Arnaldo Jardim é secretário de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo e deputado federal licenciado (PPS-SP)
Passado o turbilhão inicial, é hora de falar da questão da carne, objeto da operação Carne Fraca, da Polícia Federal, deflagrada no dia 17 de março. Aquilo que deveria ser uma apuração pontual para identificar possíveis irregularidades em um ou outro frigorífico, acabou se convertendo em uma condenação irresponsável de um setor e comprometeu um trabalho de anos aqui e no exterior.
Um setor tão importante para o abastecimento mundial de alimentos, o da proteína animal, foi questionado, ficasse sob suspeita. Colocou em risco a atividade, milhares de empregos e muita renda fundamentais para o Brasil todo.
Os frigoríficos que foram investigados pela operação durante dois anos eram apenas 21, em um universo de 4.837 atualmente em atividade no País. Juntos, os investigados pela Polícia Federal são responsáveis por apenas 0,8% da produção nacional.
Neste período da “Carne Fraca”, a Polícia Federal apresentou apenas um laudo, constatando irregularidade em um produto. Ou seja, um detalhe que balança todo o complexo e pujante sistema produtivo da proteína animal no Brasil.
Atividade tão importante que faz do Brasil o maior exportador de proteína animal do mundo. Dados do instituto de Economia Agrícola (IEA) da Secretaria de Agricultura e Abastecimento apontam que a carne bovina é destaque na Balança Comercial do agronegócio paulista, ocupando o segundo lugar.
Em 2016, a exportação paulista de carne totalizou US$ 2,01 bilhões, em que a carne bovina respondeu por 79,4% deste valor. No mesmo período, o Brasil exportou o equivalente a US$ 5,51 bilhões em carne bovina, com o embarque de 1,4 milhão de toneladas.
Somente Hong Kong absorveu 330,5 mil toneladas (23,6% do total exportado pelo Brasil), pagando por elas US$ 1,14 bilhão (20,76% do total faturado em 2016). Já a China comprou 165,7 mil toneladas (11,8%), com desembolso de US$ 706,2 milhões (12,8% do total).
Neste contexto internacional de disputa de mercado, o jogo fica cada vez mais bruto e a questão sanitária é realmente determinante. O Brasil já conta com um sistema de inspeção sanitária que tem garantido diariamente que milhões de pessoas em todo o mundo consumam nossa carne sem problemas.
Mas mesmo assim devemos buscar sempre seu aprimoramento. Aprimorar por respeito à opinião pública, que tende a ser cada vez mais exigente em todos os quesitos como a saudabilidade dos alimentos. Participei em Brasília do lançamento do novo Regulamento da Inspeção Industrial e Sanitária das Propriedades de Origem Animal (Riispoa).
É preciso ter um constante processo de modernização do sistema, fazendo com que um setor como este de produção cada vez maior e mais sofisticado e mais abrangente tenha formas inovadoras e renovadas de fiscalização e controle. O próprio setor tem que fazer um autocontrole, uma autorregulação criteriosa e transparente.
O Governo do Estado de São Paulo, por meio da nossa Secretaria de Agricultura, valoriza essas boas práticas sanitárias com iniciativas como a garantia dada pelo Serviço de Inspeção de São Paulo (Sisp). O consumidor pode consultar os estabelecimentos inspecionados no site da Coordenadoria de Defesa Agropecuária (CDA): www.defesa.agricultura.sp.gov.br.
E para facilitar o cotidiano de produção, desde janeiro de 2017, a Declaração Mensal de Produção (antigo relatório de produção mensal) que os estabelecimentos com registro devem enviar passou a ser realizada pelo sistema informatizado Gedave, facilitando a entrega da declaração, não havendo mais a necessidade de se dirigirem à Defesa para fazê-lo.
Temos também o selo Produto de São Paulo, que faz parte do Sistema de Qualidade de Produtos Agrícolas, Pecuários e Agroindustriais. Foi criado pelo Governo do Estado em 1999 para certificar qualidade em uma verificação do processo produtivo, oferecendo um melhor produto ao consumidor e aumentando a competitividade do agronegócio paulista nos mercados interno e externo.
A adesão ao projeto é voluntária e as normas e padrões de qualidade são estabelecidos por Técnicos da Secretaria de Agricultura e Abastecimento, representantes das cadeias produtivas reunidas nas Câmaras Setoriais, especialistas de universidades e outros técnicos interessados.
Tudo isso é necessário para proteger o consumidor, defender a nossa carne, a produção de proteína, fazer com que esta atividade que alimenta a todos, alimenta o mundo, seja valorizada e cada vez mais fortalecida. Esta é uma questão de honra importante para a agropecuária paulista e brasileira.