Tive a oportunidade de participar em São Paulo no último dia 6 do seminário “O Cooperativismo e os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável – Combinando Impacto Econômico e Social por um Futuro Melhor”. Um importante evento promovido pela Organização das Cooperativas do Brasil (OCB), Organização das Cooperativas do Estado de São Paulo (Ocesp) e Unimed Brasil com a presença da direção da Aliança Cooperativista Internacional, composta por líderes de 30 países de todos os continentes.
A Aliança incorpora o desenvolvimento sustentável como princípio do sistema cooperativista, além da ideia de cooperação entre as organizações. Isso tem sido garantia para que o cooperativismo se mantenha atualizado e jovem. Anteriormente, as relações internacionais eram entre países, e a nova dinâmica que se estabeleceu no mundo faz com que essa relação seja entre entidades, cooperativas, organizações não-governamentais.
Nós somos aqueles que depois de todo o debate que se teve sobre o sistema soviético de produção, vimos o capitalismo ficar muitas vezes como o único referencial do ponto de vista econômico e social. Acredito que isso precisa ser mediado, equilibrado. E exatamente quem tem a função de fazer isso, eu não tenho dúvida, é o cooperativismo.
Isso porque ele mantém o espírito de iniciativa que, por um lado, preserva a capacidade de empreender, mas, por outro lado, agrega do ponto de vista da distribuição de seus resultados o conceito de partilhar e de diminuir a concentração de renda.
E no Estado de São Paulo, nós temos o privilégio de ter um cooperativismo pujante, com direito a uma lei de apoio ao cooperativismo. De minha autoria, a Lei nº 12.226/2006 foi sancionada pelo governador Geraldo Alckmin instituindo a Política Estadual de Apoio ao Cooperativismo no Estado. Instrumento importante para incentivar a união e superar dificuldades.
Na agropecuária, mesmo com margens afetadas por custos em alta e cenário de crise ainda contaminando a economia brasileira, as grandes cooperativas agrícolas do Brasil conseguiram elevar suas receitas em até 15% em 2016. As 70 maiores do ramo agropecuário faturaram cerca de R$ 123 bilhões, uma alta de 15% em relação a 2015, segundo estimativa da OCB.
Um fator, ainda que não isolado, que ajudou a explicar o aumento da receita das cooperativas: a crise estimulou produtores a se juntarem a cooperativas, o que fez o número como um todo retomar patamares vistos em 2013, quando superou 1 milhão de associados. Entre 2014 e 2015, última atualização feita pela OCB, a quantidade de cooperados nesse segmento subiu 2,3% – para 1,016 milhão.
Já o número de cooperativas pouco mudou nesse período: em 2015, o Sistema OCB contabilizou 1.555 vinculadas ao segmento agropecuário no País. Isso mostra que, em anos de crise, as cooperativas sempre crescem sua base de cooperados, pois o produtor prefere entregar seu produto a uma cooperativa a continuar independente e exposto às incertezas econômicas.
Em um mundo atual talvez o maior debate seja sobre a globalização, os movimentos que a questionam se multiplicam, e eu temo que isso muitas vezes seja como remar contra a corrente. O mundo integrado, com as modernas formas de comunicação e fluidez do capital está cada vez mais integrado. Não há como negar isso.
Mas é preciso equilíbrio para que essa questão não signifique monopólios ou grandes oligopólios excludentes do ponto de vista da economia e da sociedade. E como se contrapor a isso? Com instrumentos eficazes como o cooperativismo.
O conceito de desenvolvimento sustentável, de multiplicar as parcerias entre associações que possam se constituir como essa alternativa me deixa muito entusiasmado. Ainda mais em ver que a Aliança Cooperativista Internacional está colocando isso como pauta e diretriz.
É o que nós precisamos fazer para permitir que a constante integração e globalização não signifique exclusão, concentração, mas que possa ser exatamente um desenvolvimento equilibrado, economicamente distributivo e cheio de oportunidades.
Temos as ferramentas que nos possibilitam isso. Vamos trabalhar!
*Arnaldo Jardim é deputado federal licenciado (PPS-SP) e secretario de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo