A série de reportagens “O Segredo dos Deuses”, produzida pela TVI, fez mais uma grave acusação contra a Igreja Universal do Reino de Deus (IURD) nesta terça-feira (19). Desta vez, a produção que denuncia ao mundo a existência de uma rede de internacional de tráfico de crianças ligada à IURD afirmou que a filha mais velha do bispo Edir Macedo, Cristiane Cardoso, também adotou uma criança portuguesa de forma suspeita, há cerca de 20 anos.
Nas reportagens anteriores, a filha mais nova do líder da Universal, Viviane Freitas, já havia sido acusada de “raptar” duas crianças de Portugal e levá-las de forma suspeita para os Estados Unidos. Louis Carlos de Andrade e Vera de Andrade, que viviam no lar de crianças cuidado pela IURD em Lisboa, teriam sido escolhidos por fotografia pela filha caçula do bispo e adotados ilegalmente por uma terceira pessoa, uma espécie de “laranja” de Viviane e do seu marido Júlio Freitas, de modo irregular.
No programa desta noite, Clara (nome fictício), mãe dos garotos Luis Filipe e Pedro Alexandre declarou não ter desistido da guarda dos filhos e não ter sido consultada ao longo do processo de adoção. Outra mãe que teve o filhos colocados “temporariamente” no lar de crianças, duas décadas atrás, só veio a ter notícias dos filhos após a investigação jornalística.
Segundo a mulher, seus filhos teriam sido deixados no lar de crianças por sua mãe, que era seguidora da Igreja Universal. A promessa era de que as crianças receberiam assistência até que Clara retomasse a sua vida, após a separação de um marido violento e abusivo – que a mantinha como refém em casa, obrigando-a a se drogar e a se prostituir.
A mulher teria chegado a visitar os filhos três vezes, até as crianças desaparecerem definitivamente. Três meses após a filha de Edir Macedo escolher o filho adotivo por fotografia, o caçula de Clara, Luis Filipe, foi levado para Londres sem qualquer consentimento da sua parte. O filho mais velho, Pedro Alexandre, teria sido encaminhado para outro bispo e para a ex-diretora do lar de crianças, também a mando do bispo Edir Macedo.
“A IURD, a Igreja, os bispos, os pastores, aquela seita toda que pertence a IURD roubaram os meus filhos”, disse a entrevistada. Ela conta que deixou os filhos na casa dos seus pais enquanto tentava passar por um período de desintoxicação, mas a mãe, muito ligada à Igreja, é suspeita de ajudar a fraudar a adoção ilegal. “Era um bebê que todo mundo queria: lindo, de olho azul, loirinho, muito mimoso e dengoso”, completou uma ex-funcionária do lar, que teria cuidado das crianças tratadas nas reportagens.
A versão contada no blog da filha de Edir Macedo, Cristiane Cardoso, já mostra a irregularidade da “escolha” da criança para adoção – quando a regra seria exatamente o contrário. Em suas palavras, ela lembra que recebeu a foto da criança no final de 1996 e que, “coincidentemente”, pouco tempo depois foi procurada pelo seu pai, o bispo, que lhe falou sobre a mesma criança.
“Em janeiro meu pais me ligaram para falar de um menino sério, que não falava com ninguém (…). Acreditem se quiser, era o mesmo menininho da foto”, conta Cristiane Cardoso em seu blog. A filha de Edir Macedo, que trabalha na Rede Record de Comunicação – parte do patrimônio do bispo – em março do ano seguinte já estaria vivendo com a criança em Londres. Um processo recorde, de três meses, incomum aos trâmites de adoção, sobretudo de crianças com menos de três anos, que costuma demandar até cinco anos de espera aos casais interessados.
A reportagem ainda acusa da IURD, com base em documentos pesquisados ao longo de sete meses, de montar um esquema aparentemente legal para facilitar a adoção de Luis Filipe por Cristiane Cardoso, inclusive com uma assinatura “forjada” da mãe da criança em documento referente ao consentimento da adoção. A suposta mãe biológica garante que nunca assinou nada e que sequer foi ouvida em tribunal
“Nunca na minha vida estive sentada no tribunal, nem perante juiz, advogados… Nunca assinei nada, nunca ninguém pre procurou para assinar um papel, fosse o que fosse”, disse a suposta mãe de Luis Filipe e Pedro Alexandre. “Alguém o fez por mim”, acrescentou a mulher, que desconfia que a própria mãe, avó das crianças e fiel à Igreja Universal, esteve envolvida no processo de falsificação.
Rejeitado pela filha do bispo, o irmão mais velho de Filipe, Pedro Alexandre, na época com seis anos, teria sido adotado por outro casal da Igreja, o bispo Sidney e Jaqueline, ex-diretora do lar de crianças. Uma ex-funcionária do lar declarou que o casal, que já tinha filho, foi praticamente “forçado” a adotar o garoto a mando de Edir Macedo.