A senhora de 78 anos não via a hora de chegar em casa para preparar o jantar com alimentos conseguidos de doações, naquele 18 de outubro, após um longo dia de trabalho marcado pelo calor do ferro de passar.
No entanto, antes de chegar em casa, no bairro Mão Divina, em Araçatuba, a idosa não imaginava que ainda teria que esperar na fila de atendimento emergencial do Pronto Socorro de Araçatuba.
Um acidente na descida de um ônibus da TUA (Transportes Urbanos Araçatuba), empresa que detém a concessão do transporte público na cidade, atrasou não só o jantar, mas o dia-a-dia da aposentada Maria Alves Ferreira, que reside sozinha em uma casa simples na rua Marcelino Stopa e sobrevive, basicamente, do que ganha com os bicos de ‘passadeira de roupas’.
O drama de dona Maria Alves começou no final da tarde do último dia 18, ao tentar desembarcar de um ônibus da TUA na rua Paulino Gato, a cerca de três quadras de casa.
No momento da saída, dona Maria alega ter alertado o motorista que estava em processo de saída no ônibus. No entanto, antes de descer, a porta do coletivo foi fechada prendendo um dos pés da idosa.
Desequilibrada, a mulher foi derrubada no chão, entre o ônibus e o meio-fio da rua.
“Não me lembro de quase nada, só sei que ventava muito e eu ouvia muitos gritos, mas não sei o que realmente estava acontecendo”, diz dona Maria, em um esforço de buscar na memória alguma informação sobre o momento do acidente.
Testemunhas, entre elas o filho da moradora, ajudam a recompor o que ocorreu na hora do acidente.
Com a queda da idosa no chão ao lado do ônibus, populares gritaram para que o motorista parasse. O condutor do coletivo teria seguido por várias ruas até encontrar a garagem da empresa, no bairro Jardim do Trevo, a cerca de dois quilômetro do local do acidente.
A idosa foi socorrida pela equipe de resgate do Corpo de Bombeiros de Araçatuba. Medicada no Pronto Socorro Municipal, ela foi liberada para voltar para casa horas depois, quase na madrugada do dia 19 de outubro.
Indignados, familiares da dona Maria Alves registraram o boletim de ocorrência na polícia e procuraram a reportagem do Regional Press.
Um dia após o acidente, dona Maria Alves recebeu a reportagem do RP10 em sua casa. Ainda sem poder andar, a idosa agradeceu a Deus por estar viva após um acidente tão perigoso.
A aposentada tem motivos para se preocupar. Há cerca de três anos, um neto de dona Maria Alves morreu em um fatídico acidente de moto em uma estrada de terra na zona rural de Araçatuba. No retorno do trabalho, o jovem, que tinha apenas 18 anos, colidiu com um caminhão.
A morte foi instantânea e a fatalidade nunca saiu da mente da avó, que ainda chora ao relembrar o dia em que perdeu o neto.
Hoje, a idosa luta para sobreviver em meio as tristes lembranças, mas não perde a esperança. Ela pensa em se recuperar o quanto antes para voltar a passar roupas na casa das pessoas e, assim, garantir os trocados para a alimentação e as contas básicas de água e luz.
Perguntada sobre as despesas do próximo mês, a idosa se perde nos próprios pensamentos. “Não sei o que vai acontecer”, diz. “Espero ter forças para voltar a trabalhar”.
Dona Maria sofreu uma luxação na perna direita além de hematomas pelo corpo. Por enquanto, ela não pode se locomover sozinha. Parentes tentam conseguir a doação de um andador e um ventilador simples (que podem ser usados), além de mantimentos básicos.
Dona Maria Alves revela que não pretende deixar o lar, solitário, mas ainda repleto de lembranças vivas do neto falecido num trágico acidente de trânsito.
TUA
Na segunda-feira (22), o Regional Press entrou em contato com a TUA por telefone, por e-mail e pelo canal de atendimento disponível no site da empresa.
No entanto, até a tarde desta terça-feira (23) nenhuma resposta havia sido dada pela TUA sobre os questionamentos acerca do acidente e suas consequências.
Se a empresa se pronunciar, a resposta será publicada na íntegra.
Assista a entrevista com dona Maria Alves: