Após 23 anos de expansão, mercado de cosméticos e perfumaria sentiu queda de 6,7% nas vendas entre 2014 e 2015, mas se recuperou e fechou 2016 no azul
Apesar dos números negativos da econômica brasileira nos últimos anos, o setor de beleza desfruta de uma situação mais confortável que os demais e está superando a crise sem grandes abalos: após 23 anos de grande expansão, sentiu uma queda de 6,7% nas vendas entre 2014 e 2015, mas se recuperou e fechou 2016 no azul. De acordo com a Associação Brasileira da Indústria de Higiene Pessoal, Perfumaria e Cosméticos (Abihpec), o brasileiro destina cerca de 2% do seu orçamento a itens destas categorias, o que gera um movimento anual de R$ 100 bi. O país é hoje o quarto maior consumidor de produtos de higiene e beleza no mundo, ficando atrás de Estados Unidos, China e Japão.
Este potencial de consumo é um dos fatores que tornam o setor um dos mais sólidos da economia. No ano passado, apenas 3,7% das empresas do mercado de estética, por exemplo, apresentaram falência, ante os 24% de empresas de outras áreas. Mesmo com mais saúde financeira, o presidente da Abihpec, João Carlos Basílio, disse recentemente em entrevista ao jornal Valor Econômico que “é preciso dialogar mais com a realidade da situação delicada que o país está vivendo de forma fiscal”. Ele se refere à maior queixa do setor, a simplificação tributária.
Burocracia e prejuízo
De acordo com o Banco Mundial, as empresas brasileiras consomem em média 2038 horas por ano na administração de pagamento de impostos. Na França são 139 e nos Estados Unidos, 175, para comparar. Entretanto, Basílio diz que estamos longe desta simplificação. Para ele o primeiro passo é estabilizar o sistema, que possui um ambiente burocrático bastante complicado (as obrigações acessórias), e só depois alterá-lo. Se a empresa não as cumpre da forma como estão o resultado é prejuízo: multa e até paralização da operação. Além de produzir para o consumo nacional, o Brasil exporta para 142 países e importa de 65 e a burocracia é um obstáculo nas relações comerciais internacionais.
O ministro Marcos Pereira, da Indústria, Comércio Exterior e Serviços, afirmou em artigo publicado no jornal O Globo que está empenhado em promover um ambiente comercial desburocratizado. “O governo tem intensificado as frentes de negociações comerciais para ampliar a integração da nossa economia ao mundo”, referindo-se aos acordos bilaterais sobre investimentos, compras governamentais, serviços e convergência regulatória com outros países. “É nesse cenário que se inserem os esforços de facilitação de comércio, com vistas a reduzir a burocracia e custos nas exportações e importações brasileiras”, afirma o ministro, o que garantiria prazos céleres e previsibilidade, fatores tão importantes quanto preço e qualidade no mercado.
Mudanças
Entrou em vigor em janeiro deste ano a Lei do Salão Parceiro, que apresenta um modelo novo de negócios com segurança jurídica para os profissionais e proprietários de salão, tipo de serviço que soma 600 mil unidades no país. Manicures, depiladoras, maquiadores e cabeleireiros são agora considerados profissionais autônomos, podendo trabalhar com as regras da CLT ou em parceria, como microempreendedor individual. Os salões também começam a sentir este ano a mudança na tributação de impostos, uma vez que os valores recebidos pelos profissionais atuando em parceria não mais comporão a receita bruta do salão, pois os custos tributários serão separados.
Mais uma mudança que mexerá com os salões é a emissão de certificação dos estabelecimentos de acordo com a ABNT (Associação Brasileira de Normas Técnicas), que prevê boas práticas de atendimento, higienização de instalações, treinamento de parceiros, esterilização de utensílios e outros.
Perfumaria em Araçatuba
Para a empresária Drika Marini, proprietária de uma loja de perfumes importados em Araçatuba, o cenário econômico precisa e vai mudar neste ano. “Dá para perceber que, aos poucos, o mercado está reagindo, mas ainda timidamente”, afirma. O fato é que 2016 não foi um período tão bom para ela, que abriu sua primeira loja há seis anos. Por causa da recessão, Drika teve que repensar o planejamento e, assim, teve que investir no sistema de venda consignada.
Hoje, além da venda tradicional na loja, que fica na rua General Glicério, 972, no Centro da cidade, Drika leva os produtos até o cliente, oferecendo, dessa forma, um diferencial de comodidade. “Se o cliente não tem tempo para vir à loja, nós vamos até ele. Esse delivery foi a solução que encontramos para reduzir custos e aumentar as vendas”, explica Drika, que revela que para se manter competitivo é preciso ser criativo e se reinventar. “Também fazemos promoções constantemente para atrair o consumidor. Investimos alto em perfumes de primeira linha e precisamos fazê-los girar”. Neste ano, a empresária espera aumentar pelo menos 10% das vendas em relação ao ano passado.
A questão tributária também incomoda Drika, que classifica a situação como o grande gargalo do setor. “É muito imposto comprimindo o nosso lucro, o que acaba desanimando, pois o esforço é enorme, para, no final das contas, ter que dividir com resultado com o governo”, critica. Para ela, a desoneração é necessária, principalmente neste momento de crise. Só assim Drika poderá contemplar o “efeito batom”, fenômeno que leva a população a gastar com cuidados pessoais durante períodos de retração econômica.