Uma idosa com uma bandeja na mão chama a atenção de quem passa pelo cruzamento da Avenida José Ferreira Batista com a Rua Clóvis Pestana, no Jardim Ipanema, em Araçatuba.
É a dona Aparecida Rodrigues Alves, que na próxima terça-feira (12) completará 68 anos de idade. Ela passou a vender pipoca doce na rua para ajudar nas despesas de seu tratamento contra o câncer de mama, descoberto há pouco mais de um ano.
Natural de Tupã, ela decidiu vir para Araçatuba, onde fica hospedada na casa de uma sobrinha, para vender seus doces e juntar um dinheirinho para cuidar de sua saúde. Ela até tentou comercializar seus produtos em sua cidade natal, de 66 mil habitantes, aproximadamente, mas disse que não teve sucesso.
“É uma cidade pequena, as pessoas não compram, por isso resolvi ficar na casa da minha sobrinha e vender as pipocas para ter uma renda”, explicou. Ela está em Araçatuba há três meses.
Todos os dias, de segunda a sexta, ela sai de casa no final da tarde, e conta com a solidariedade dos motoristas que passam pelo local para vender os saquinhos de pipoca que ela mesma prepara.
De um lado para o outro da via, entre os carros, ela segue oferecendo os doces e, na maioria das vezes, consegue vender entre 15 a 20 saquinhos por dia, entre às 17h e 20h. Cada um sai por R$ 2,00.
DESPESAS
Dona Aparecida faz o seu tratamento em Tupã. O remédio mais caro, que custa R$ 400,00, ela ganha de seu médico oncologista.
Mas ela precisa cuidar de sua alimentação, que deve ser rica em frutas e verduras, além de pagar as despesas de água, luz e aluguel de sua casa em Tupã. Sem contar os medicamentos para dor que, vez ou outra, precisa comprar.
Antes de descobrir a doença, ela sobrevivia vendendo roupas, acessórios e bijuterias. Mas precisou parar para fazer as sessões de quimioterapia, durante nove meses, e as 35 de radioterapia.
Desde então, conta apenas com o auxílio-doença do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS), de pouco mais de R$ 1.000,00, valor insuficiente para cobrir todas as suas despesas.
SOLIDARIEDADE
No tempo em que a reportagem acompanhou dona Aparecida em seu trabalho, a idosa ouviu muitos nãos.
De outro lado, muita gente demonstrou solidariedade, embora ela não exponha seu problema para todos, até porque o pouco tempo entre o fechamento e a abertura do semáforo não permite um bate-papo prolongado.
Uma motorista que seguia em um carro luxuoso fez questão de dar os R$ 2,00 à idosa, mas não quis levar o doce, preferiu doar o dinheiro para ajudar. Outro senhor pagou e levou o doce logo que a idosa ofereceu.
Entre idas e vindas de Araçatuba a Tupã, para prosseguir com o tratamento, que deve durar ao menos cinco anos, dona Aparecida pretende continuar vendendo sua pipoca doce no mesmo lugar, no movimentado cruzamento que leva a condomínios da zona norte de Araçatuba.