. “A população precisa ser ouvida, muita gente não quer que este prédio seja destruído”, disse.
Ele também protocolou um pedido de tombamento da estação e acompanha o andamento do processo pelo sistema da Prefeitura, que mostra apenas que o documento foi encaminhado no dia seguinte ao protocolo, no Atende Fácil, à Secretaria Municipal de Cultura, em 29 de março.
“Depois disso, não há qualquer movimentação, por isso não temos informação sobre como anda este processo, nem mesmo se a Secretaria repassou o pedido ao Conselho”, afirmou.
MEMÓRIA AFETIVA
O engenheiro civil Rodrigo Cella, 36, que esteve no Abraço neste sábado, defende a preservação do prédio por causa da memória afetiva da população. “Muitas pessoas viajaram de trem. Minha mãe, por exemplo, viajava com a minha avó para Ponta Porã (MS)”, contou.
Ele cita ainda que o local conta a história dos ciclos econômicos do café, do algodão e do boi.
“Este lugar é um painel público ao ar livre para a cidade. A revitalização é importante para ocupar com arte, este prédio tem potencial artístico e cultural, além de se comunicar com a história da cidade”, defendeu.
VIAGENS DE TREM
As irmãs costureiras Inês Ferreira Costa, 69, e Neusa Maria Costa, 70, que moram no Bairro São Joaquim, também fizeram questão de comparecer ao evento para defender a recuperação da antiga estação. “É um prédio antigo da cidade que precisa ser preservado. Dá dó demolir isso aqui, faz parte da nossa história”, afirmaram.
As duas se recordam de quando embarcavam no local para ir até a fazenda onde seus pais trabalhavam. “Andamos muito de trem e temos boas recordações deste lugar. Tomara que preservem”, disseram.
FORMAÇÃO URBANA
A arquiteta e urbanista Ananda Soares Rosa, 26, também presente no Abraço, argumenta que a antiga estação ferroviária é a gênese de Araçatuba, o seu marco zero.
Ela, que é mestranda da Faculdade de Arquitetura, Artes e Comunicação da Unesp de Bauru, contou que esteve em um congresso sobre patrimônio histórico na semana passada, em Ourinhos (SP) e levou a questão aos participantes.
“Todos ficaram pesarosos com a possibilidade da demolição, porque a estação ferroviária faz parte da formação da cidade, foi justamente a partir da ferrovia que a formação urbana se deu”, afirmou.
Já o artista plástico Massato Ito defende que o prédio poderia ser usado para uma galeria de arte e para a realização de oficinas culturais.
CONSULTA
Segundo a Prefeitura, os pedidos de tombamento da estação (que o município insiste em chamar de plataforma) já estão com a Câmara Setorial de Patrimônio do Conselho Municipal de Políticas Culturais. Ainda segundo o município, será realizada consulta pública sobre a demolição nos bairros da cidade.