A antiga estação ferroviária de embarque de passageiros, localizada na Avenida dos Araçás, em Araçatuba, será demolida. A informação foi confirmada pela Prefeitura ao Regional Press e à Band FM 96,9, na manhã desta segunda-feira (25). O município informou que está em estudo o que será feito na área e ainda não definiu a data em que o prédio será derrubado.
A decisão divide opiniões. De um lado, o município argumenta que a demolição irá proporcionar melhor urbanização da área e integração da zona sul com a zona norte. De outro, historiadora e arquiteto defendem que, embora não seja tombada como patrimônio histórico, a construção é antiga e faz parte da história da cidade.
A demolição da estação é um pleito antigo da loja de departamentos Havan, na Avenida dos Araçás. A empresa chegou a solicitar, na gestão municipal anterior, a destruição do prédio daquela que funcionava como plataforma de embarque de passageiros de trens, para que a loja tivesse maior visibilidade na região central da cidade.
Na época, porém, o Conselho Municipal de Políticas Culturais se posicionou contra e a iniciativa não avançou.
OBRA
A antiga estação foi construída em 1963. O projeto é do arquiteto Luís Soares Villaça, com obra realizada pela empresa Valter Ishida Eng. E Const. Ltda.
De estilo moderno, a construção trouxe uma inovação tecnológica, segundo o arquiteto Mauro Rico. “Sob o ponto de vista técnico-construtiva, a obra marcou uma época com sua laje em balanço, sem colunas, e um sistema modular, com a mesma peça de concreto ao longo de toda a plataforma”, detalhou.
Ele é contrário à demolição, porque o prédio, embora não seja tombado, marca um período de pujança econômica do município. “Aquilo funcionava a todo vapor. Duas locomotivas de passageiros que saíam de Araçatuba, todos os dias”, relembra o arquiteto araçatubense.
HISTÓRICA
Para a historiadora Ângela Liberatti, a antiga estação ferroviária é, sim, considerada um prédio histórico. “Se Araçatuba tem 110 anos, uma construção que tem 56 anos é considerada antiga”, argumentou. O município tinha 55 anos de fundação quando a obra foi inaugurada. Ela também é contrária à demolição.
“As construções estão ligadas a uma época, a um modo de viver a cidade”, argumentou. “Elas acabam constituindo a memória da cidade, a ligação do cidadão com a cidade”, complementou.
Ela reconhece que o prédio é mal aproveitado, mas está na memória das pessoas e, se for demolido, uma característica importante da cidade irá desaparecer.
Outro argumento da historiadora é que a estação é um símbolo da história de Araçatuba, que começa com a ferrovia. “Ela é a última memória da nossa origem, da nossa emergência como cidade”, destacou.
Ela afirma, ainda, que o município já perdeu a referência da expansão cafeeira, que marcou a história da cidade, e agora não pode perder a referência da ferrovia. “A memória do patrimônio deveria ser melhor trabalhada”, defendeu.
Ângela diz, também, que o município precisa de espaços e a estação poderia ser melhor aproveitada, sendo utilizada como salas para quem espera o ônibus, já que é próxima do terminal urbano, ou mesmo como uma repartição municipal.
“É uma construção sólida, bem feita, o prédio é fresco, não precisa nem de ar-condicionado”, argumentou. Ela disse ainda considerar a demolição um desperdício, pois o espaço teve um custo para ser construído, o município vai gastar para demolir a obra e ainda terá de custear o projeto do que será feito no local.
Na antiga estação, funciona parte do Departamento Municipal de Trânsito (Demtra) e um guichê da Transportes Urbanos Araçatuba, para venda de passes e carregamento do cartão da empresa.
CONSELHO
A arquiteta Marina Colaferro, titular da Câmara do Patrimônio Histórico e Cultural do Conselho Municipal de Políticas Culturais, disse que ainda não havia sido informada oficialmente sobre a demolição e que não poderia comentar o assunto.
PLATAFORMA DE EMBARQUE FOI INAUGURADA EM 1963 E É
CONSIDERADA A QUARTA ESTAÇÃO DE ARAÇATUBA
A antiga plataforma de embarque de passageiros, localizada na Avenida dos Araçás, é considerada a quarta estação ferroviária de Araçatuba e foi desativada em 1992, após a retirada dos trilhos da área central da cidade.
A chegada dos trilhos a Araçatuba se deu em dois de dezembro de 1908, data que se tornou oficial como aniversário de fundação da cidade.
A primeira estação da cidade, pertencente à Companhia de Estrada de Ferro Noroeste do Brasil, funcionava em um vagão de madeira, com uma plataforma também de madeira, localizada na ponta dos trilhos, perto de onde é a Secretaria Municipal de Cultura. O local servia como ponto de apoio aos ferroviários.
Na década de 1912, a cidade ganhou uma estação de alvenaria, no mesmo local. Um terceiro edifício substituiu esta estação, também em alvenaria e maior, em 1925, já no local onde foi erguida a última estação, em 1963.
As informações constam do relatório final do projeto de iniciação científica da bolsista Camila Teixeira Gonçalves, da Fapesp (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo).
A última estação, que a Prefeitura pretende demolir, foi inaugurada em 31 de dezembro de 1963.
Uma reportagem do jornal O Estado de S. Paulo, de 13 de maio de 1962, informa que a estação teria um total de 1.600 metros quadrados e deveria ser entregue em fevereiro de 1963, mas só o foi em dezembro daquele ano.
Com a retirada dos trilhos do centro da cidade, em 1992, a estação foi desativada e transferida para uma nova, Ferdinando Laboriaux, que hoje está praticamente abandonada. O transporte ferroviário de passageiros foi extinto três anos depois, por causa do baixo interesse no modal como meio de transporte.