Isabela, filha de PMs, nasceu com má formação no intestino, o que impossibilita a alimentação por via oral. Com ajuda da própria PM e da sociedade, os pais arrecadaram o dinheiro necessário para a cirurgia
Policiais militares já lidam diariamente com muitos desafios próprios da profissão. Garantir a segurança e proteção à vida de pessoas que nem conhecem é a missão diária deles. Mas, e quando o desafio está dentro de casa? Esse é o caso dos cabos Sanvio Ponte e Gláucia Diringer.
Eles são pais de Isabela, de 12 anos, e se viram com o maior de suas missões: correr contra o tempo para salvar a vida da filha. Ela nasceu com gastrosquise, uma doença rara que faz com que o intestino delgado se desenvolva fora do corpo do bebê durante a gestação.
Segundo os médicos, o caso da pequena Isa é complexo, pois a má formação fez com que ela perdesse parte do órgão, ficando com apenas 17 cm de intestino – quando o normal é de 6 a 9 metros. Essa condição não permite que ela se alimente normalmente, pela via oral, restando apenas a alimentação por sonda feita através da inserção de um cateter na veia central.
Por conta das várias internações e das sucessivas infecções que contraiu devido ao caráter próprio do órgão, a garota tem altura e desenvolvimento neurológico de uma criança de 6 anos.
Sanvio disse que, para salvá-la, é necessária uma intervenção cirúrgica que só pode ser feita na Inglaterra. Apenas lá há um médico que já tratou de uma brasileira com o mesmo caso, e cuja cirurgia foi bem-sucedida. Porém o custo total do procedimento é de aproximadamente R$ 500 mil.
“A Isa já soma mais de 30 cirurgias, entre as de intestino e de instalação de cateter. Duas foram para o alongamento do órgão, mas em ambas as vezes o intestino dilatou”, conta o pai. “Esse procedimento, que será feito no exterior, tem o risco de dilatação do intestino bem menor”.
Parentes e amigos têm realizado campanhas nas redes sociais para a arrecadação do dinheiro necessário. Os pais ressaltam que, mesmo sem contribuição financeira, qualquer um pode auxiliar. “Fazer orações por ela, além da presença e carinho de quem está por perto sempre ajudam”.
O caso foi amplamente divulgado na mídia, mas muito da ajuda veio por meio das redes sociais. O Facebook foi uma das ferramentas vitais para a divulgação, pois foi por ele que familiares, amigos e até desconhecidos promoveram eventos para arrecadação.
Um desses anônimos solidários foi Mirian de Jesus, de 46 anos. Ela, que até então era apenas mais um contato da rede social, se engajou no caso. A administradora conta que não conhece pessoalmente a pequena Isa e nem os pais, mas teve descobriu a situação por meio do garoto Guilherme.
Também filho de PMs, Guilherme precisava de um transplante de coração ou um novo procedimento. Assim como o caso da Isabela, a família do jovem também arrecadou dinheiro para o tratamento, porém um doador surgiu antes que fosse necessária uma nova intervenção.
A família do rapaz repassou a quantia de R$ 248 mil que adquiriu das doações para ajudar a menina.
“Comovida e inconformada que uma criança tenha uma vida restrita por falta de dinheiro”, foi como Miriam descreveu sua motivação em ajudar, especialmente em ver a generosidade de Guilherme, que fez questão de repassar todo o dinheiro, antes arrecadado para ele, em prol de Isabela.
“Eu e um grupo de amigos fizemos campanhas nas redes sociais, pedindo auxílio direto a empresários e simpatizantes da Polícia Militar”, afirmou.
Ela conta que todas as doações são depositadas em uma poupança criada exclusivamente para o fim. Com os pais ocupados com a saúde da jovem, a administradora ficou responsável por “atualizar” os internautas sobre as quantias.
Na última sexta-feira (6), foi informado que a conta bancária tinha cerca de R$ 425 mil. No dia seguinte, a pequena Isa recebeu a notícia de que já havia ultrapassado a quantia necessária para mudar sua vida.
Ajuda interna
Parte desse dinheiro veio de cerca de 200 policiais militares do Comando de Policiamento de Área Metropolitano 6 (CPA/M-6), responsável pelo Grande ABC. O grupo doou aos pais da Isabela um prêmio de R$ 2.900, ganho em um bolão da quadra da Mega Sena da Virada.
Além do CPA/M-6, grande parte do montante arrecadado veio de centenas de policiais. O Centro de Comunicação Social da PM criou uma campanha interna dentro da própria corporação, por meio da intranet, para informar e motivar os policiais a ajudar.
Emocionados, Gláucia e Sanvio não souberam como agradecer. Mais uma vez, a Polícia Militar do Estado de São Paulo mostrou que sua prioridade é a vida do cidadão.