A queda de 3,6% do PIB em 2016, divulgada esta semana, confirmou a pior recessão da história do Brasil. O governo, contudo, considera que o pior já passou. Há, de fato, indícios de recuperação, mas ainda tímida, restrita a alguns setores – e sujeita a turbulências na condução da política econômica.
O PIB é uma conta feita pelo IBGE com base no ritmo da produção de bens e serviços no ano, trimestre a trimestre, mas não é o único indicador analisado por economistas. Além dos dados que olham para o desempenho passado da economia, há levantamentos setoriais específicos que servem de termômetro para avaliar a situação atual e futura da economia.
Esses indicadores são divulgados mensalmente. No caso do PIB, que é um cálculo bastante abrangente, o resultado demora mais de dois meses para vir a público. Os dados setoriais, entretanto, precisam ser analisados em seu conjunto.
Ao contrário do consumo de doméstico de energia, que pode variar mês a mês por fatores como temperatura, um aumento na utilização pelas indústrias indica que as empresas estão produzindo mais. “A indústria usa, em maior ou menor grau, energia elétrica. São raros os setores que não usam”, explica Flavio Castelo Branco, gerente executivo da Unidade de Política Econômica da Confederação Nacional da Indústria (CNI).
O papelão ondulado é utilizado para fazer embalagens de produtos finais, e o aumento das vendas desse item indica maior atividade em um futuro próximo. “É um indicador precursor da atividade. Temos que analisar a economia como uma cadeia de valor”, diz Paulo Vicente, da Fundação Dom Cabral. Os resultados positivos em janeiro e fevereiro após quatro meses seguidos de queda são um bom sinal, mas é preciso que esse comportamento de alta se mantenha.
O fluxo de veículos que pagam pedágios nas rodovias é um indicador de movimentação de pessoas e mercadorias. Enquanto a circulação de veículos pesados indica maior movimentação de mercadorias (o que está relacionado à produção), o de leves indica movimento de consumidores e de profissionais, o que está ligado tanto ao consumo quanto a atividade. “De modo geral, o resultado mensal negativo evidencia a presença de restrições macroeconômicas que impedem que o indicador delineie sistemática melhora no curto prazo”, diz Rafael Bacciotti, economista da Tendências Consultoria, que faz o índice junto com a ABCR, em nota da instituição sobre o indicador do mês.
A indústria automobilística tem grande peso na economia porque é uma grande empregadora e carros e caminhões envolvem a participação de vários outros setores – como fornecedores de peças e prestadores de serviços. O setor automotivo foi um dos que ajudou a puxar produção industrial para cima após 34 meses seguidos de queda.
A produção tem surpreendido positivamente nos últimos meses, mas as vendas ainda em queda podem ser preocupantes. ” A expectativa é que elas acompanhem a recuperação da produção. Provavelmente, vai haver devolução desse ganho de produção por causa dos estoques”, analisa Julio Mereb, pesquisador do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (Ibre/FGV).
A confiança da indústria é uma pesquisa feita junto às empresas para identificar suas expectativas para o futuro da economia. Os empresários respondem a um questionário avaliando o presente e as expectativa para itens como sua produção, utilização da capacidade e demanda pelos produtos. Quanto maior o índice, mais chances de que as empresas vão fazer investimentos ou contratar.
A queda em fevereiro pode indicar uma correção nas avaliações, mas o otimismo tem subido nos últimos meses. “Após avançar além do que os fundamentos da economia sugeriam entre abril e setembro do ano passado, o índice encontra-se agora em patamar mais realista. O cenário econômico (…) pode levar a novos ganhos de confiança, caso o ambiente político não se deteriore nos próximos meses”, analisou Aloisio Campelo Junior, Superintendente de Estatísticas Públicas da FGV, em nota da fundação sobre o indicador.