Na segunda-feira diversos internautas começaram a relatar nas redes sociais que sentiram um tremor de terra, e o assunto começou a ganhar força chegando a ser mencionado que teria ocorrido u pequeno terremoto na região. A reportagem do jornal O Liberal foi investigar o caso e apurou que não houve registro oficial de qualquer tremor de terra na região. A causa mais provável desta sensação teria sido uma onda de choque provocada pela quebra da barreira do som por algum avião supersônico que passou pela região.
Veja vídeos de aviões provocando onda de choque ao ultrapassar a velocidade do som:
O Centro de Sismologia da Universidade de São Paulo (USP) informou no dia seguinte aos relatos do tremor, que não registrou qualquer fenômeno nas regiões de Andradina e Araçatuba na noite de segunda-feira. O tremor, conforme relato de internautas, foi sentido em várias cidades, como Mirandópolis, Guaraçai, Murutinga do Sul, Andradina, Castilho, Nova Independência e Três Lagoas. As cidades ficam em um raio inferior a 50 quilômetros.
A reportagem do Liberal também apurou que o Centro de Sismologia da USP tem um sismógrafo instalado em Pacaembu, a 100 quilômetros de Andradina. O centro integra a Rede Sismográfica Brasileira (RSBR). “Qualquer atividade sísmica é registrada automaticamente”, disse o representante do centro. Microtremor (abaixo de 1 na escala Richter) pode não ser registrado devido a outros fatos, como trânsito em rodovias e atividade rural.
Segundo a fonte do Centro de Sismologia da USP, como tremor foi sentido em cidades que estão em linha reta, pode ter ocorrido uma onda de choque pela “quebra da barreira do som”. Um avião supersônico, voando a baixa altitude, pode provocar isso – vibrações como tremores e barulho. Já houve caso – em Brasília – de quebra de vidros pelo deslocamento de ar dos aviões Mirage da Força Aérea Brasileira.
Nota do RSBR
Por meio de nota, o professor Marcelo Assumpção, do Centro de Sismologia, fez esclarecimentos.
“1) Nenhum tremor de terra foi registrado na noite do dia 29/01 pelas estações da Rede Sismográfica Brasileira (RSBR) localizadas em Pacaembu (80 km a sul de Andradina), Iturama (170 km a norte) ou Bebedouro (300 km a leste). Isso significa que, caso tivesse ocorrido um tremor de terra propriamente, este seria de magnitude bem pequena, menor do que 2 na escala Richter.
2) A área de percepção, de Três Lagoas a Mirandópolis, tem uma extensão de 75 km (Fig. 1). Um tremor de terra sentido numa área tão grande teria necessariamente uma magnitude acima de 3,0 na escala Richter e teria sido registrado por várias estações da RSBR até pelo menos 500 km de distância.
3) Sabemos, portanto, que não foi um tremor de terra com origem na crosta terrestre. Não temos uma explicação para este tipo de fenômeno. Porém, uma possível causa, ainda a ser investigada, seria quebra de barreira do som por algum jato da Força Aérea Brasileira.” (Com informações: O Liberal Regional)
Entenda o que é a onda de choque
Quando um objeto qualquer, como um avião, se desloca na atmosfera, ele comprime o ar à sua volta – principalmente à frente. Desta forma, são criadas ondas de pressão, da mesma maneira como a pedra atirada no lago.
Quando um avião voa a uma velocidade inferior à do som, as ondas de pressão viajam mais rápido, espalhando-se para todos os lados, inclusive à frente do avião. Assim, o som vai sempre à frente.
Se o avião acelerar para uma velocidade igual a do som (Mach 1), ou seja, da velocidade de deslocamento de suas ondas de pressão, este estará comprimindo o ar à sua frente e acompanhando as ondas de pressão (o seu próprio som) com a mesma velocidade de sua propagação. Isso resulta num acúmulo de ondas no nariz do avião.
Se o avião persistir com essa velocidade exata por algum tempo, à sua frente se formaria uma verdadeira muralha de ar, pois todas as ondas formadas ainda continuariam no mesmo lugar em relação ao avião. Esse fenômeno é conhecido como “Barreira Sônica”.
Se o avião continua a acelerar, ultrapassando a velocidade do som, ele estará deixando para trás as ondas de pressão que vai produzindo. Um avião só pode atingir velocidades supersônicas se, entre outras coisas, sua aceleração permitir uma passagem rápida pela velocidade de Mach 1, evitando a formação da Barreira Sônica.
Por sua vez, quando o ar em fluxo supersônico é comprimido, sua pressão e densidade aumentam, formando uma onda de choque. Em voo supersônico, com velocidades acima de Mach 1, o avião produz inúmeras ondas de choque, sendo mais intensas as que se originam no nariz do avião, nas partes dianteira (bordo de ataque) e posterior (bordo de fuga) das asas e na parte terminal da fuselagem.
As ondas de choque geradas por um avião em voo supersônico atingirão o solo depois da passagem do avião que as está produzindo, pois esse é mais veloz. Um observador no solo ouvirá um forte estampido assim que as ondas de choque o alcançarem. Esse estampido é conhecido como estrondo sônico, e sua intensidade depende de vários fatores, tais como dimensões do avião, forma, velocidade do voo e altitude.
Tal fenômeno pode, em certas circunstâncias, ser forte o suficiente para produzir danos materiais no solo, como quebra de vidros, rachaduras em paredes, muros e outros estragos. Essas possibilidades limitam a operação de voos em velocidades supersônicas sobre os continentes